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Se por desgraça se cai, é preciso levantar-se imediatamente. Com a ajuda de Deus, que não faltará se nos servirmos dos meios, deve chegar-se quanto antes ao arrependimento, à sinceridade humilde, à reparação, de modo que a derrota momentânea se transforme numa grande vitória de Jesus Cristo.

Acostumai-vos também a levar a luta a pontos que estejam longe dos muros capitais da fortaleza. Não se pode andar fazendo equilíbrios nas fronteiras do mal: temos de evitar com firmeza o voluntário in causa*, temos de repelir mesmo o menor desamor; e temos de fomentar as ânsias de um apostolado cristão, contínuo e fecundo, que necessita da santa pureza como alicerce e também como um dos seus frutos mais característicos. Além disso, devemos preencher as horas com um trabalho intenso e responsável, procurando a presença de Deus, porque não devemos esquecer nunca que fomos comprados por um grande preço e que somos templo do Espírito Santo.

E que outros conselhos vos sugiro? Os recursos de que sempre se valeram os cristãos que pretendiam de verdade seguir Cristo, os mesmos que empregaram aqueles primeiros que perceberam o respirar de Jesus: o trato assíduo com o Senhor através da Eucaristia, a invocação filial à Santíssima Virgem, a humildade, a temperança, a mortificação dos sentidos - porque não convém olhar para o que não é lícito desejar, advertia São Gregório Magno - e a penitência.

Dir-me-eis que tudo isso é nada menos que um resumo da vida cristã. Realmente, não é possível separar a pureza, que é amor, da essência da nossa fé, que é caridade, o renovado enamorar-se de Deus que nos criou, que nos redimiu e que nos toma continuamente pela mão, ainda que numa multidão de ocasiões não o percebamos. Ele não nos pode abandonar. Dizia Sião: O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim. Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do filho das suas entranhas? Pois ainda que ela se esquecesse, Eu não te esquecerei. Estas palavras não vos infundem um júbilo imenso?

(*) A expressão voluntário “in causa” é utilizada pela teologia moral para significar a responsabilidade por pecados que, embora não sejam diretamente queridos, decorrem como efeito de outra ação voluntária. Nestes casos, quem quer a causa é moralmente responsável pelos efeitos que ela previsivelmente podia produzir (N. do T.).

Referências da Sagrada Escritura
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