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Acaba de falar da unidade familiar como de um grande valor. Isto me leva a fazer outra pergunta: como é que o Opus Dei não organiza atividades de formação espiritual onde participem juntamente marido e mulher?

Nisto, como em tantas outras coisas, nós, os cristãos, temos a possibilidade de escolher entre várias soluções, de acordo com as preferências ou opiniões próprias, sem que ninguém possa pretender impor-nos um sistema único. É preciso fugir — como da peste — dessa maneira de conceber a pastoral e, em geral, o apostolado, que não parece senão uma nova edição, corrigida e aumentada, do partido único na vida religiosa.

Sei que há grupos católicos que organizam retiros espirituais e outras atividades para casais. Parece-me muitíssimo bem, que usando de sua liberdade, façam o que consideram conveniente e que tomem parte nessas atividades os que nela encontram um meio capaz de os ajudar a viver melhor sua vocação cristã. Mas acho que não é essa a única possibilidade; e nem sequer é evidente que seja a melhor.

Há muitas facetas da vida eclesial que os casais, e inclusive toda a família, podem e, às vezes, devem viver juntos: assim, por exemplo, a participação no Sacrifício Eucarístico e em outros atos do culto. No entanto, penso que determinadas atividades de formação espiritual são mais eficazes se a elas forem separadamente o marido e a mulher.

Por um lado, se realça assim o caráter fundamentalmente pessoal da própria santificação, da luta ascética, da união com Deus, que reverterá a favor dos outros, mas onde a consciência de cada um não pode ser substituída. Por outro lado, assim é mais fácil adequar a formação às exigências e às necessidades pessoais de cada um, e inclusive à sua própria psicologia. Isto não significa que, nessas atividades, se prescinda do estado matrimonial dos assistentes — nada mais longe do espírito do Opus Dei.

Há quarenta anos que venho dizendo, de palavra e por escrito, que cada homem, cada mulher, tem de se santificar em sua vida ordinária, nas condições concretas de sua existência cotidiana; que, por conseguinte, os esposos têm de se santificar vivendo com perfeição as suas obrigações familiares. Nos retiros espirituais e em outros meios de formação que o Opus Dei organiza e a que assistem pessoas casadas, procura-se sempre que os esposos tomem consciência da dignidade de sua vocação matrimonial e que, com a ajuda de Deus, se preparem para vivê-la melhor.

Em muitos aspectos, as exigências e as manifestações práticas do amor conjugal são diferentes para o homem e para a mulher. Com meios de formação específicos, pode-se ajudar cada um a descobri-las eficazmente na realidade da sua vida; de modo que essa separação, de umas horas ou uns dias, fá-los estar mais unidos e amarem-se mais e melhor o resto do tempo: aliás, com um amor cheio de respeito.

Repito que nisto não pretendemos sequer que nosso modo de proceder seja o único bom ou que todo o mundo o deva adotar. Simplesmente, me parece que dá muito bons resultados e que há razões sólidas — além de uma longa experiência — para proceder assim; mas não ataco a opinião contrária.

Além disso, devo dizer que, se no Opus Dei seguimos este critério para determinadas iniciativas de formação espiritual, em variadíssimas atividades de outro gênero os casais participam e colaboram como tais. Penso, por exemplo, no trabalho que se faz com os pais dos alunos em colégios dirigidos por sócios do Opus Dei; nas reuniões, conferências, tríduos, etc. especialmente dedicados aos pais dos estudantes que moram em Residências dirigidas pela Obra.

Como se vê, quando a natureza da atividade requer a presença do casal, são marido e mulher quem participa nestes trabalhos. Mas este tipo de reuniões e iniciativas é diferente das que visam diretamente a formação espiritual pessoal.

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