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Há 3 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Contrição.

Bastam uns traços do Amor de Deus que se encarna, e logo a sua generosidade nos toca a alma, nos inflama, nos arrasta com suavidade a uma dor contrita pelo nosso comportamento, em tantas ocasiões mesquinho e egoísta. Jesus Cristo não tem inconveniente em rebaixar-se, para nos elevar da miséria à dignidade de filhos de Deus, de irmãos seus. Tu e eu, pelo contrário, com freqüência nos orgulhamos nesciamente dos dons e talentos recebidos, até os convertermos em pedestal para nos impormos aos outros, como se o mérito de umas ações, acabadas com uma perfeição relativa, dependesse exclusivamente de nós: Que tens tu que não hajas recebido de Deus? E, se o recebeste, por que te glorias como se não o tivesses recebido?

Ao considerarmos a entrega de Deus e o seu aniquilamento - digo-o para que o meditemos, pensando cada um em si mesmo -, a vanglória, a presunção do soberbo revela-se como um pecado horrendo, precisamente porque coloca a pessoa no extremo oposto ao do modelo que Jesus Cristo nos apontou com a sua conduta. Pensemo-lo devagar. Ele se humilhou, sendo Deus. O homem, empertigado no seu próprio eu, pretende enaltecer-se a todo o custo, sem reconhecer que está feito de mau barro de moringa.

Previne a Escritura Santa que até o justo cai sete vezes. Sempre que li estas palavras, a minha alma estremeceu com uma forte sacudidela de amor e de dor. Com essa advertência divina, o Senhor vem uma vez mais ao nosso encontro, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca terminam. Estejamos certos de que Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece; e conta precisamente com essas fraquezas para que nos tornemos santos.

Uma sacudidela de Amor, dizia-vos. Olho para a minha vida e vejo sinceramente que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais ainda: que sou o nada! Mas Ele é tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou dEle, porque não me rejeita, porque se entregou por mim. Onde contemplastes um amor tão grande?

E uma sacudidela de dor, pois revejo a minha conduta e me assombro com o cúmulo das minhas negligências. Basta-me examinar as poucas horas do dia de hoje, desde que me levantei, para descobrir tantas faltas de amor, de correspondência fiel. Tenho verdadeira pena deste meu comportamento, mas não me tira a paz. Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação. Logo a seguir, recebo a certeza da sua assistência e, no fundo do meu coração, ouço que Ele me repete devagar: Meus es tu!, tu és meu; Eu já sabia - e sei - como és: para a frente!

Não pode ser de outra maneira. Se nos pusermos continuamente na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, pois verificaremos que o seu Amor e o seu chamado permanecem atuais; Deus não se cansa de nos amar. A esperança mostra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem sequer o menor dos nossos deveres; e, com Ele, com a sua graça, as nossas feridas cicatrizam; revestimo-nos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo, e melhoramos. Em resumo: a consciência de estarmos feitos de barro de moringa deve servir-nos sobretudo para robustecermos a nossa esperança em Cristo Jesus.

Os outros discípulos foram com a barca porque não estavam distantes de terra senão duzentos côvados, e tiraram a rede cheia de peixes. Põem imediatamente a pesca aos pés do Senhor, porque a pesca é dEle. Para que aprendamos que as almas são de Deus, que ninguém nesta terra pode avocar a si essa propriedade; que o apostolado da Igreja - a notícia e a realidade da salvação - não se baseia no prestígio desta ou daquela pessoa, mas na graça divina.

Jesus Cristo interroga Pedro três vezes, como se lhe quisesse dar a repetida oportunidade de reparar a sua tripla negação. Pedro já aprendeu, escarmentado à custa da sua própria miséria: consciente da sua debilidade, está profundamente convencido de que sobejam os seus alardes temerários. Por isso coloca tudo nas mãos de Cristo: Senhor, tu sabes que eu te amo… Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo. E que responde Cristo? Apascenta os meus cordeiros; apascenta as minhas ovelhas. Não as tuas, não as vossas; as minhas! Porque foi Ele que criou o homem, Ele que o redimiu, Ele que comprou cada alma, uma a uma, ao preço - repito - do seu Sangue.

Quando os donatistas, no século V, lançavam os seus ataques contra os católicos, sustentavam a impossibilidade de que o bispo de Hipona, Agostinho, professasse a verdade, porque tinha sido um grande pecador. E Santo Agostinho sugeria aos seus irmãos na fé como haviam de replicar: Agostinho é bispo na Igreja Católica. Ele leva a sua carga, de que há de prestar contas a Deus. Conheci-o entre os bons. Se é mau, ele o sabe; se é bom, nem por isso deposito nele a minha esperança. Porque a primeira coisa que aprendi na Igreja Católica foi a não pôr a minha esperança num homem.

Não fazemos o nosso apostolado. Então, como havemos de dizer? Fazemos - porque Deus o quer, porque assim no-lo mandou: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho - o apostolado de Cristo. Os erros são nossos; os frutos, do Senhor.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura