Lista de pontos

Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Dificuldades.

Vamos considerar algumas dessas virtudes humanas. Enquanto eu estiver falando, cada um por sua conta irá mantendo o diálogo com Nosso Senhor. Peçamos-lhe que nos ajude a todos, que nos anime a aprofundar hoje no mistério da sua Encarnação, para que também nós, na nossa carne, saibamos ser entre os homens testemunhos vivos dAquele que veio para nos salvar.

O caminho do cristão - como o de qualquer homem - não é fácil. É certo que, em determinadas épocas, parece que tudo se cumpre segundo as nossas previsões. Mas isso habitualmente dura pouco. Viver é enfrentar dificuldades, sentir no coração alegrias e dissabores, e é nessa forja que o homem pode adquirir fortaleza, paciência, magnanimidade, serenidade.

É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros. O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas bebe as lágrimas. Quando a contradição recrudesce, não se dobra. Recordemos o exemplo daquele ancião, Eleazar, que, segundo o relato do livro dos Macabeus, prefere morrer a violar a lei de Deus: Morrendo valorosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice e deixarei aos jovens um exemplo de fortaleza, se sofrer com ânimo pronto e constante uma honrosa morte em defesa de leis tão graves e tão santas.

Ao ler a Epístola de hoje, via eu Daniel metido entre aqueles leões famintos, e, sem pessimismo - não posso dizer que qualquer tempo passado foi melhor, porque todos os tempos têm sido bons e maus -, considerava que também nos momentos atuais andam muitos leões à solta, e nós temos que viver nesse ambiente. Leões que buscam a quem devorar: tamquam leo rugiens circuit quaerens quem devoret.

Como evitaremos essas feras? Talvez não ocorra conosco o que ocorreu com Daniel. Eu não sou milagreiro, mas amo essa grandiosidade de Deus e penso que lhe teria sido mais fácil aplacar a fome do profeta ou então pôr-lhe alguma comida na frente; e não o fez. Dispôs que outro profeta, Habacuc, se deslocasse milagrosamente da Judéia para levar-lhe a comida. Não se importou de fazer um milagre grande, porque Daniel não se achava naquele poço porque sim, mas por uma injustiça dos sequazes do demônio, por ser servidor de Deus e destruidor de ídolos.

Nós, sem portentos espetaculares, com a normalidade de uma vida cristã corrente, com uma semeadura de paz e de alegria, temos que destruir também muitos ídolos: o da incompreensão, o da injustiça, o da ignorância, o da pretensa suficiência humana que vira com arrogância as costas a Deus.

Não vos assusteis, não temais nenhum mal, ainda que as circunstâncias em que trabalhais sejam terríveis, piores que as de Daniel no fosso, com aqueles animais vorazes. As mãos de Deus são igualmente poderosas e, se for necessário, farão maravilhas. Fiéis!, com uma fidelidade amorosa, consciente e alegre, à doutrina de Cristo, persuadidos de que os anos de agora não são piores que os de outros séculos e de que o Senhor é o mesmo de sempre.

Conheci um sacerdote ancião que afirmava - sorridente - de si mesmo: Eu estou sempre tranqüilo, tranqüilo. E assim temos nós que estar sempre, metidos no mundo, rodeados de leões famintos, mas sem perder a paz: tranqüilos. Com amor, com fé, com esperança, sem esquecer nunca que, se for conveniente, o Senhor multiplicará os milagres.

Endeusamento bom: Esperem em ti - canta o Ofertório - todos os que conhecem o teu nome, Senhor, porque nunca abandonas os que te procuram. E vem o regozijo deste barro cheio de grampos, porque Ele não se esqueceu das orações dos pobres, dos humildes.

Não concedamos o menor crédito aos que apresentam a virtude da humildade como apoucamento humano ou como uma condenação perpétua à tristeza. Sentir-se barro, recomposto com grampos, é fonte contínua de alegria; significa reconhecer-se pouca coisa diante de Deus: criança, filho. E há maior alegria que a de quem, sabendo-se pobre e fraco, se sabe também filho de Deus? Por que é que nós, os homens, nos entristecemos? Porque a vida na terra não se desenvolve como nós pessoalmente esperávamos, porque surgem obstáculos que impedem ou dificultam que levemos a cabo o que pretendemos.

Nada disto acontece quando a alma vive a realidade sobrenatural da sua filiação divina. Se Deus está por nós, quem contra nós? Que estejam tristes os que se empenham em não reconhecer-se filhos de Deus, venho repetindo desde sempre.

Para terminar, descobrimos na liturgia de hoje duas orações que hão de sair como setas da nossa boca e do nosso coração: Concedei-nos, Senhor Todo-Poderoso, que, realizando sempre os divinos mistérios, mereçamos abeirar-nos dos dons celestiais. E: Nós vos rogamos, Senhor, que nos concedais servir-vos constantemente segundo a vossa vontade. Servir, servir, meus filhos; isto é o que nos toca; ser criados de todos, para que nos nossos dias o povo fiel aumente em mérito e número.

É possível que, já desde o princípio, se levantem grandes nuvens de pó e que, ao mesmo tempo, os inimigos da nossa santificação empreguem uma técnica tão veemente e tão bem orquestrada de terrorismo psicológico - de abuso de poder -, que arrastem na sua absurda direção mesmo aqueles que durante muito tempo mantinham outra conduta mais lógica e reta. E, embora essa voz soe a sino rachado, que não foi fundido com bom metal e é bem diferente dos assobios do pastor, desse modo aviltam a palavra, que é um dos dons mais preciosos que o homem recebeu de Deus, dádiva belíssima para manifestar altos pensamentos de amor e de amizade ao Senhor e às suas criaturas; a tal ponto que se chega a entender por que São Tiago diz da língua que ela é um mundo inteiro de malícia, tantos são os males que pode causar: mentiras, detrações, desonras, embustes, insultos, murmurações tortuosas.

Mas não esqueçamos que estar com Jesus é, certamente, topar com a sua Cruz. Quando nos abandonamos nas mãos de Deus, é freqüente que Ele nos permita saborear a dor, a solidão, as contradições, as calúnias, as difamações, os escárnios, por dentro e por fora: porque quer moldar-nos à sua imagem e semelhança, e tolera também que nos chamem loucos e que nos tomem por néscios.

É a altura de amar a mortificação passiva, que vem - oculta ou descarada e insolente - quando não a esperamos. Chegam a ferir as ovelhas com as pedras que se deveriam atirar aos lobos: o seguidor de Cristo experimenta na sua própria carne que aqueles que deveriam amá-lo o tratam de uma maneira que vai da desconfiança à hostilidade, da suspeita ao ódio. Olham-no com receio, como a um mentiroso, por não acreditarem que possa haver relação pessoal com Deus, vida interior; em contrapartida, com o ateu e com o indiferente, ordinariamente rebeldes e desavergonhados, desfazem-se em amabilidades e compreensão.

E talvez o Senhor permita que o seu discípulo se veja atacado com a arma - nunca honrosa para quem a empunha - das injúrias pessoais; com o uso de lugares comuns, fruto tendencioso e delituoso de uma propaganda massiva e mentirosa: porque o dom do bom gosto e do comedimento não é coisa de todos.

Os que sustentam uma teologia incerta e uma moral relaxada, sem freios; os que praticam ao sabor dos seus caprichos uma liturgia duvidosa, com uma disciplina de hippies e um governo irresponsável, não é de estranhar que propaguem, contra os que só falam de Cristo, ciumeiras, suspeitas, falsas denúncias, ofensas, maus tratos, humilhações, falatórios e vexames de toda a espécie.

Assim esculpe Jesus a alma dos seus, sem deixar de lhes dar interiormente serenidade e alegria, porque entendem muito bem que - com cem mentiras juntas - os demônios não são capazes de fazer uma verdade. E grava em suas vidas a convicção de que só se sentirão comodamente quando se decidirem a não ser comodistas.

Referências da Sagrada Escritura
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