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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Visão sobrenatural .

Vou prosseguir estes momentos de conversa diante do Senhor servindo-me de uma nota que utilizei anos atrás e que conserva toda a sua atualidade. Apontei então umas considerações de Santa Teresa de Ávila: Tudo o que acaba e não contenta a Deus é nada e menos que nada. Compreendemos agora por que uma alma deixa de saborear a paz e a serenidade quando se afasta do seu fim, quando se esquece de que Deus a criou para a santidade? Esforçai-vos por não perder nunca este “ponto de mira” sobrenatural, mesmo à hora do lazer ou do descanso, tão necessários quanto o trabalho na vida de cada um.

Bem podeis chegar ao cume da vossa tarefa profissional, bem podeis alcançar os triunfos mais retumbantes, como fruto dessa libérrima iniciativa com que exerceis as atividades temporais; que, se abandonais esse sentido sobrenatural que deve presidir a todos os nossos afazeres humanos, tereis errado lamentavelmente de caminho.

Temos de adquirir a medida divina das coisas, sem perder nunca o “ponto de mira” sobrenatural; sabendo, além disso, que Jesus se vale também das nossas misérias, para que resplandeça a sua glória. Por isso, sempre que sentimos serpentear pela nossa consciência o amor próprio, o cansaço, o desânimo, o peso das paixões, devemos reagir prontamente e ouvir o Mestre, sem nos assustarmos com a triste realidade que somos cada um de nós, porque, enquanto vivermos, sempre nos hão de acompanhar as debilidades pessoais.

Este é o caminho do cristão. É necessário invocar o Senhor sem descanso, com uma fé enérgica e humilde: Senhor, não te fies de mim! Eu, sim, é que me fio de ti. E ao vislumbrarmos em nossa alma o amor, a compaixão, a ternura com que Cristo Jesus nos olha - porque Ele não nos abandona -, compreenderemos em toda a sua profundidade as palavras do Apóstolo: Virtus in infirmitate perficitur, a virtude fortifica-se na fraqueza; com fé no Senhor, apesar das nossas misérias - ou melhor, com as nossas misérias -, seremos fiéis ao nosso Pai-Deus, e o poder divino brilhará, sustentando-nos no meio da nossa fraqueza.

Procuremos que aumente a nossa humildade. Porque só uma fé humilde permite olhar as coisas com perspectiva sobrenatural. Não existe outra alternativa. Só são possíveis dois modos de viver na terra: ou se vive vida sobrenatural, ou vida animal. E tu e eu não podemos viver senão a vida de Deus, a vida sobrenatural. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? Que aproveita ao homem tudo o que povoa a terra, todas as ambições da inteligência e da vontade? Que vale tudo isso, se tudo acaba, se tudo se afunda, se são bambolinas de teatro todas as riquezas deste mundo terreno, se depois é a eternidade para sempre, para sempre, para sempre?

Este advérbio - sempre - tornou grande Teresa de Jesus. Quando ela - uma criança ainda - saía pela porta que dá para o rio Adaja, atravessando as muralhas da cidade acompanhada pelo seu irmão Rodrigo, com a intenção de irem a terra de mouros para lá serem decapitados por amor de Cristo, ia sussurrando ao irmão que dava mostras de cansaço: Para sempre, para sempre, para sempre.

Mentem os homens, quando dizem “para sempre” em coisas temporais. Só é verdade, com uma verdade total, o “para sempre” referido a Deus. E assim deves tu viver, com uma fé que te ajude a sentir sabores de mel, doçuras de céu, ao pensares na eternidade, que é, de verdade, para sempre.

Então, ao olharem para a figueira seca, os discípulos maravilharam-se dizendo: Como é que a figueira secou num instante? Aqueles primeiros Doze, que haviam presenciado tantos milagres de Cristo, pasmam-se uma vez mais, porque tinham uma fé que ainda não queimava. Por isso o Senhor assegura: Na verdade vos digo: se tiverdes fé e não andardes hesitando, não somente fareis o que sucedeu a esta figueira, mas ainda, se disserdes a esse monte: Sai daí e lança-te ao mar, assim se fará. Jesus Cristo estabelece esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover montanhas. E há tantas coisas a remover… no mundo e, primeiro, no nosso coração! Tantos obstáculos à graça! Portanto, fé! Fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade, porque a fé nos converte em criaturas onipotentes: E tudo o que na oração pedirdes com fé, alcançá-lo-eis.

O homem de fé sabe avaliar bem as questões terrenas, sabe que isto daqui de baixo é, no dizer de Santa Teresa, uma noite ruim numa ruim pousada. Renova a tua convicção de que a nossa existência na terra é tempo de trabalho e de luta, tempo de purificação para saldarmos a dívida para com a justiça divina, pelos nossos pecados. Toma consciência também de que os bens temporais são meios, e usa-os generosamente, heroicamente.

Não pensemos que, nesta senda de contemplação, as paixões ficam definitivamente aplacadas. Seria uma ilusão supor que a ânsia de procurar Cristo, a realidade do seu encontro e do seu convívio, bem como a doçura do seu amor, nos transforma em pessoas impecáveis. Embora todos o saibam por experiência, deixai-me que vo-lo recorde: o inimigo de Deus e do homem, Satanás, não se dá por vencido, não descansa. Assedia-nos, mesmo quando a alma arde inflamada no amor a Deus. Sabe que então a queda é mais difícil, mas que - se consegue que a criatura ofenda o seu Senhor, embora em pouco - poderá lançar-lhe sobre a consciência a grave tentação da desesperança.

Se puder servir-vos de aprendizado a experiência de um pobre sacerdote que não pretende falar senão de Deus, dar-vos-ei um conselho: quando a carne tentar recuperar seus foros perdidos, ou a soberba - que é pior - se rebelar e se eriçar, corramos a abrigar-nos nessas fendas divinas, abertas no Corpo de Cristo pelos cravos que o pregaram à Cruz e pela lança que lhe atravessou o peito. Façamo-lo do modo que mais nos comova: derramemos nas Chagas do Senhor todo esse amor humano… e esse amor divino. Que isto é apetecer a união, sentir-nos irmãos de Cristo, seus consangüíneos, filhos da mesma Mãe, pois foi Ela que nos levou até Jesus.

Referências da Sagrada Escritura
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