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Há 10 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Contemplativos → no meio do mundo.

Possumus!, podemos, podemos vencer também esta batalha, com a ajuda do Senhor. Persuadi-vos de que não é difícil converter o trabalho num diálogo de oração. É só oferecê-lo e pôr mãos à obra, que já Deus nos escuta e nos alenta. Alcançamos o estilo das almas contemplativas, no meio do trabalho cotidiano! Porque nos invade a certeza de que Ele nos olha, ao mesmo tempo que nos pede um novo ato de auto-domínio: esse pequeno sacrifício, o sorriso para a pessoa inoportuna, esse começar pela tarefa menos agradável, mas mais urgente, o cuidar dos pormenores de ordem, com perseverança no cumprimento do dever, quando seria tão fácil abandoná-lo, o não deixar para amanhã o que temos que terminar hoje: tudo para dar gosto a Ele, ao nosso Pai-Deus! E talvez sobre a tua mesa, ou num lugar discreto que não chame a atenção, mas que te sirva como despertador do espírito contemplativo, colocas o crucifixo, que já é para a tua alma e para a tua mente o manual em que aprendes as lições de serviço.

Se te decides - sem esquisitices, sem abandonares o mundo, no meio das tuas ocupações habituais - a enveredar por estes caminhos de contemplação, logo te sentirás amigo do Mestre, com a divina incumbência de abrir as sendas divinas da terra à humanidade inteira. Sim. Com esse teu trabalho, contribuirás para a extensão do reinado de Cristo em todos os continentes. E suceder-se-ão, uma após outra, as horas de trabalho oferecidas pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do Oriente impedidos barbaramente de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição cristã, onde parece ter-se obscurecido a luz do Evangelho e as almas se debatem entre as sombras da ignorância… Então, que valor não adquire essa hora de trabalho!, esse continuar com o mesmo empenho por mais algum tempo, por mais alguns minutos, até terminar a tarefa! De um modo prático e simples, convertes a contemplação em apostolado, como uma necessidade imperiosa do coração, que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Senhor Nosso.

Por amor a Deus, por amor às almas, e para correspondermos à nossa vocação de cristãos, temos que dar exemplo. Para não escandalizarmos, para não causarmos nem a sombra da suspeita de que os filhos de Deus são frouxos ou não prestam, para não sermos causa de desedificação…, temos que esforçar-nos por oferecer com a nossa conduta a medida certa, a boa índole de um homem responsável. Tanto o lavrador que ara a terra, enquanto levanta continuamente o coração a Deus, como o carpinteiro, o ferreiro, o empregado de escritório, o intelectual - todos os cristãos - hão de ser modelo para os seus colegas, sem orgulho, já que fica bem patente em nossas almas a convicção de que só contando com Ele é que conseguiremos alcançar a vitória; nós, sozinhos, não podemos levantar nem uma palha do chão. Portanto, cada um na sua tarefa, no lugar que ocupa na sociedade, tem que sentir a obrigação de realizar um trabalho de Deus, que semeie por toda a parte a paz e a alegria do Senhor. O cristão perfeito traz sempre consigo a serenidade e a alegria. Serenidade, porque se sente na presença de Deus; alegria, porque se vê rodeado dos dons divinos. Um cristão assim é verdadeiramente um personagem régio, um sacerdote santo de Deus.

Se bem me fiz entender, ao examinarmos como é e como deveria ser a nossa piedade, em que pontos deveria melhorar a nossa relação pessoal com Deus, teremos que rejeitar a tentação de imaginar façanhas insuperáveis, porque teremos descoberto que o Senhor se contenta com pequenas demonstrações de amor em cada momento.

Procura ater-te a um plano de vida, com constância: uns minutos de oração mental; a assistência à Santa Missa - diária, se te for possível - e a comunhão freqüente; a recepção regular do Santo Sacramento do Perdão, ainda que a consciência não te acuse de nenhuma falta mortal; a visita a Jesus no Sacrário; a recitação e a contemplação dos mistérios do Santo Rosário, e tantas práticas maravilhosas que tu conheces ou podes aprender.

Não devem converter-se em normas rígidas, numa espécie de compartimentos estanques; marcam um itinerário flexível, ajustado à tua condição de homem que vive no meio da rua, com um trabalho profissional intenso e uns deveres e relações sociais que não deves descurar, porque nesses afazeres prossegue o teu encontro com Deus. O teu plano de vida tem de ser como essa luva de borracha que se adapta com perfeição à mão que a usa.

Também não deves esquecer que o importante não é fazer muitas coisas. Limita-te com generosidade àquelas que possas cumprir em cada jornada, com vontade ou sem vontade. Essas práticas hão de levar-te, quase sem o perceberes, à oração contemplativa. Brotarão da tua alma mais atos de amor, jaculatórias, ações de graças, atos de desagravo, comunhões espirituais. E isso enquanto cuidas das tuas obrigações: quando atendes ao telefone, quando tomas um meio de transporte, quando fechas ou abres uma porta, quando passas diante de uma igreja, quando começas uma nova tarefa, enquanto a realizas e quando a concluis. Tudo referirás ao teu Pai-Deus.

Descansai na filiação divina. Deus é um Pai cheio de ternura, de infinito amor. Chama-o Pai muitas vezes ao dia, e diz-lhe - a sós, no teu coração - que o amas, que o adoras; que sentes o orgulho e a força de ser seu filho. Isto pede um autêntico programa de vida interior, que tens de canalizar através das tuas relações de piedade com Deus - poucas, mas constantes, insisto -, que te permitirão adquirir os sentimentos e as maneiras de um bom filho.

Preciso prevenir-te ainda contra o perigo da rotina - verdadeiro sepulcro da piedade -, que se apresenta freqüentemente disfarçada de ambições de realizar ou de empreender gestas importantes, enquanto se descuram comodamente as devidas ocupações cotidianas. Quando perceberes essas insinuações, coloca-te com sinceridade diante do Senhor: pensa se não te terás aborrecido de lutar sempre nas mesmas coisas, porque não procuravas a Deus; vê se não decaiu - por falta de generosidade, de espírito de sacrifício - a perseverança fiel no trabalho.

Nesse caso, as tuas normas de piedade, as pequenas mortificações, a atividade apostólica que não colhe frutos imediatos, hão de parecer-te terrivelmente estéreis. Estamos vazios e talvez comecemos a sonhar com novos planos, para silenciar a voz do nosso Pai do Céu, que reclama uma lealdade total. E com um pesadelo de grandezas na alma, votamos ao esquecimento a realidade mais certa, o caminho que sem sombra de dúvida nos conduz em linha reta à santidade: sinal claro de que perdemos o “ponto de mira” sobrenatural, a convicção de que somos crianças; a persuasão de que o nosso Pai fará maravilhas em nós, se recomeçarmos com humildade.

Ficaram muito gravados na minha cabeça de criança aqueles sinais que, nas montanhas da minha terra, se colocavam à borda dos caminhos: eram uns paus altos, geralmente pintados de vermelho, que chamavam a atenção. Explicaram-me então que, quando a neve cai e cobre caminhos, sementeiras e pastos, bosques, penhascos e barrancos, essas estacas sobressaem como um ponto de referência seguro, para que toda a gente saiba sempre por onde segue o caminho.

Na vida interior, passa-se algo de parecido. Há primaveras e verões, mas também chegam os invernos, dias sem sol e noites órfãs de lua. Não podemos permitir que a relação com Cristo dependa do nosso estado de humor, das alterações do nosso caráter. Essas atitudes delatam egoísmo, comodismo, e evidentemente não se compadecem com o amor.

Por isso, nos momentos de nevasca e vendaval, umas práticas piedosas sólidas - nada sentimentais -, bem arraigadas e adaptadas às circunstâncias próprias de cada um, serão como essas estacas pintadas de vermelho, que continuam a marcar-nos o rumo, até que o Senhor decida que o sol brilhe de novo, os gelos derretam e o coração torne a vibrar, aceso com um fogo que na realidade nunca esteve apagado: foi apenas o rescaldo oculto pela cinza de uns tempos de prova, ou de menos empenho, ou de pouco sacrifício.

Como será maravilhoso quando o nosso Pai nos disser: Servo bom e fiel, porque foste fiel nas pequenas coisas, eu te confiarei as grandes: entra na alegria do teu Senhor! Esperançados! Este é o prodígio da alma contemplativa. Vivemos de Fé, e de Esperança, e de Amor; e a Esperança nos torna poderosos. Lembrai-vos de São João: Eu vos escrevo, jovens, porque sois valentes, e a palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o maligno. É o próprio Deus que nos apressa, para a eterna juventude da Igreja e da humanidade inteira. Podemos transformar em divino tudo o que é humano, assim como o rei Midas convertia em ouro tudo o que tocava!

Não o esqueçais nunca: depois da morte, há de receber-vos o Amor. E no Amor de Deus ireis encontrar, além disso, todos os amores limpos que houverdes tido na terra. O Senhor dispôs que passássemos esta breve jornada da nossa existência trabalhando e, como o seu Unigênito, fazendo o bem. Nesse meio tempo, devemos estar alerta, à escuta daqueles chamados que Santo Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: Vem para junto do Pai, vem ter com teu Pai, que te espera ansioso.

Peçamos a Santa Maria, Spes nostra, que nos inflame na aspiração santa de morarmos todos juntos na casa do Pai. Nada nos poderá preocupar, se decidirmos ancorar o coração no desejo da verdadeira Pátria: o Senhor nos conduzirá com a sua graça e levará a barca, com bom vento, a tão claras ribeiras.

Para alguns, talvez tudo isto seja familiar; para outros, novo; para todos, árduo. Mas eu, enquanto me restar alento, não cessarei de pregar a necessidade primordial de sermos almas de oração sempre!, em qualquer ocasião e nas circunstâncias mais díspares, porque Deus nunca nos abandona. Não é cristão pensar na amizade divina exclusivamente como um recurso extremo. Pode parecer-nos normal ignorar ou desprezar as pessoas que amamos? É evidente que não. Vão constantemente para os que amamos as palavras, os desejos, os pensamentos: há como que uma presença contínua. Pois bem, com Deus também é assim.

Com esta procura do Senhor, toda a nossa jornada se converte numa única conversação íntima e confiada. Já o afirmei e escrevi muitas vezes, mas não me importo de repeti-lo, porque Nosso Senhor - com o seu exemplo - nos faz ver que esse é o comportamento acertado: oração constante, da manhã até a noite e da noite até a manhã. Quando tudo é fácil: Obrigado, meu Deus! Quando chega um momento difícil: Senhor, não me abandones! E esse Deus, manso e humilde de coração, não esquecerá as nossas súplicas nem permanecerá indiferente, pois Ele afirmou: Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á.

Procuremos, portanto, não perder nunca o “ponto de mira” sobrenatural, vendo Deus por detrás de cada acontecimento: ante as coisas agradáveis e as desagradáveis, ante o consolo… e ante o desconsolo pela morte de um ser amado. Antes de mais nada, a conversa com nosso Pai-Deus, procurando o Senhor no centro da nossa alma. Não é coisa que se possa considerar uma ninharia ou algo de pouca monta: é manifestação clara de vida interior constante, de autêntico diálogo de amor. Uma prática que não produzirá em nós nenhuma deformação psicológica, porque - para um cristão - deve ser tão natural como o bater do coração.

O Senhor suspira por levar-nos a um passo maravilhoso, divino e humano, que se traduz em abnegação feliz, de alegria com dor, de esquecimento próprio. Se alguém quiser vir apósmim, negue-se a si mesmo. Eis um conselho que todos nós já escutamos. Temos que decidir-nos a segui-lo de verdade: que o Senhor possa servir-se de nós para que, situados em todas as encruzilhadas do mundo - estando nós mesmos situados em Deus -, sejamos sal, fermento, luz. Assim, tu em Deus, para iluminar, para dar sabor, para dilatar, para fermentar.

Mas não esqueçamos que não somos nós que criamos essa luz; apenas a refletimos. Não somos nós que salvamos as almas, estimulando-as a praticar o bem: somos apenas um instrumento, mais ou menos digno, dos desígnios salvíficos de Deus. Se chegássemos a pensar que o bem que fazemos é obra nossa, a soberba voltaria, mais retorcida ainda; o sal perderia o sabor, o fermento apodreceria, a luz se converteria em trevas.

Talvez agora um ou outro de vós possa pensar que a jornada comum, o habitual vaivém da nossa vida, não se presta muito a manter o coração numa criatura tão pura como Nossa Senhora. Eu vos convidaria a refletir um pouco. O que é que procuramos sempre, mesmo sem especial atenção, em tudo o que fazemos? Quando nos deixamos conduzir pelo amor de Deus e trabalhamos com intenção reta, procuramos o que é bom, limpo, aquilo que traz a paz à consciência e felicidade à alma. Será que não nos faltam erros? É claro que não nos faltam. Mas precisamente reconhecer esses erros é descobrir com maior clareza que a nossa meta é essa: uma felicidade não passageira, mas profunda, serena, humana e sobrenatural.

Ora, existe uma criatura que conseguiu nesta terra essa felicidade, porque é a obra-prima de Deus: a nossa Mãe Santíssima, Maria. Ela vive e nos protege; está junto do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em corpo e alma. É a mesma que nasceu na Palestina, que se entregou ao Senhor desde menina, que recebeu a anunciação do Arcanjo Gabriel, que deu à luz o nosso Salvador, que esteve junto dEle ao pé da Cruz.

NEla adquirem realidade todos os ideais. Mas não devemos concluir que a sua sublimidade e a sua grandeza no-la apresentam inacessível e distante. É a cheia de graça, a soma de todas as perfeições; e é Mãe. Com o seu poder diante de Deus, alcançar-nos-á o que lhe pedirmos; como Mãe no-lo quer conceder. E também como Mãe entende e compreende as nossas fraquezas, alenta, desculpa, facilita o caminho, tem sempre o remédio preparado, mesmo quando parece que já nada é possível.

Ascética? Mística? Não me preocupo com isso. Seja o que for, ascética ou mística, que importa? É mercê de Deus. Se tu procuras meditar, o Senhor não te negará a sua assistência. Fé e obras de fé: obras, porque - já o verificaste desde o início e já o frisei a seu tempo - o Senhor é cada dia mais exigente. Isto é já contemplação e é união; é assim que deve ser a vida de muitos cristãos, avançando cada um pela sua própria via espiritual - são infinitas -, no meio dos afãs do mundo, ainda que nem sequer se aperceba disso.

Uma oração e uma conduta que não nos afastam das nossas atividades habituais e que, no meio dessas aspirações nobremente terrenas, nos conduzem ao Senhor. Elevando todos os afazeres a Deus, a criatura diviniza o mundo. Quantas vezes não tenho falado do mito do rei Midas, que convertia em ouro tudo o que tocava! Podemos converter tudo o que tocamos em ouro de méritos sobrenaturais, apesar dos nossos erros pessoais.

Referências da Sagrada Escritura
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