Lista de pontos

Há 6 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Fraqueza humana  → fidelidade e esperança.

Costumo afirmar que são três os pontos que nos enchem de contentamento na terra e nos alcançam a felicidade eterna do Céu: uma fidelidade firme, delicada, alegre e indiscutida à fé, à vocação que cada um recebeu e à pureza. Quem ficar agarrado às sarças do caminho - a sensualidade, a soberba… - ficará por vontade própria e, se não retifica, será um infeliz por ter dado as costas ao Amor de Cristo.

Volto a afirmar que todos temos misérias. Mas as nossas misérias não nos deverão levar nunca a esquivar-nos do Amor de Deus, mas a acolher-nos a esse Amor, a meter-nos dentro dessa bondade divina, como os antigos guerreiros se metiam dentro da sua armadura: aquele Ecce ego, quia vocasti me - conta comigo, porque me chamaste - é a nossa defesa. Não devemos afastar-nos de Deus por termos descoberto as nossas fragilidades; temos de atacar as misérias, precisamente porque Deus confia em nós.

Se não lutas, não me digas que estás tentando identificar-te mais com Cristo, conhecê-lo, amá-lo. Quando empreendemos o caminho real do seguimento de Cristo, da conduta de filhos de Deus, não nos passa despercebido o que nos espera: a Santa Cruz, que devemos contemplar como o ponto central onde se apóia a nossa esperança de nos unirmos ao Senhor.

Posso antecipar-te que este programa não é empreendimento cômodo; que viver da maneira que o Senhor nos indica pressupõe esforço. Leio-vos a enumeração do Apóstolo, ao referir-se às peripécias e sofrimentos que passou para cumprir a vontade de Jesus: Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas; uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei; uma noite e um dia passei mergulhado no mar alto. Em viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos dos da minha nação, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Em trabalhos e fadigas, em repetidas vigílias, na fome e na sede, no frio e na nudez! E além destas coisas exteriores, pesam sobre mim os cuidados de cada dia e a solicitude por todas as igrejas.

Nestas conversas com o Senhor, gosto de me cingir à realidade em que nos movemos, sem inventar teorias nem sonhar com grandes renúncias, com heroicidades, que habitualmente não se dão. O que importa é aproveitarmos o tempo, que nos foge das mãos e que, com critério cristão, é mais do que ouro, porque representa uma antecipação da glória que nos será concedida mais tarde.

Como é lógico, na nossa jornada não toparemos com tais nem com tantas contradições como as que se entrecruzaram na vida de Saulo. Nós descobriremos a baixeza do nosso egoísmo, as garras da sensualidade, as chicotadas de um orgulho inútil e ridículo, e muitas outras claudicações: tantas, tantas fraquezas. Descoroçoar-se? Não. Repitamos ao Senhor com São Paulo: Alegro-me nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque, quando me vejo fraco, então é que sou forte.

Às vezes, quando tudo nos sai ao contrário do que imaginávamos, vem-nos espontaneamente aos lábios: Senhor, tudo me vai para o fundo, tudo, tudo!… Chegou a hora de retificar: Eu, contigo, avançarei seguro, porque Tu és a própria fortaleza: quia tu es, Deus, fortitudo mea.

Eu te pedi que, no meio das ocupações, procurasses levantar os olhos ao Céu, perseverantemente, porque a esperança nos impele a agarrar-nos a essa mão forte que Deus nos estende sem cessar, a fim de não perdermos o “ponto de mira” sobrenatural, mesmo quando as paixões se levantam e nos acometem, para nos aferrolharem no reduto mesquinho do nosso eu, ou quando - com vaidade pueril - nos sentimos o centro do universo. Eu vivo persuadido de que, sem olhar para cima, sem Jesus, nunca conseguirei nada; e sei que a minha fortaleza, para me vencer e para vencer, nasce de repetir aquele grito: Tudo posso nAquele que me conforta, que encerra a promessa segura que Deus nos faz de não abandonar os seus filhos, se os seus filhos não o abandonam.

Previne a Escritura Santa que até o justo cai sete vezes. Sempre que li estas palavras, a minha alma estremeceu com uma forte sacudidela de amor e de dor. Com essa advertência divina, o Senhor vem uma vez mais ao nosso encontro, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca terminam. Estejamos certos de que Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece; e conta precisamente com essas fraquezas para que nos tornemos santos.

Uma sacudidela de Amor, dizia-vos. Olho para a minha vida e vejo sinceramente que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais ainda: que sou o nada! Mas Ele é tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou dEle, porque não me rejeita, porque se entregou por mim. Onde contemplastes um amor tão grande?

E uma sacudidela de dor, pois revejo a minha conduta e me assombro com o cúmulo das minhas negligências. Basta-me examinar as poucas horas do dia de hoje, desde que me levantei, para descobrir tantas faltas de amor, de correspondência fiel. Tenho verdadeira pena deste meu comportamento, mas não me tira a paz. Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação. Logo a seguir, recebo a certeza da sua assistência e, no fundo do meu coração, ouço que Ele me repete devagar: Meus es tu!, tu és meu; Eu já sabia - e sei - como és: para a frente!

Não pode ser de outra maneira. Se nos pusermos continuamente na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, pois verificaremos que o seu Amor e o seu chamado permanecem atuais; Deus não se cansa de nos amar. A esperança mostra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem sequer o menor dos nossos deveres; e, com Ele, com a sua graça, as nossas feridas cicatrizam; revestimo-nos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo, e melhoramos. Em resumo: a consciência de estarmos feitos de barro de moringa deve servir-nos sobretudo para robustecermos a nossa esperança em Cristo Jesus.

A virtude da esperança - a certeza de que Deus nos governa com a sua providente onipotência, de que nos dá os meios necessários - fala-nos dessa contínua bondade do Senhor para com os homens, para contigo, para comigo, sempre disposto a ouvir-nos, porque jamais se cansa de escutar. Interessam-lhe as tuas alegrias, os teus êxitos, o teu amor e também os teus apertos, a tua dor, os teus fracassos.

Por isso, não esperes nEle apenas quando tropeçares com a tua fraqueza; dirige-te ao teu Pai do Céu nas circunstâncias favoráveis e nas adversas, acolhendo-te à sua proteção misericordiosa. E a certeza da nossa nulidade pessoal - não se requer grande humildade para reconhecer esta realidade: somos uma autêntica multidão de zeros - converter-se-á numa fortaleza irresistível, porque à esquerda do nosso eu estará Cristo, e que cifra incomensurável não resulta!: O Senhor é a minha fortaleza e o meu refúgio; a quem temerei?

Acostumai-vos a ver Deus por trás de todas as coisas, a saber que Ele nos espera sempre, que nos contempla e reclama precisamente que o sigamos com lealdade, sem abandonar o lugar que nos cabe neste mundo. Devemos caminhar com vigilância afetuosa, com uma preocupação sincera de lutar, para não perdermos a sua divina companhia.

Talvez penses que os teus pecados são muitos, que o Senhor não poderá ouvir-te. Não é assim, porque Ele tem entranhas de misericórdia. Se, apesar desta maravilhosa verdade, te apercebes da tua miséria, mostra-te como o publicano: Senhor, aqui estou, Tu é que sabes! E observemos o que nos conta São Mateus, quando colocam um paralítico diante de Jesus. Aquele doente não faz nenhum comentário: fica ali simplesmente, na presença de Deus. E Cristo, comovido por essa contrição, por essa dor de quem sabe nada merecer, não demora a reagir com a sua misericórdia habitual: Tem confiança, que te são perdoados os teus pecados.

Meu conselho é que, na oração, cada um intervenha nas passagens do Evangelho, como mais um personagem. Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério, que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, empregamos o entendimento para considerar este ou aquele traço da vida do Mestre: seu Coração enternecido, sua humildade, sua pureza, seu cumprimento da Vontade do Pai. Depois, contamos-lhe o que nos costuma ocorrer nessas matérias, o que sentimos, o que nos está acontecendo. É preciso permanecermos atentos, porque talvez Ele nos queira indicar alguma coisa: e surgirão essas moções interiores, o cair em si, essas reconvenções.

Referências da Sagrada Escritura
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