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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Fim do homem → a vida à luz da morte.

Havia um pai de família, que plantou uma vinha, e a cercou com uma sebe, e cavou nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para uma região longínqua.

Gostaria de que meditássemos nos ensinamentos desta parábola, do ponto de vista que nos interessa agora. A tradição viu neste relato uma imagem do destino do povo eleito por Deus; e ensinou-nos sobretudo de que modo, a tanto amor por parte do Senhor, nós, os homens, correspondemos com a infidelidade, com a falta de gratidão.

Pretendo concretamente deter-me nesse ausentou-se para uma região longínqua. E chego logo à conclusão de que nós, os cristãos, não devemos abandonar esta vinha em que o Senhor nos colocou. Temos de empregar as nossas forças nesta tarefa, dentro da cerca, trabalhando no lagar e descansando na torre, uma vez concluída a faina diária. Se nos deixássemos arrastar pelo comodismo, seria o mesmo que responder a Cristo: Olha que os meus anos são para mim, não para ti. Não quero decidir-me a tratar da tua vinha.

O Senhor ofereceu-nos a vida, os sentidos, as potências, graças sem conta. E não temos o direito de esquecer que somos um operário, entre tantos, nesta fazenda em que Ele nos colocou, para colaborar na tarefa de levar alimento aos outros. Este é o nosso lugar: dentro destes limites. Aqui temos nós de nos gastar diariamente com Ele, ajudando-o no seu trabalho redentor.

Deixai-me que insista: O teu tempo para ti? O teu tempo para Deus! Pode ser que, pela misericórdia do Senhor, esse egoísmo não tenha entrado de momento na tua alma. Mas digo-te isto desde já, para que estejas prevenido se alguma vez sentes que o teu coração vacila na fé de Cristo. Para então, peço-te - pede-te Deus - que sejas fiel no teu empenho, que domines a soberba, que submetas a imaginação, que não caias na leviandade de ir para longe, que não desertes.

Sobrava todo o dia, àqueles jornaleiros que estavam no meio da praça; queria matar as horas, o servo que escondeu o seu talento na terra; vai para outro lado, aquele que devia ocupar-se da vinha. Todos demonstram a mesma insensibilidade perante a grande tarefa que a cada um dos cristãos foi encomendada pelo Mestre: a de nos considerarmos e nos comportarmos como instrumentos seus, para corredimir com Ele; e a de consumirmos a vida inteira no alegre sacrifício de nos darmos pelo bem das almas.

Também é São Mateus quem nos conta que, certa vez, voltava Jesus de Betânia, e teve fome. A mim, Cristo comove-me sempre, particularmente quando vejo que, sendo perfeito Deus, é também Homem verdadeiro, perfeito, a fim de nos ensinar a aproveitar até a nossa indigência e as nossas debilidades naturais e pessoais para nos oferecermos integralmente - tal como somos - ao Pai, que aceita com gosto esse holocausto.

Tinha fome. O criador do universo, o Senhor de todas as coisas passa fome! Senhor, agradeço-te que - por inspiração divina - o escritor sagrado tenha deixado aqui essa pista, explicitando um pormenor que me obriga a amar-te mais, que me ensina a desejar vivamente a contemplação da tua Humanidade Santíssima! Perfectus Deus, perfectus homo, perfeito Deus e também perfeito homem, de carne e osso, como tu, como eu.

Jesus tinha trabalhado muito na véspera e, enquanto caminhava, sentiu fome. Movido por essa necessidade, dirige-se àquela figueira que, lá longe, mostra uma folhagem esplêndida. Relata-nos São Marcos que não era tempo de figos; mas Nosso Senhor aproxima-se para os colher, sabendo muito bem que nessa estação não os encontraria. E ao verificar a esterilidade da árvore com aquela aparência de fecundidade, com aquela abundância de folhas, ordena: Nunca jamais coma ninguém frutos de ti.

São palavras duras, sim! Nunca jamais nasça fruto de ti! Como ficariam os discípulos, sobretudo ao considerarem que era a Sabedoria de Deus que falava! Jesus amaldiçoa aquela árvore, porque encontrou só aparência de fecundidade, folhagem. Deste modo aprendemos que não há desculpas para a ineficácia. Talvez alguém diga: Não tenho conhecimentos suficientes… Não há desculpa! Ou afirme: Éque a doença, é que o meu talento não é grande, é que as condições não são favoráveis, é que o ambiente… Também não valem essas desculpas! Ai de quem se enfeita com a folharada de um falso apostolado, ai de quem ostenta a frondosidade de uma aparente vida fecunda, sem tentativas sinceras de conseguir fruto! Parece que aproveita o tempo, que se mexe, que organiza, que inventa um modo novo de resolver tudo… Mas é improdutivo. Ninguém se alimentará com as suas obras desprovidas de seiva sobrenatural.

Peçamos ao Senhor que nos torne almas dispostas a trabalhar com heroísmo feraz, pois não faltam muitos na terra que, quando as pessoas se aproximam deles, só revelam folhas - grandes, reluzentes, lustrosas… Só folhagem, exclusivamente folhagem, e nada mais. E as almas olham para nós com a esperança de saciar a sua fome, que é fome de Deus. Não é possível esquecer que contamos com todos os meios para isso: com a doutrina suficiente e com a graça do Senhor, apesar das nossas misérias.

Recordo-vos de novo que nos resta pouco tempo - tempus breve est, porque é breve a vida sobre a terra - e que, tendo esses meios, não necessitamos senão de boa vontade para aproveitar as ocasiões que Deus nos concedeu. Desde que Nosso Senhor veio a este mundo, iniciou-se a era favorável, o dia da salvação, para nós e para todos. Que o nosso Pai-Deus não tenha que dirigir-nos a censura que outrora manifestou pela boca de Jeremias: No céu, o milhafre conhece a sua estação; a rola, a andorinha e a cegonha observam o tempo das suas migrações; mas o meu povo ignora voluntariamente os juízos do Senhor.

Não existem datas más ou inoportunas. Todos os dias são bons para servir a Deus. Só surgem os dias maus quando o homem os malogra com a sua falta de fé, com a sua preguiça, com a sua incúria, que o inclinam a não trabalhar com Deus e por Deus. Bendirei o Senhor em qualquer ocasião! O tempo é um tesouro que passa, que escapa, que nos escorre pelas mãos como a água pelas penhas altas. O dia de ontem já passou, e o de hoje está passando. O amanhã será bem depressa outro ontem. A duração de uma vida é muito curta. Mas quanto não se pode realizar nesse pequeno espaço, por amor de Deus!

Não nos servirá desculpa alguma. O Senhor foi pródigo conosco. Instruiu-nos pacientemente, explicou-nos os seus preceitos com parábolas e insistiu conosco sem descanso. Como a Filipe, pode perguntar-nos: Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conhecestes? Chegou o momento de trabalhar de verdade, de ter ocupados todos os instantes da jornada, de suportar - com gosto e com alegria - o peso do dia e do calor.

Referências da Sagrada Escritura
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