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Há 3 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Graça → ação de graças.

Ao ler a Epístola de hoje, via eu Daniel metido entre aqueles leões famintos, e, sem pessimismo - não posso dizer que qualquer tempo passado foi melhor, porque todos os tempos têm sido bons e maus -, considerava que também nos momentos atuais andam muitos leões à solta, e nós temos que viver nesse ambiente. Leões que buscam a quem devorar: tamquam leo rugiens circuit quaerens quem devoret.

Como evitaremos essas feras? Talvez não ocorra conosco o que ocorreu com Daniel. Eu não sou milagreiro, mas amo essa grandiosidade de Deus e penso que lhe teria sido mais fácil aplacar a fome do profeta ou então pôr-lhe alguma comida na frente; e não o fez. Dispôs que outro profeta, Habacuc, se deslocasse milagrosamente da Judéia para levar-lhe a comida. Não se importou de fazer um milagre grande, porque Daniel não se achava naquele poço porque sim, mas por uma injustiça dos sequazes do demônio, por ser servidor de Deus e destruidor de ídolos.

Nós, sem portentos espetaculares, com a normalidade de uma vida cristã corrente, com uma semeadura de paz e de alegria, temos que destruir também muitos ídolos: o da incompreensão, o da injustiça, o da ignorância, o da pretensa suficiência humana que vira com arrogância as costas a Deus.

Não vos assusteis, não temais nenhum mal, ainda que as circunstâncias em que trabalhais sejam terríveis, piores que as de Daniel no fosso, com aqueles animais vorazes. As mãos de Deus são igualmente poderosas e, se for necessário, farão maravilhas. Fiéis!, com uma fidelidade amorosa, consciente e alegre, à doutrina de Cristo, persuadidos de que os anos de agora não são piores que os de outros séculos e de que o Senhor é o mesmo de sempre.

Conheci um sacerdote ancião que afirmava - sorridente - de si mesmo: Eu estou sempre tranqüilo, tranqüilo. E assim temos nós que estar sempre, metidos no mundo, rodeados de leões famintos, mas sem perder a paz: tranqüilos. Com amor, com fé, com esperança, sem esquecer nunca que, se for conveniente, o Senhor multiplicará os milagres.

Atrevo-me a assegurar que o Senhor também fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres, e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos diariamente por alcançar a santidade, cada um no seu próprio estado, dentro do mundo e no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente.

Daremos luz aos cegos. Quem não poderia contar mil casos de cegos, quase de nascença, que recobraram a vista, recebendo todo o esplendor da luz de Cristo? E de outros que eram surdos, e mudos, que não podiam ouvir ou articular uma palavra como filhos de Deus?… E purificaram-se os seus sentidos, e já ouvem e se exprimem como homens; não como animais!

In nomine Iesu!, em nome de Jesus, os seus Apóstolos dão a faculdade de andar àquele aleijado que era incapaz de uma ação útil… E àquele outro, um poltrão, que conhecia as suas obrigações, mas não as cumpria… Em nome do Senhor surge et ambula!, levanta-te e anda. E um outro, já morto, apodrecido, que cheirava a cadáver, também ouviu a voz de Deus, como no milagre do filho da viúva de Naim: Rapaz, eu te ordeno: levanta-te! Faremos milagres como Cristo, milagres como os primeiros Apóstolos.

Talvez esses prodígios se tenham operado em ti mesmo, em mim. Talvez fôssemos cegos, ou surdos, ou paralíticos, ou tresandássemos a cadáver, e a palavra do Senhor nos levantou da nossa prostração. Se amamos a Cristo, se o seguimos sinceramente, se não nos procuramos a nós mesmos, mas unicamente a Ele, em seu nome poderemos transmitir aos outros, de graça, o que de graça nos foi concedido.

Tenho pregado constantemente sobre esta capacidade sobrenatural e humana que Deus, nosso Pai, põe nas mãos de seus filhos: a de participar da Redenção operada por Cristo. E enche-me de alegria encontrar esta mesma doutrina nos textos dos Padres da Igreja. São Gregório Magno explica: Os cristãos expulsam as serpentes quando arrancam o mal do coração dos outros com a sua exortação ao bem . Impõem as mãos sobre os enfermos, para curá-los, quando vêem que o próximo se enfraquece na prática do bem e lhe oferecem ajuda de mil maneiras, robustecendo-o com a força do exemplo. Estes milagres são tanto maiores quanto é certo que se passam no campo espiritual, dando vida, não aos corpos, mas às almas. Também vós, se não vos desleixardes, podereis operar estes prodígios com a ajuda de Deus.

Deus quer que todos se salvem, e isso é um convite e uma responsabilidade que pesam sobre cada um de nós. A Igreja não é um reduto para privilegiados. A grande Igreja será porventura uma exígua parte da terra? A grande Igreja é o mundo inteiro. Assim escrevia Santo Agostinho, acrescentando: Para onde quer que te dirijas, aí está Cristo. Tens por herança os confins da terra. Vem! Toma comigo posse dela toda. Certamente nos lembramos de como estavam as redes: carregadas a ponto de transbordar. Não cabiam mais peixes. Deus espera ardentemente que se encha a sua casa. É Pai, e gosta de viver com todos os filhos ao seu redor.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura
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