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Há 2 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Integrismo.

Mudando de tema, interessava-nos saber o que pensa em relação ao atual momento da Igreja. Concretamente, como o qualificaria? Que papel julga poderem ter, neste momento, as tendências que de modo geral têm sido chamadas de "progressistas" e "integristas"?

A meu ver, o atual momento da Igreja poderia qualificar-se de positivo e, ao mesmo tempo, de delicado, como todas as crises de crescimento. Positivo, sem dúvida, porque as riquezas doutrinais do Concílio Vaticano II colocaram a Igreja inteira — todo o Povo sacerdotal de Deus — perante uma nova etapa, sumamente esperançosa, de renovada fidelidade ao propósito divino da salvação que se lhe confiou. Momento delicado também, porque as conclusões teológicas a que se chegou não são de caráter — passe a expressão — abstrato ou teórico; trata-se de uma teologia sumamente viva, quer dizer, com imediatas e diretas aplicações de ordem pastoral, ascética e disciplinar, que chegam ao mais íntimo da vida interna e externa da comunidade cristã: liturgia, estruturas organizativas da Hierarquia, formas apostólicas, Magistério, diálogo com o mundo, ecumenismo, etc. — e, portanto, ao mais íntimo da vida cristã e da própria consciência dos fiéis.

Uma e outra destas realidades tornam respectivamente presentes na nossa alma, por um lado, o otimismo cristão — a gozosa certeza de que o Espírito Santo fará frutificar abundantemente a doutrina com que enriqueceu a Esposa de Cristo —, e, ao mesmo tempo a prudência por parte de quem investiga ou governa, porque, especialmente agora, a falta de serenidade ou de ponderação no estudo dos problemas poderia ocasionar um dano imenso.

Quanto às tendências que chama de integristas e progressistas em sua pergunta, torna-se difícil para mim dar uma opinião sobre o papel que podem desempenhar neste momento, porque desde sempre repeli a conveniência e mesmo a possibilidade de se fazerem catalogações ou simplificações desse tipo. Essa divisão — que às vezes é levada a extremos de verdadeiro paroxismo, ou se procura perpetuar, como se os teólogos e os fiéis em geral estivessem destinados a uma contínua orientação bipolar — parece-me que obedece, no fundo, ao convencimento de que o progresso doutrinal e vital do Povo de Deus terá de ser resultante de uma perpétua tensão dialética. Eu, pelo contrário, prefiro acreditar — com toda a minha alma — na ação do Espírito Santo, que sopra onde quer e em quem quer.

Qual a posição da Obra sobre a declaração conciliar a favor da liberdade religiosa, e especialmente sobre a sua aplicação à Espanha, onde o "projeto Castiella" está ainda em suspenso? E que dizer desse pretenso "integrismo" que algumas vezes se censurou ao Opus Dei?

Integrismo? O Opus Dei não está nem à direita, nem à esquerda, nem no centro. Eu, como sacerdote, procuro estar com Cristo, que sobre a Cruz abriu os dois braços e não apenas um deles; de cada grupo, tomo com liberdade aquilo que me convence e que me faz ter o coração e os braços acolhedores para com toda a humanidade; e cada um dos sócios é libérrimo de fazer as opções que quiser, dentro dos limites da fé cristã.

Quanto à liberdade religiosa, desde que foi fundado, o Opus Dei não fez nunca discriminações; trabalha e convive com todos, porque em cada pessoa vê uma alma que se deve respeitar e amar. Não são meras palavras; a nossa Obra é a primeira organização católica que, com a autorização da Santa Sé, admite como Cooperadores os não-católicos, sejam cristãos ou não. Defendi sempre a liberdade das consciências. não compreendendo a violência: não me parece apta nem para convencer nem para vencer; o erro se vence com a oração, com a graça de Deus, com o estudo; nunca com a força, sempre com a caridade. Compreenderá que, sendo este o espírito que temos vivido desde o primeiro momento, só me podem ter causado alegria os ensinamentos que o Concílio promulgou a este respeito. Quanto ao projeto específico a que se refere, não é questão da minha competência, mas da Hierarquia da Igreja na Espanha e dos católicos desse país: a eles é que cabe aplicar no caso concreto o espírito do Concílio.

Referências da Sagrada Escritura