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Há 2 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Apostolado → apostolado e liberdade.

Uma característica de toda a vida cristã — seja qual for o caminho através do qual se realiza — é a "dignidade e a liberdade dos filhos de Deus". A que se refere, pois, quando ao longo de todos os seus ensinamentos, defende tão insistentemente a liberdade dos leigos?

Refiro-me precisamente à liberdade pessoal que os leigos têm para tomar, à luz dos princípios enunciados pelo Magistério, todas as decisões concretas de ordem teórica ou prática — por exemplo, em relação às diversas opiniões filosóficas ou políticas, às correntes artísticas e culturais, aos problemas de sua vida profissional ou social, etc. — que cada um julgue em consciência convenientes e mais de acordo com suas convicções pessoais e aptidões humanas.

Este necessário âmbito de autonomia que o leigo católico necessita para não ficar capitisdiminuído perante os outros leigos, e para poder levar a cabo, com eficácia, sua peculiar tarefa apostólica em meio das realidades temporais, deve ser sempre cuidadosamente respeitado por todos os que na Igreja exercemos o sacerdócio ministerial. A não ser assim — se se tratasse de instrumentalizar o leigo para fins que ultrapassam os que são próprios do ministério hierárquico — incorrer-se-iam num anacrônico e lamentável clericalismo. Limitar-se-iam enormemente as possibilidades apostólicas dentro do laicato — condenando-o a perpétua imaturidade —, mas sobretudo pôr-se-iam em perigo — hoje especialmente — os próprios conceitos de autoridade e de unidade na Igreja. Não podemos esquecer que a existência também entre os católicos, de um autêntico pluralismo de critério e de opinião, nas coisas que Deus deixou à livre discussão dos homens, não só não se opõe à ordenação hierárquica e à necessária unidade do Povo de Deus, mas ainda as robustece e as defende contra possíveis impurezas.

De vez em quando, ao falar da realidade do Opus Dei, tem afirmado que é uma "desorganização organizada". Poderia explicar aos nossos leitores o significado desta expressão?

Quero dizer que damos uma importância primária e fundamental à espontaneidade apostólica da pessoa, à sua iniciativa livre e responsável, guiada pela ação do Espírito; e não a estruturas organizativas, mandatos, táticas e planos impostos de cima, como ato de governo.

Existe um mínimo de organização, evidentemente, com um governo central, que atua sempre colegialmente, e tem sua sede em Roma; e governos regionais, também colegiais, cada um presidido por um Conselheiro. Mas toda a atividade desses organismos dirige-se fundamentalmente a um fim: proporcionar aos sócios a assistência espiritual necessária para a sua vida de piedade, e uma adequada formação espiritual, doutrinal-religiosa e humana. Depois: Patos à água! Quer dizer: cristãos santificando todos os caminhos dos homens, que todos têm o aroma da passagem de Deus.

Ao chegar a esse limite, a esse momento, a Associação como tal terminou sua tarefa — aquela, precisamente, para a qual os sócios do Opus Dei se associam — já não tem o que fazer, não pode nem deve fazer mais nenhuma indicação. Começa então a livre e responsável ação de cada sócio. Cada um, com espontaneidade apostólica, agindo com completa liberdade pessoal e formando autonomamente sua consciência perante as decisões concretas que tenha de tomar, procura a perfeição cristã e esforça-se por dar testemunho cristão no seu próprio ambiente, santificando o trabalho profissional, intelectual ou manual. Naturalmente, ao tomar cada um autonomamente essas decisões em sua vida secular, nas realidades temporais em que atua, se dão com freqüência opções, critérios e atuações diversas: dá-se, numa palavra, essa bendita desorganização, esse justo e necessário pluralismo, que é uma característica essencial do bom espírito do Opus Dei, e que a mim pareceu sempre ser a única maneira reta e ordenada de conceber o apostolado de leigos.

Dir-lhe-ei mais: essa desorganização organizada aparece inclusive nas próprias obras apostólicas corporativas que o Opus Dei realiza, com o desejo de contribuir também, enquanto Associação, para resolver cristãmente problemas que afetam as comunidades humanas dos diversos países. Essas atividades e iniciativas da Associação são sempre de caráter diretamente apostólico: obras educativas, assistenciais ou de beneficência. Mas, como é do nosso espírito, precisamente, estimular que as iniciativas surjam da base, e como as circunstâncias, necessidades e possibilidades de cada nação ou grupo social são peculiares e extraordinariamente diversas entre si, o governo central da Obra deixa aos governos regionais — que gozam de autonomia praticamente total — a responsabilidade de decidir, promover e organizar aquelas atividades apostólicas concretas que julguem mais convenientes: desde um centro universitário ou uma residência de estudantes, até um dispensário ou uma escola agrícola para camponeses. Como resultado lógico, aparece um mosaico multicolor e variado de atividades: um mosaico organizadamente desorganizado.