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Há 2 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Consciência → formação da consciência.

Muitos casais vêem-se desorientados a respeito do número de filhos, pelos conselhos que recebem, inclusive de alguns sacerdotes. Em presença de tanta confusão, o que aconselharia o senhor aos casais?

Os que perturbam dessa maneira as consciências esquecem que a vida é sagrada e tornam-se merecedores das duras censuras do Senhor contra os cegos que guiam outros cegos, contra os que não querem entrar no Reino dos Céus e não deixam sequer entrar os outros. Não julgo as intenções deles e até estou certo de que muitos dão tais conselhos guiados pela compaixão e pelo desejo de solucionar situações difíceis; mas não posso ocultar o profundo desgosto que me causa esse trabalho destruidor — em muitos casos, diabólico — de quem não só não dá boa doutrina, mas também a corrompe.

Não esqueçam os esposos, ao ouvirem conselhos e recomendações nessa matéria, que o que importa é conhecer o que Deus quer. Quando há sinceridade — retidão — e um mínimo de formação cristã, a consciência sabe descobrir a vontade de Deus, nisto como em tudo o mais. Por que pode suceder que se esteja procurando um conselho que favoreça o próprio egoísmo, que silencie, precisamente, com a sua pretensa autoridade, o clamor da própria alma e, inclusive, que se vá mudando de conselheiro, até achar o mais benévolo. Além do mais, isto é uma atitude farisaica, indigna de um filho de Deus.

O conselho de outro cristão, e especialmente — em questões morais ou de fé — o conselho do sacerdote, é uma ajuda poderosa para reconhecer o que Deus nos pede numa circunstância determinada; mas o conselho não elimina a responsabilidade pessoal. Cada um de nós é que tem de decidir em última análise, e é pessoalmente que havemos de dar contas a Deus das nossas decisões.

Acima dos conselhos privados está a lei de Deus contida na Sagrada Escritura e que o Magistério da Igreja — assistido pelo Espírito Santo — guarda e propõe. Quando os conselhos particulares contradizem a Palavra de Deus tal como o Magistério a ensina, temos que afastar-nos decididamente desses conselhos errôneos. A quem proceder com essa retidão, Deus ajudará com a sua graça, inspirando-lhe o que deve fazer e, quando o necessitar, levando-o a encontrar um sacerdote que saiba conduzir a sua alma por caminhos retos e limpos, ainda que algumas vezes sejam difíceis.

O exercício da direção espiritual não deve orientar-se no sentido de fabricar criaturas carecidas de juízo próprio, que se limitam a executar materialmente o que outrem lhe disse; Pelo contrário, a direção espiritual deve tender a formar pessoas de critério. E o critério implica maturidade, firmeza de convicções, conhecimento suficiente da doutrina, delicadeza de espírito, educação da vontade.

É importante que os esposos adquiram o sentido claro da dignidade de sua vocação, sabendo que foram chamados por Deus para atingir também o amor divino através do amor humano: que foram escolhidos, desde a eternidade, para cooperar com o poder criador de Deus, pela procriação e depois pela educação dos filhos; que o Senhor lhes pede que façam, do seu lar e da vida familiar inteira, um testemunho de todas as virtudes cristãs.

O matrimônio — nunca me cansarei de o repetir, é um caminho divino, grande e maravilhoso, e, como tudo o que é divino em nós, tem manifestações concretas de correspondência à graça, de generosidade, de entrega, de serviço. O egoísmo, em qualquer das suas formas, opõe-se a esse amor de Deus que deve imperar em nossa vida. Este é um ponto fundamental que cumpre ter muito presente ao considerar o matrimônio e o número de filhos.

Não compreendo que haja católicos — e muito menos sacerdotes — que há anos, com tranqüilidade de consciência, aconselhem o uso da pílula para evitarem a concepção, porque não se podem desconhecer, com uma triste sem-cerimônia, os ensinamentos pontifícios. Nem devem alegar — como fazem com incrível leviandade — que o Papa, quando não fala ex cathedra, é um simples doutor privado sujeito a erro. É já arrogância desmedida julgarem que o Papa se engana e eles não. Mas esquecem, além disso, que o Romano Pontífice não é só doutor — infalível quando expressamente o declara — , mas também o Supremo Legislador. E, neste caso, o que o atual Pontífice Paulo VI dispôs de maneira inequívoca foi que, em assunto tão delicado, devem ser seguidas obrigatoriamente — porque continuam de pé — todas as disposições do Santo Pontífice Pio XII, de veneranda memória; e que Pio XII só permitiu alguns processos naturais — não a pílula — para evitar a concepção em casos isolados e difíceis. Aconselhar o contrário é, portanto, uma desobediência grave ao Santo Padre, em matéria grave.

Poderia escrever um grosso volume sobre as conseqüências desastrosas e de toda a ordem que arrasta consigo o uso desses ou de outros meios contra a concepção: destruição do amor conjugal — o marido e a mulher não se olham como esposos, mas como cúmplices — , infelicidade, infidelidades, desequilíbrios espirituais e mentais, prejuízos sem conta para os filhos, perda da paz matrimonial… Mas não o considero necessário. Prefiro limitar-me a obedecer o Papa. Se alguma vez o Sumo Pontífice dissesse que o uso de um determinado medicamento para evitar a concepção era lícito, eu me acomodaria a tudo o que o Santo Padre dissesse e, segundo as normas pontificiais e as da teologia moral, examinando em cada caso os perigos evidentes a que acabo de aludir, daria a cada um, em consciência, o meu conselho.

E havia de ter sempre em conta que quem há de salvar este mundo não são os que pretendem narcotizar a vida do espírito e reduzir tudo a questões econômicas ou de bem estar material: são os que sabem que a norma moral está em função do destino eterno do homem; os que têm fé em Deus e arrostam generosamente com as exigências dessa fé, difundindo entre aqueles que o rodeiam o sentido transcendente de nossa vida na terra.

É esta certeza que deve levar, não a fomentar a evasão, mas a procurar com a eficácia que todos tenham os meios materiais convenientes, que haja trabalho para todos, que ninguém se encontre injustamente limitado em sua vida familiar e social.

Referências da Sagrada Escritura