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Há 3 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Mundo → justiça.

Poderia dizer se, ou até que ponto, o Opus Dei na Espanha tem uma orientação econômica ou política? Se assim for, poderia defini-la?

O Opus Dei não tem nenhuma orientação econômica ou política, nem na Espanha nem em nenhum outro lugar. É certo que, impelidos pela doutrina de Cristo, seus sócios defendem sempre a liberdade pessoal e o direito que todos os homens têm de viver e trabalhar, de ser amparados na doença e na velhice, de constituir um lar e trazer filhos ao mundo, de educar esses filhos de acordo com o talento de cada um, e de receber um tratamento digno de homens e de cidadãos. Mas a Obra não lhes propõe nenhum caminho específico, nem econômico, nem político, nem cultural. Cada um de seus sócios tem plena liberdade para pensar e agir nessas matérias como melhor lhe parecer. Em todos os assuntos temporais, os sócios da Obra são libérrimos: no Opus Dei cabem pessoas de todas as tendências políticas, culturais, sociais e econômicas que a consciência cristã possa admitir.

Eu não falo nunca de política. Minha missão como sacerdote é exclusivamente espiritual. Além disso, mesmo que algumas vezes chegasse a exprimir uma opinião em questões de ordem temporal, os sócios não teriam nenhuma obrigação de segui-la.

Os diretores da Obra não podem impor nunca um critério político ou profissional aos demais sócios. Se alguma vez um sócio da Obra tentasse fazê-lo, ou servir-se de outros sócios para fins humanos, seria expulso sem contemplações, porque os outros sócios se rebelariam legitimamente.

Não perguntei nem perguntarei nunca a nenhum sócio da obra de que partido é ou que doutrina política perfilha, porque me pareceria um atentado à sua legítima liberdade. E o mesmo fazem os diretores do Opus Dei em todo o mundo.

Sei, no entanto, que entre os sócios da Obra — na Espanha como em qualquer outro país — há de fato grande variedade de opiniões, e nada tenho a dizer quanto a isso. Respeito-as todas, como respeitarei sempre qualquer opção temporal assumida por um homem que se esforce por agir segundo a sua consciência.

Para a Obra, esse pluralismo não é um problema. Pelo contrário, é uma manifestação de bom espírito, que deixa patente a legítima liberdade de cada um.

Monsenhor, desejávamos que nos dissesse quais são, em seu entender, os fins essenciais da Universidade e como deve situar-se o ensino da religião dentro dos estudos universitários.

A Universidade — bem o sabem, porque o estão vivendo ou desejam viver — deve prestar uma contribuição de primeira importância ao progresso humano. Como os problemas que se apresentam na vida dos povos são múltiplos e complexos — espirituais, culturais, sociais, econômicos, etc. —, a formação que a Universidade deve proporcionar há de abranger todos esses aspectos.

O desejo de trabalhar pelo bem comum não basta; o caminho para que este desejo se torne realidade é preparar homens e mulheres capazes de adquirirem um bom preparo e capazes de darem aos outros o fruto da plenitude adquirida.

A religião é a maior rebelião do homem que não quer viver como um animal, que não se conforma — que não sossega — sem conhecer o Criador e privar com Ele; o estudo da religião torna-se portanto uma necessidade fundamental.

Um homem que careça de formação religiosa não está completamente formado. Por isso a religião deve estar presente na Universidade e deve ensinar-se em nível superior, científico, de boa teologia. Uma Universidade da qual a religião esteja ausente, é uma Universidade incompleta, porque ignora uma dimensão fundamental da pessoa humana, que não exclui — antes exige — as demais dimensões.

Por outro lado, ninguém pode violar a liberdade das consciências: o ensino da religião deve ser livre, ainda que o cristão saiba que, se quiser ser coerente com a sua fé, tem obrigação grave de se formar bem nesse terreno, de possuir portanto, uma cultura religiosa, isto é, de adquirir doutrina, para poder viver dela e para poder dar testemunho de Cristo com o exemplo e com a palavra.

Desculpe insistir no mesmo tema: através de cartas que chegam à Redação, sabemos que algumas mães de família numerosa se queixam de se verem reduzidas ao papel de trazer filhos ao mundo, sentindo uma insatisfação muito grande por não poderem dedicar sua vida a outros campos: trabalho profissional, acesso à cultura, projeção social… Que conselhos daria o senhor a essas pessoas?

Mas, vejamos: o que é a projeção social senão dar-se aos outros, com sentido de entrega e de serviço, e contribuir eficazmente para ao bem de todos? A atividade da mulher em casa não só constitui, já de si, uma função social, mas também facilmente pode ser a função social de maior projeção.

Imaginem o caso de uma família numerosa: aí a atividade da mãe é comparável — e muitas vezes vai mais longe — à dos educadores e formadores profissionais. Um professor consegue, talvez ao longo de uma vida inteira, formar mais ou menos bem um certo número de moços ou moças. Uma mãe pode formar seus filhos com profundidade, nos aspectos mais básicos, e pode fazer deles, por sua vez, outros formadores, criando-se assim uma cadeia ininterrupta de responsabilidade e de virtudes.

Também nestes temas é fácil deixar-se seduzir por critérios meramente quantitativos, e pensar: é preferível o trabalho de um professor, que vê passar por suas aulas milhares de pessoas, ou o de um escritor, que se dirige a milhares de leitores. Certo, mas… quantos formam realmente esse professor e esse escritor? Uma mãe tem a seu cuidado três, cinco, dez ou mais filhos; e pode fazer deles uma verdadeira obra de arte, uma maravilha de educação, de equilíbrio, de compreensão, de sentido cristão da vida, de maneira a serem felizes e chegarem a ser realmente úteis aos outros.

Por outro lado, é natural que os filhos e as filhas ajudem nas tarefas da casa: uma mãe que saiba preparar bem os seus filhos, pode conseguir isso, e dispor assim de oportunidades, de tempo que — bem aproveitado — lhe permita cultivar suas inclinações e talentos pessoais, e enriquecer sua cultura. Felizmente, não faltam hoje meios técnicos que, como sabem perfeitamente, poupam muito trabalho, se forem convenientemente utilizados e deles se tirar todo o rendimento possível. Nisto, como em tudo, são determinantes as condições pessoais: há mulheres que têm uma máquina de último modelo e demoram mais tempo a lavar — e o fazem pior — do que quando o faziam à mão. Os instrumentos só são úteis quando se sabem empregar.

Sei de muitas mulheres casadas e com bastantes filhos que tomam conta do seu lar perfeitamente e além disso acham tempo para colaborar em outras tarefas apostólicas, como fazia aquele casal da primitiva cristandade: Áquila e Priscila. Ambos trabalhavam em casa e no seu ofício, e foram também esplêndidos cooperadores de São Paulo: com sua palavra e com seu exemplo, levaram a fé de Jesus Cristo a Apolo, que depois foi um grande pregador da Igreja nascente. Conforme já disse, boa parte das limitações se podem superar, se de verdade se quer, sem deixar de cumprir dever algum. Na realidade, há tempo para fazer muitas coisas, para tomar conta do lar com senso profissional, para dar-se aos outros continuamente, para melhorar a cultura própria e para enriquecer a de outros, para realizar imensas tarefas eficazes.