Lista de pontos

Há 3 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Agradecimento.

Conosco aconteceu algo de semelhante. Sem grande dificuldade, poderíamos encontrar na nossa família, entre os nossos amigos e companheiros - para não me referir ao imenso panorama do mundo -, tantas outras pessoas mais dignas que nós de receberem a chamada de Cristo. Mais simples, mais sábias, mais influentes, mais importantes, mais agradecidas, mais generosas.

Eu, ao pensar nestes pontos, sinto-me envergonhado. Mas percebo também que a nossa lógica humana não serve para explicar as realidades da graça. Deus costuma procurar instrumentos fracos, para que se perceba claramente que a obra é dEle. São Paulo evoca com estremecimento a sua vocação: E por último, depois de todos, foi também visto por mim, como por um aborto. Porque eu sou o mínimo dos Apóstolos, indigno de ser chamado Apóstolo porque persegui a Igreja de Deus.Assim escreve Saulo de Tarso, homem de uma personalidade e um vigor que a história nada mais fez do que agigantar.

Fomos chamados sem mérito algum da nossa parte, dizia: porque na base da vocação encontra-se o conhecimento da nossa miséria, a consciência de que as luzes que iluminam a alma - a fé -, o amor com que amamos - a caridade - e o desejo que nos sustém - a esperança -, são dons gratuitos de Deus. Por isso, não crescer em humildade significa perder de vista o propósito da eleição divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.

E agora, partindo dessa humildade, podemos compreender toda a maravilha da chamada divina. A mão de Cristo colheu-nos de um trigal: o semeador aperta em sua mão chagada o punhado de trigo. O sangue de Cristo banha a semente, empapa-a. Depois, o Senhor lança ao ar esse trigo, para que, morrendo, seja vida e, afundando-se na terra, seja capaz de multiplicar-se em espigas de ouro.

Identificar-se com Cristo não é meta fácil. Mas também não é difícil, se vivermos como o Senhor nos ensinou, se recorrermos diariamente à sua Palavra, se impregnarmos a nossa vida da realidade sacramental - a Eucaristia - que Ele nos deixou em alimento, porque o caminho do cristão é andadeiro, como lembra uma antiga canção da minha terra. Deus chamou-nos clara e inequivocamente. Como os Reis Magos, descobrimos uma estrela - que é luz e rumo - no céu da nossa alma.

Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.Foi o que aconteceu conosco. Nós também percebemos que pouco a pouco se acendia na alma um novo resplendor: o desejo de sermos plenamente cristãos; se assim me posso exprimir, a ânsia de tomarmos Deus a sério. Se cada um de nós se pusesse agora a contar em voz alta o processo íntimo da sua vocação sobrenatural, os outros perceberiam que tudo isso era divino. Agradeçamos a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo e a Santa Maria, por meio da qual nos vêm todas as bênçãos do céu, este dom que, juntamente com a fé, é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de alcançar a plenitude da caridade, na convicção de que não só é possível, como também necessária, a santidade no meio das ocupações profissionais, sociais…

Consideremos a delicadeza com que o Senhor nos dirige o convite. Exprime-se com palavras humanas, como um enamorado: Eu te chamei pelo teu nome… Tu és meu.Deus, que é a Formosura, a Grandeza, a Sabedoria, anuncia-nos que somos seus, que nos escolheu como termo do seu amor infinito. É precisa uma forte vida de fé para não desvirtuarmos esta maravilha que a Providência Divina deposita em nossas mãos. Fé como a dos Reis Magos: a convicção de que nem o deserto, nem as tempestades, nem a tranqüilidade dos oásis nos impedirão de chegar à meta do Presépio eterno: a vida definitiva com Deus.

Não ama a Cristo quem não ama a Santa Missa, quem não se esforça por vivê-la com serenidade e sossego, com devoção e carinho. O amor converte os enamorados em pessoas de sensibilidade fina e delicada; leva-os a descobrir, para que se esmerem em vivê-los, pormenores às vezes insignificantes, mas que trazem a marca de um coração apaixonado. É assim que devemos assistir à Santa Missa. Por isso sempre desconfiei das pessoas empenhadas em ouvir uma Missa curta e atropelada: pareciam-me demonstrar com essa atitude, aliás pouco elegante, não terem percebido ainda o que significa o Sacrifício do altar.

O amor a Cristo, que se oferece por nós, incita-nos a saber encontrar, uma vez terminada a Missa, alguns minutos para uma ação de graças pessoal e íntima, que prolongue no silêncio do coração essa outra ação de graças que é a Eucaristia. Como havemos de nos dirigir a Ele, como falar-Lhe, como comportar-nos?

A vida cristã não se compõe de normas rígidas, porque o Espírito Santo não dirige as almas em massa, mas em cada uma infunde propósitos, inspirações e afetos que a ajudarão a reconhecer e a cumprir a vontade do Pai. Penso, não obstante, que em muitas ocasiões o nervo do nosso diálogo com Cristo, da ação de graças após a Santa Missa, pode ser a consideração de que o Senhor é para nós Rei, Médico, Mestre e Amigo.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura