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Há 2 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Caridade → amor a Deus e aos homens.

Oferecemos incenso: os desejos - que sobem até o Senhor - de levar uma vida nobre, da qual se desprenda o bonus odor Christi , O perfume de Cristo. Impregnar nossas palavras e ações desse bonus odor é semear compreensão, amizade. Que a nossa vida acompanhe a vida dos demais homens, para que ninguém se encontre ou se sinta só. Nossa caridade deve ser também carinho, calor humano.

Assim no-lo ensina Jesus Cristo. Fazia séculos que a humanidade esperava a vinda do Salvador; os profetas haviam-no anunciado de mil maneiras, e - embora grande parte da Revelação de Deus aos homens se tivesse perdido em conseqüência do pecado e da ignorância -, até nos confins da terra se conservava o desejo de Deus, a ânsia de redenção.

Chega a plenitude dos tempos e, para levar a cabo essa missão, não aparece um gênio filosófico, como Platão ou Sócrates; não se instala na terra um conquistador poderoso, como Alexandre Magno. Nasce um Infante em Belém: é o Redentor do mundo. Mas, antes de falar, ama com obras. Não traz nenhuma fórmula mágica, porque sabe que a salvação que nos oferece tem que passar pelo coração do homem. Suas primeiras ações são risos e choros de criança, sono inerme de um Deus humanado: para nos cativar, para que saibamos acolhê-lo em nossos braços.

Uma vez mais ganhamos consciência do que é o cristianismo. Se o cristão não ama com obras, fracassa como cristão, que é fracassar também como pessoa. Não podemos pensar nos outros homens como se fossem números ou degraus para nós podermos subir; ou massa para ser exaltada ou humilhada, adulada ou desprezada, conforme os casos. Devemos pensar nos outros - em primeiro lugar, nos que estão ao nosso lado - como verdadeiros filhos de Deus que são, com toda a dignidade desse título maravilhoso.

Com os filhos de Deus temos que nos comportar como filhos de Deus: o nosso amor deve ser sacrificado, diário, feito de mil detalhes de compreensão, de sacrifício silencioso, de dedicação que não se percebe. Este é o bonus odor Christi, que fazia dizer aos que viviam entre os nossos primeiros irmãos na fé: Vede como se amam!

Não falo de um ideal utópico. O cristão não é um Tartarin de Tarascon, empenhado em caçar leões onde não os pode encontrar: nos corredores de sua própria casa. Quero falar sempre de uma vida diária e concreta: da santificação do trabalho, das relações familiares, da amizade. Se não somos cristãos nesses momentos, quando o seremos? O bom perfume do incenso é o resultado de uma brasa que queima sem espetáculo uma grande quantidade de grãos. O bonus odor Christi faz-se sentir entre os homens, não pelas labaredas de um fogo de palha, mas pela eficácia de um rescaldo de virtudes: a justiça, a lealdade, a fidelidade, a compreensão, a generosidade, a alegria.

É Rei, e anseia por reinar em nossos corações de filhos de Deus. Mas não imaginemos reinados humanos; Cristo não domina nem procura impor-se, porque não veio para ser servido, mas para servir.

Seu reino é a paz, a alegria, a justiça. Cristo, nosso Rei, não espera de nós raciocínios vãos, mas fatos, porque nem todo aquele que diz Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus; mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará.

É Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a sua graça penetre até o fundo da alma. Jesus advertiu-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Domine, si vis, potes me mundare , Senhor, se quiseres - e Tu queres sempre -, podes curar-me. Tu conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. E descobrimos com simplicidade as chagas; e o pus, se houver pus. Senhor, Tu que curaste tantas almas, faz com que, ao ter-te no meu peito ou ao contemplar-te no Sacrário, te reconheça como Médico divino.

É Mestre de uma ciência que só Ele possui: a do amor sem limites a Deus e, em Deus, a todos os homens. Na escola de Cristo, aprende-se que a nossa existência não nos pertence. Ele entregou a sua vida por todos os homens e, se o seguimos, devemos compreender que também nós não podemos apropriar-nos da nossa de maneira egoísta, sem partilhar das dores dos outros. Nossa vida é de Deus e temos que gastá-la ao seu serviço, preocupando-nos generosamente com as almas e demonstrando com a palavra e o exemplo a profundidade das exigências cristãs.

Jesus espera que alimentemos o desejo de adquirir essa ciência, para nos repetir: Quem tiver sede, venha a mim e beba. E respondemos: ensina-nos a esquecer-nos de nós mesmos, para pensar em Ti e em todas as almas. Deste modo, o Senhor nos levará para a frente com a sua graça, como quando começávamos a escrever - não nos lembramos daqueles traços verticais que fazíamos na infância, guiados pela mão do professor? -, e assim começaremos a saborear a felicidade de manifestar a nossa fé - que já é outra dádiva de Deus - com traços inequívocos de conduta cristã, onde todos possam ler as maravilhas divinas.

É Amigo, o Amigo: Vos autem dixi amicos.Chama-nos amigos e foi Ele quem deu o primeiro passo; amou-nos primeiro. Mas não impõe o seu amor: oferece-o. E prova-o com o sinal mais claro da amizade: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Era amigo de Lázaro, e chorou por ele quando o viu morto. E o ressuscitou. Se nos vir frios, apáticos, talvez com a rigidez de uma vida interior que se extingue, seu pranto será vida para nós: Eu te ordeno, meu amigo, levanta-te e anda , sai dessa vida mesquinha, que não é vida.