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Há 3 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Céu → a Eucaristia, penhor da vida eterna.

Gostaria que, ao considerarmos tudo isto, tomássemos consciência da nossa missão de cristãos e volvêssemos os olhos para a Sagrada Eucaristia, para Jesus que, presente entre nós, nos constituiu seus membros: Vos estis corpus Christi et membra de membro , vós sois o corpo de Cristo e membros unidos a outros membros. Nosso Deus decidiu permanecer no Sacrário para nos alimentar, para nos fortalecer, para nos divinizar, para dar eficácia ao nosso trabalho e ao nosso esforço. Jesus é simultaneamente o semeador, a semente e o fruto da semeadura: é o Pão da vida eterna.

Este milagre da Sagrada Eucaristia, que continuamente se renova, encerra todas as características do modo como Jesus se comporta. Perfeito Deus e perfeito homem, Senhor dos céus e da terra, Ele se oferece a cada um como sustento, da maneira mais natural e comum. Assim espera o nosso amor, desde há quase dois mil anos. É muito tempo e não é muito tempo: porque, quando há amor, os dias voam.

Vem à minha memória uma encantadora poesia galega, uma das cantigas de Afonso X, o Sábio. É a lenda de um monge que, na sua simplicidade, suplicou a Santa Maria que lhe deixasse contemplar o céu, ainda que fosse por um instante. A Virgem acolheu seu desejo, e o bom monge foi levado ao Paraíso. Quando regressou, não reconhecia nenhum dos moradores do mosteiro: a sua oração, que lhe parecera brevíssima, havia durado três séculos. Três séculos não são nada para um coração que ama. Assim compreendo eu esses dois mil anos de espera do Senhor na Eucaristia. É a espera de um Deus que ama os homens, que nos procura, que nos quer tal como somos - limitados, egoístas, inconstantes -, mas com capacidade para descobrir seu infinito carinho e nos entregarmos a Ele por inteiro.

Por amor e para nos ensinar a amar, veio Jesus à terra e ficou entre nós na Eucaristia. Como tivesse amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Com estas palavras começa São João o relato do que sucedeu naquela véspera da Páscoa, em que Jesus - refere-nos São Paulo - tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim. E do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento do meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes.

É o momento simples e solene da instituição do Novo Testamento. Jesus derroga a antiga economia da Lei e revela-nos que Ele mesmo será o conteúdo da nossa oração e da nossa vida.

Reparemos na alegria que inunda a liturgia de hoje: Seja o louvor pleno, sonoro, alegre. É o júbilo cristão que canta a chegada de outro tempo: Terminou a antiga Páscoa, inicia-se a nova. O velho é substituído pelo novo, a verdade faz a sombra desaparecer, a noite é eliminada pela luz.

Milagre de amor. Este é verdadeiramente o pão dos filhos : Jesus, o Primogênito do Pai Eterno, se oferece a todos nós em alimento. E o mesmo Jesus Cristo, que aqui nos robustece, espera-nos no céu como comensais, co-herdeiros e sócios , porque aqueles que se nutrem de Cristo morrerão de morte terrena e temporal, mas depois viverão eternamente, porque Cristo é a vida imperecível.

Para o cristão que se conforta com o maná definitivo da Eucaristia, a felicidade eterna começa já agora. O que era velho passou; deixemos de lado as coisas caducas, seja tudo novo para nós: os corações, as palavras e as obras.

Esta é a Boa Nova. É novidade, notícia, porque nos fala de uma nova profundidade de Amor de que antes não suspeitávamos. É boa, porque nada há de melhor que unir-nos intimamente a Deus, Bem de todos os bens. É a Boa Nova, porque, de alguma maneira, e de um modo indescritível, nos antecipa a eternidade.

Jesus esconde-se no Santíssimo Sacramento do altar para que nos atrevamos a procurar a sua companhia, para ser nosso sustento, e para que assim nos tornemos uma só coisa com Ele. Quando disse: Sem mim, nada podeis fazer , não condenou o cristão à ineficácia nem o obrigou a uma busca árdua e difícil da sua Pessoa. Ficou entre nós com uma disponibilidade total.

Nos momentos em que nos reunimos diante do altar, enquanto se celebra o Santo Sacrifício da Missa, quando contemplamos a Sagrada Hóstia exposta no ostensório ou a adoramos escondida no Sacrário, devemos reavivar a nossa fé, pensar na nova existência que vem até nós, e comover-nos perante o carinho e a ternura de Deus.

E perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos, na comunicação da fração do pão e nas orações. É assim que as Escrituras nos descrevem a conduta dos primeiros cristãos: congregados pela fé dos Apóstolos em perfeita unidade, ao participarem da Eucaristia; unânimes na oração. Fé, Pão, Palavra.

Jesus na Eucaristia é penhor firme da sua presença em nossas almas; do seu poder, que sustenta o mundo; das suas promessas de salvação, que ajudarão a família humana a habitar perpetuamente na casa do céu, quando chegar o fim dos tempos, em torno de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo: Trindade Beatíssima, Deus Único. É toda a nossa fé que se põe em movimento quando cremos em Jesus, na sua presença real sob os acidentes do pão e do vinho.