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Há 2 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Ciência → doutrina.

Jesus respondeu não ao demônio, ao príncipe das trevas. E logo se manifesta a luz. Depois disso o diabo o deixou; e eis que os anjos se aproximaram e o serviam. Jesus suportou a prova, uma prova verdadeira, porque, como comenta Santo Ambrósio, não procedeu como Deus, usando do seu poder - senão, de que nos serviria o seu exemplo? -, mas, como homem, serviu-se dos meios que tem em comum conosco.

O demônio citou malevolamente o Antigo Testamento: Deus mandará seus anjos para que protejam o justo em todos os seus caminhos. Mas Jesus, recusando-se a tentar seu Pai, devolve a esta passagem bíblica o seu verdadeiro sentido. E, como prêmio à sua fidelidade, quando chega a hora, apresentam-se os mensageiros de Deus Pai para o servirem.

Vale a pena considerar o método que Satanás emprega com Jesus Cristo Senhor Nosso: argumenta com textos dos livros sagrados, desfigurando de forma blasfema o seu sentido. Jesus não se deixa enganar: o Verbo feito carne conhece bem a Palavra Divina, escrita para salvação dos homens, e não para sua confusão e condenação. Quem estiver unido a Jesus Cristo pelo Amor - podemos concluir - não se deixará nunca enganar pelo manejo fraudulento da Escritura Santa, porque sabe que é obra típica do demônio procurar confundir a consciência cristã, esgrimindo dolosamente com os próprios termos empregados pela eterna Sabedoria, tentando transformar a luz em trevas.

Contemplemos brevemente esta intervenção dos anjos na vida de Jesus, pois assim entenderemos melhor o seu papel - a missão angélica - em toda a vida humana. A tradição cristã descreve os Anjos da Guarda como grandes amigos, colocados por Deus ao lado de cada homem para o acompanharem em seus caminhos. Por isso nos convida a procurar a sua intimidade, a recorrer a eles.

Ao fazer-nos meditar nestas passagens da vida de Cristo, a Igreja recorda-nos que, neste tempo da Quaresma, em que nos reconhecemos pecadores, cheios de misérias, necessitados de purificação, também há lugar para a alegria. Porque a Quaresma é simultaneamente tempo de fortaleza e de júbilo: temos que encher-nos de coragem, já que a graça do Senhor não nos há de faltar; Deus estará ao nosso lado e enviará seus Anjos para que sejam nossos companheiros de viagem, nossos prudentes conselheiros ao longo do caminho, nossos colaboradores em todas as nossas tarefas. In manibus portabunt te, ne forte offendas ad lapidem pedem tuum , continua o salmo: os Anjos te levarão nas mãos, para que teu pé não tropece em pedra alguma.

Temos que saber tratar os Anjos com intimidade: recorrer a eles agora, dizer ao nosso Anjo da Guarda que estas águas sobrenaturais da Quaresma não resvalaram sobre a nossa alma, mas penetraram nela até o fundo, porque temos o coração contrito. Peçamos-lhe que leve até o Senhor a boa vontade que a graça fez germinar sobre a nossa miséria, como um lírio nascido no meio do esterco. Sancti Angeli Custodes nostri, defendite nos in proelio, ut non pereamus in tremendo iudicio. Santos Anjos da Guarda, defendei-nos no combate, para que não pereçamos no tremendo Juízo.

Na Igreja de Deus, é obrigação de todos nós perseverarmos com firmeza no propósito de ser sempre mais leais à doutrina de Cristo. Ninguém está dispensado. Se os pastores não lutassem pessoalmente por adquirir delicadeza de consciência, respeito fiel ao dogma e à moral - que constituem o depósito da fé e o patrimônio comum -, tornar-se-iam realidade as palavras proféticas de Ezequiel: Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e diz a esses pastores: Assim fala o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Porventura não são os rebanhos que devem ser apascentados pelos pastores? Vós bebestes o seu leite e vestistes as suas lãs… Não fortalecestes as ovelhas fracas e não curastes as doentes, não vendastes as que estavam feridas nem reconduzistes as transviadas; não buscastes as que se tinham perdido e a todas tratastes com violência e dureza.

São repreensões fortes; porém, mais grave é a ofensa que se faz a Deus quando, tendo recebido a incumbência de velar pelo bem espiritual de todos, se maltratam as almas, privando-as da água limpa do Batismo, que regenera a alma; do óleo balsâmico da Crisma, que a fortalece; do tribunal que perdoa, do alimento que dá a vida eterna.

Quando podem acontecer estas coisas? Quando se abandona esta guerra de paz. Quem não luta expõe-se a qualquer das escravidões que sabem agrilhoar os corações de carne: a escravidão de uma visão exclusivamente humana, a escravidão do desejo opressivo de poder e de prestígio temporal, a escravidão da vaidade, a escravidão do dinheiro, a servidão da sensualidade…

Se alguma vez tropeçarmos com pastores indignos desse nome - Deus pode permitir semelhante prova -, não nos escandalizemos. Cristo prometeu assistência infalível e indefectível à sua Igreja, mas não garantiu a fidelidade dos homens que a compõem. A estes não faltará graça abundante e generosa, se souberem contribuir com o pouco que Deus lhes pede: vigiar atentamente, empenhando-se em remover com a graça de Deus os obstáculos à santidade. Se não houver luta, mesmo os que parecem estar muito alto podem estar muito baixo aos olhos de Deus. Conheço as tuas obras, a tua conduta. Consideram-te vivo, mas estás morto. Permanece atento e consolida o resto do rebanho que está para morrer, pois não achei as tuas obras perfeitas diante do meu Deus. Lembra-te da doutrina que recebeste e ouviste. Observa-a e arrepende-te.

São exortações do Apóstolo São João, no século I, dirigidas a quem detinha a responsabilidade da Igreja na cidade de Sardes. Porque o possível debilitamento do senso de responsabilidade em alguns pastores não é um fenômeno moderno; surge já nos tempos dos Apóstolos, no próprio século em que Jesus Cristo Nosso Senhor viveu na terra. É que ninguém está seguro, se deixa de lutar consigo mesmo. Ninguém se pode salvar sozinho. Todos na Igreja necessitamos desses meios específicos que nos fortalecem: da humildade, que nos persuade a aceitar ajuda e conselho; das mortificações, que aplainam o coração, para que nele reine Cristo; do estudo da Doutrina segura de sempre, que nos leva a conservar em nós a fé e a propagá-la.