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Há 2 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Humildade → humildade de Nossa Senhora.

Mas prestemos atenção: se, por um lado, Deus quis exaltar sua Mãe, por outro, não há dúvida de que, durante a sua vida terrena, Maria não foi poupada nem à experiência da dor, nem ao cansaço do trabalho, nem ao claro-escuro da fé. Aquela mulher do povo que um dia prorrompeu em louvores a Jesus, exclamando: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram, o Senhor responde: Antes bem-aventurados os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática. Era o elogio de sua Mãe, do seu fiat , do faça-se sincero, rendido, posto em prática até às últimas conseqüências, e que não se manifestou em ações aparatosas, mas no sacrifício escondido e silencioso de cada dia.

Ao meditarmos nestas verdades, compreendemos um pouco mais a lógica de Deus, percebemos que o valor sobrenatural da nossa vida não depende de que se tornem realidade as grandes façanhas que às vezes forjamos com a imaginação, mas da aceitação fiel da vontade divina, de uma disposição generosa em face dos pequenos sacrifícios diários.

Para sermos divinos, para nos endeusarmos, temos que começar por ser muito humanos, vivendo de frente para Deus a nossa condição de homens comuns, santificando esta aparente pequenez. Assim viveu Maria. A cheia de graça, aquela que é objeto das complacências de Deus, aquela que está acima dos anjos e dos santos, teve uma existência normal. Maria é uma criatura como nós, com um coração como o nosso, capaz de gozos e alegrias, de sofrimentos e lágrimas. Antes de Gabriel lhe ter comunicado o querer de Deus, Nossa Senhora ignorava que havia sido escolhida desde toda a eternidade para ser a Mãe do Messias. Considera-se cheia de baixeza. Por isso reconhece logo, com profunda humildade, que nEla fez grandes coisas Aquele que é Todo-Poderoso.

A pureza, a humildade e a generosidade de Maria contrastam com a nossa miséria, com o nosso egoísmo. É natural que, depois de nos apercebermos disso, nos sintamos impelidos a imitá-la; somos criaturas de Deus, como Ela, e basta que nos esforcemos por ser fiéis, para que também em nós o Senhor faça grandes coisas. Não será obstáculo a nossa pouca valia, porque Deus escolhe o que vale pouco para que assim brilhe melhor a potência do seu amor.

Nossa Mãe é modelo de correspondência à graça, e, ao contemplarmos a sua vida, o Senhor nos dará luz para que saibamos divinizar a nossa existência de todos os dias. Ao longo do ano, quando celebramos as festas marianas, e em bastantes momentos de cada dia, nós, cristãos, pensamos muitas vezes na Virgem. Se aproveitarmos esses instantes, imaginando como a nossa Mãe se comportaria nas tarefas que temos que realizar, iremos aprendendo pouco a pouco, e acabaremos por parecer-nos com Ela, como os filhos se parecem com sua Mãe.

Imitar, em primeiro lugar, o seu amor. A caridade não se limita aos sentimentos: deve estar presente nas palavras, mas sobretudo nas obras. A Virgem não se limitou a dizer fiat, mas cumpriu em todos os momentos essa decisão firme e irrevogável. Assim também nós: quando o amor de Deus nos aguilhoar e soubermos o que Ele quer, deveremos comprometer-nos a ser fiéis, leais, mas a sê-lo efetivamente. Porque nem todo o que diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas o que faz a vontade do meu Pai celestial, esse entrará no reino dos céus.

Temos que imitar a sua natural e sobrenatural elegância. Maria é uma criatura privilegiada na história da salvação: nEla o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Foi testemunha delicada, que passa despercebida; não foi amiga de receber louvores, porque não ambicionou a sua própria glória. Maria assiste aos mistérios da infância de seu Filho, mistérios, se assim se pode dizer, cheios de normalidade; mas à hora dos grandes milagres e das aclamações populares, desaparece. Em Jerusalém, quando Cristo - montado sobre um jumentinho - é vitoriado como Rei, Maria não se encontra presente. Mas reaparece junto da Cruz, quando todos fogem. Este modo de se comportar tem o sabor - não procurado - da grandeza, da profundidade, da santidade da sua alma.

Procuremos aprender também seu exemplo de obediência a Deus, nessa delicada combinação de escravidão e fidalguia. Em Maria não há nada que lembre a atitude das virgens néscias, que obedecem, mas estouvadamente. Nossa Senhora ouve com atenção o que Deus quer, pondera o que não entende, pergunta o que não sabe. Depois, entrega-se por completo ao cumprimento da vontade divina: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Vemos a maravilha? Santa Maria, mestra de toda a nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é servilismo, não subjuga a consciência; pelo contrário, move-nos interiormente a descobrir a liberdade dos filhos de Deus.