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A digressão que acabo de fazer tem por única finalidade pôr de manifesto uma verdade central: lembrar que a vida cristã encontra o seu sentido em Deus. Os homens não foram criados apenas para edificar um mundo o mais justo possível; para além disso, fomos estabelecidos na terra para entrar em comunhão com o próprio Deus. Jesus Cristo não nos prometeu nem a comodidade temporal nem a glória terrena, mas a casa de Deus Pai, que nos espera no termo do caminho.

A liturgia da Sexta-Feira Santa inclui um hino maravilhoso - o Crux fidelis - em que somos convidados a cantar e a celebrar o glorioso combate do Senhor, o troféu da Cruz, o preclaro triunfo de Cristo. O Redentor do Universo, ao ser imolado, vence. Deus, Senhor de todas as coisas criadas, não afirma a sua presença pela força das armas, ou mesmo pelo poder temporal dos seus, mas pela grandeza do seu amor infinito.

O Senhor não destrói a liberdade do homem: foi Ele precisamente que nos fez livres. Por isso, não quer respostas forçadas; quer decisões que procedam da intimidade do coração. E espera dos cristãos que vivamos de tal maneira que os que estão em contacto conosco percebam, por cima das nossas próprias misérias, erros e deficiências, o eco do drama de amor do Calvário. Tudo o que temos, recebemo-lo de Deus, para sermos sal que salgue, luz que leve aos homens a notícia alegre de que Ele é um Pai que ama sem medida. O cristão é sal e luz do mundo, não porque vence ou triunfa, mas porque dá testemunho do amor de Deus; e não será sal se não servir para salgar; não será luz se, com o seu exemplo e com a sua doutrina, não oferecer um testemunho de Jesus, se perder o que constitui a razão de ser da sua vida.

Referências da Sagrada Escritura
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