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Os textos das Sagradas Escrituras que nos falam de Nossa Senhora mostram-nos precisamente como a Mãe de Jesus acompanha seu Filho passo a passo, associando-se à sua missão redentora, alegrando-se e sofrendo com Ele, amando aqueles a quem Jesus ama, ocupando-se com solicitude maternal de todos os que estão ao seu lado.

Pensemos, por exemplo, no relato das bodas de Caná. Entre tantos convidados de uma dessas ruidosas bodas do meio rural, a que comparecem pessoas de vários povoados, Maria percebe que falta vinho. Só Ela o percebe, e sem demora. Como se nos revelam familiares as cenas da vida de Cristo! Porque a grandeza de Deus convive com as coisas normais e comuns. É próprio de uma mulher e de uma solícita dona de casa notar um descuido, prestar atenção a esses pequenos detalhes que tornam agradável a existência humana: e foi assim que Maria se comportou.

Reparemos também que é João quem relata o episódio de Caná: é o único evangelista que registra esse gesto de solicitude maternal. São João quer recordar-nos que Maria esteve presente no começo da vida pública do Senhor, e com isso demonstra que soube aprofundar na importância da presença da Senhora. Jesus sabia a quem confiava sua Mãe: a um discípulo que a amara, que aprendera a querer-lhe como à sua própria mãe e que era capaz de entendê-la.

Relembremos agora os dias que se seguiram à Ascensão, na expectativa do Pentecostes. Os discípulos, cheios de fé pelo triunfo de Cristo ressuscitado, e ansiosos ante a promessa do Espírito Santo, querem sentir-se unidos, e vamos encontrá-los cum Maria, Matre Iesu, com Maria, a Mãe de Jesus. A oração dos discípulos acompanha a oração de Maria; era a oração de uma família unida.

Desta vez, quem nos transmite esse dado é São Lucas, o evangelista que mais longamente narrou a infância de Jesus. É como se quisesse dar-nos a entender que, assim como Maria teve um papel primordial na Encarnação do Verbo, de modo análogo esteve também presente nas origens da Igreja, que é o Corpo de Cristo.

Desde o primeiro momento da vida da Igreja, todos os cristãos que têm procurado o amor de Deus - esse amor que se nos revela e se faz carne em Jesus Cristo - encontraram-se com a Virgem e experimentaram de maneiras muito diferentes o seu desvelo maternal. A Virgem Santíssima pode chamar-se verdadeiramente Mãe de todos os cristãos. Santo Agostinho disse-o com palavras claras: Cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja os fiéis, membros daquela cabeça de que Ela é efetivamente Mãe segundo o corpo.

Não é, pois, de estranhar que um dos testemunhos mais antigos da devoção a Maria seja precisamente uma oração cheia de confiança. Refiro-me a uma antífona composta há séculos e que ainda hoje continuamos a repetir: À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as súplicas que em nossas necessidades vos dirigimos, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.

Referências da Sagrada Escritura
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