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Naquela romaria de que antes falava, enquanto caminhávamos até à ermida de Sonsoles, passamos junto de uns campos de trigo. A messe brilhava ao sol, embalada pelo vento. Veio então à minha memória um texto do Evangelho, umas palavras que o Senhor dirigiu ao grupo dos seus discípulos: Não dizeis vós que dentro de quatro meses virá a colheita? Pois eu vos digo: erguei os olhos e vede os campos que já branqueiam para a ceifa. Pensei uma vez mais que o Senhor queria suscitar em nossos corações o mesmo empenho, o mesmo fogo que dominava o seu. E, afastando-me um pouco do caminho, colhi umas espigas para que me servissem de lembrança.

É preciso abrir os olhos, saber olhar ao nosso redor e reconhecer essas chamadas que Deus nos dirige através dos que nos cercam. Não podemos viver de costas para a multidão, encerrados no nosso pequeno mundo. Não foi assim que Jesus viveu. Os Evangelhos falam-nos muitas vezes da sua misericórdia, da sua capacidade de participar da dor e das necessidades dos outros: compadece-se da viúva de Naim , chora a morte de Lázaro , preocupa-se com as multidões que o seguem e não têm que comer , compadece-se sobretudo dos pecadores, dos que caminham pelo mundo sem conhecerem a luz nem a verdade: Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

Quando somos verdadeiramente filhos de Maria, compreendemos essa atitude do Senhor, nosso coração se dilata e revestimo-nos de entranhas de misericórdia. Dóem-nos, então, os sofrimentos, as misérias, os erros, a solidão, a angústia, a dor dos outros homens, nossos irmãos. E sentimos a urgência de ajudá-los em suas necessidades e de lhes falar de Deus, para que saibam tratá-lo como filhos e possam conhecer as delicadezas maternais de Maria.

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