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Consideremos toda a riqueza que se encerra nestas palavras: Sagrado Coração de Jesus.

Quando falamos de um coração humano, não nos referimos apenas aos sentimentos; aludimos à pessoa toda - que quer, que ama, que convive com os outros. E, no modo de os homens se exprimirem, que a Sagrada Escritura acolheu para nos dar a entender as coisas divinas, o coração é considerado como o resumo e a fonte, a expressão e o fundo íntimo dos pensamentos, das palavras, das ações. Um homem vale o que valer o seu coração, poderíamos dizer com palavras da nossa linguagem.

Ao coração pertencem a alegria: Alegre-se meu coração com o teu auxílio ; o arrependimento: Meu coração é como cera que se derrete dentro do meu peito ; o louvor a Deus: Do meu coração brota formoso canto ; a decisão necessária para ouvir o Senhor: Meu coração está disposto ; a vigília amorosa: Eu durmo, mas meu coração vigia. E ainda a dúvida e o temor: Não se perturbe o vosso coração, crede em Mim.

O coração não se limita a sentir; também sabe e entende. A lei de Deus é recebida no coração e nele permanece escrita. E a Escritura acrescenta: Da abundância do coração fala a boca. O Senhor lançou em rosto a uns escribas esta censura: Por que pensais mal em vossos corações?. E, para resumir todos os pecados que um homem pode cometer, disse: Do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias.

Quando na Sagrada Escritura se fala do coração, não se alude a um sentimento passageiro, que produz emoção ou lágrimas. Fala-se do coração para indicar a pessoa que, como o próprio Jesus Cristo nos manifestou, se orienta toda ela - alma e corpo -, para o que considera seu bem: porque onde está o teu tesouro, aí está o teu coração.

Por isso, quando falamos do Coração de Jesus, pomos de manifesto a certeza do amor de Deus e a verdade da sua entrega por nós. Recomendar a devoção a esse Sagrado Coração equivale a recomendar que nos orientemos integralmente - com tudo o que somos: alma, sentimentos, pensamentos, palavras e ações, trabalhos e alegrias - para Jesus todo.

Nisto se traduz a verdadeira devoção ao Coração de Jesus: em conhecer a Deus e nos conhecermos a nós mesmos, e em olhar para Jesus e recorrer a Jesus, que nos anima, nos ensina, nos guia. A única superficialidade que pode existir nesta devoção é a do homem que, não sendo integralmente humano, não consegue alcançar a realidade de um Deus feito carne.

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