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O pecado dos fariseus não consistia em não verem Deus em Cristo, mas em se encerrarem voluntariamente em si mesmos; em não tolerarem que Jesus, que é a luz, lhes abrisse os olhos. Esse nevoeiro tem resultados imediatos na vida de relação com os nossos semelhantes. O fariseu que, julgando-se luz, não deixa que Deus lhe abra os olhos, é o mesmo que tratará soberba e injustamente o próximo, rezando assim: Dou-te graças porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano.E quanto ao cego de nascença, que persiste em contar a verdade da cura milagrosa, ofendem-no: Saíste do ventre de tua mãe coberto de pecados, e queres ensinar-nos? E expulsaram-no.

Entre os que não conhecem Cristo, há muitos homens honrados que, por elementar circunspecção, sabem comportar-se delicadamente: são sinceros, cordiais, educados. Se eles e nós não nos opusermos a ser curados por Cristo da cegueira que ainda resta em nossos olhos, se permitirmos que o Senhor nos aplique esse lodo que, em suas mãos, se converte no colírio mais eficaz, compreenderemos as realidades terrenas e vislumbraremos as eternas sob uma luz nova, a luz da fé; teremos adquirido um olhar limpo.

Esta é a vocação do cristão: a plenitude dessa caridade que é paciente, benigna, não tem inveja, não é temerária, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não é interesseira, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a injustiça, compraz-se na verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

A caridade de Cristo não é apenas um bom sentimento em relação ao próximo: não se detém no gosto pela filantropia. A caridade, infundida por Deus na alma, transforma por dentro a inteligência e a vontade; dá base sobrenatural à amizade e à alegria de fazer o bem.

Contemplemos a cena da cura do coxo, narrada pelos Atos dos Apóstolos. Subiam Pedro e João ao templo e, ao passarem, encontraram um homem sentado à porta, que era coxo de nascença. Tudo nos lembra aquela outra cura do cego. Mas agora os discípulos já não pensam que a desgraça se deva aos pecados pessoais do enfermo ou às faltas de seus pais. E dizem-lhe: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda.Antes derramavam incompreensão, agora misericórdia; antes julgavam temerariamente, agora curam milagrosamente no nome do Senhor. Sempre Cristo que passa! Cristo que continua a passar pelas ruas e pelas praças do mundo, através de seus discípulos, os cristãos. Peço-Lhe fervorosamente que passe pela alma de alguns dos que me escutam neste momento.

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