73

Como toda a festa cristã, esta que hoje celebramos é especialmente uma festa de paz. No seu antigo simbolismo, os ramos evocam a cena narrada pelo Gênesis: Depois de ter esperado outros sete dias, Noé soltou de novo a pomba. E eis que pela tarde ela voltou, trazendo no bico um ramo de oliveira com folhas verdes. Entendeu, pois, Noé que as águas já não cobriam a terra.Recordamos agora que a aliança entre Deus e seu povo é confirmada e estabelecida em Cristo, porque Ele é a nossa paz. Nessa maravilhosa unidade e recapitulação do velho no novo, que caracteriza a liturgia da nossa Santa Igreja Católica, lemos no dia de hoje estas palavras de profunda alegria: Os filhos dos hebreus, levando ramos de oliveira, saíram ao encontro do Senhor, clamando e dizendo: Glória nas alturas.

A aclamação a Jesus Cristo vem unir-se na nossa alma àquela outra que saudou o seu nascimento em Belém. E por onde Jesus passava, conta São Lucas, as multidões estendiam seus mantos pelo caminho. E quando já ia chegando àdescida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus, em altos brados, por todos os prodígios que tinha visto, dizendo: bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor, paz no céu e glória nas alturas.

Pax in coelo, paz no céu. Mas olhemos também para o mundo: por que não há paz na terra? Não, não há paz na terra. Há somente aparência de paz, equilíbrio de medo, compromissos precários. Não há paz nem mesmo na Igreja, sulcada por tensões que retalham a alva túnica da Esposa de Cristo. Não há paz em muitos corações que tentam em vão compensar a intranqüilidade da alma com o bulício contínuo, com a pequena satisfação de bens que não saciam, porque deixam sempre o sabor amargo da tristeza.

As folhas de palma, escreve Santo Agostinho, são símbolo de homenagem, porque significam vitória. O Senhor estava prestes a vencer, morrendo na Cruz; pelo sinal da Cruz, ia triunfar sobre o Diabo, o príncipe da morte. Cristo é a nossa paz porque venceu; e venceu porque lutou, no duro combate contra a maldade acumulada nos corações humanos.

Cristo, que é a nossa paz, é também o Caminho. Se queremos a paz, temos que seguir os seus passos. A paz é conseqüência da guerra, da luta, dessa luta ascética, íntima, que cada cristão deve sustentar contra tudo o que em sua vida não for de Deus: contra a soberba, a sensualidade, o egoísmo, a superficialidade, a estreiteza de coração. É inútil clamar por sossego exterior se falta tranqüilidade nas consciências, no fundo da alma, porque do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias.

Este ponto em outro idioma