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Na Igreja de Deus, é obrigação de todos nós perseverarmos com firmeza no propósito de ser sempre mais leais à doutrina de Cristo. Ninguém está dispensado. Se os pastores não lutassem pessoalmente por adquirir delicadeza de consciência, respeito fiel ao dogma e à moral - que constituem o depósito da fé e o patrimônio comum -, tornar-se-iam realidade as palavras proféticas de Ezequiel: Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e diz a esses pastores: Assim fala o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Porventura não são os rebanhos que devem ser apascentados pelos pastores? Vós bebestes o seu leite e vestistes as suas lãs… Não fortalecestes as ovelhas fracas e não curastes as doentes, não vendastes as que estavam feridas nem reconduzistes as transviadas; não buscastes as que se tinham perdido e a todas tratastes com violência e dureza.

São repreensões fortes; porém, mais grave é a ofensa que se faz a Deus quando, tendo recebido a incumbência de velar pelo bem espiritual de todos, se maltratam as almas, privando-as da água limpa do Batismo, que regenera a alma; do óleo balsâmico da Crisma, que a fortalece; do tribunal que perdoa, do alimento que dá a vida eterna.

Quando podem acontecer estas coisas? Quando se abandona esta guerra de paz. Quem não luta expõe-se a qualquer das escravidões que sabem agrilhoar os corações de carne: a escravidão de uma visão exclusivamente humana, a escravidão do desejo opressivo de poder e de prestígio temporal, a escravidão da vaidade, a escravidão do dinheiro, a servidão da sensualidade…

Se alguma vez tropeçarmos com pastores indignos desse nome - Deus pode permitir semelhante prova -, não nos escandalizemos. Cristo prometeu assistência infalível e indefectível à sua Igreja, mas não garantiu a fidelidade dos homens que a compõem. A estes não faltará graça abundante e generosa, se souberem contribuir com o pouco que Deus lhes pede: vigiar atentamente, empenhando-se em remover com a graça de Deus os obstáculos à santidade. Se não houver luta, mesmo os que parecem estar muito alto podem estar muito baixo aos olhos de Deus. Conheço as tuas obras, a tua conduta. Consideram-te vivo, mas estás morto. Permanece atento e consolida o resto do rebanho que está para morrer, pois não achei as tuas obras perfeitas diante do meu Deus. Lembra-te da doutrina que recebeste e ouviste. Observa-a e arrepende-te.

São exortações do Apóstolo São João, no século I, dirigidas a quem detinha a responsabilidade da Igreja na cidade de Sardes. Porque o possível debilitamento do senso de responsabilidade em alguns pastores não é um fenômeno moderno; surge já nos tempos dos Apóstolos, no próprio século em que Jesus Cristo Nosso Senhor viveu na terra. É que ninguém está seguro, se deixa de lutar consigo mesmo. Ninguém se pode salvar sozinho. Todos na Igreja necessitamos desses meios específicos que nos fortalecem: da humildade, que nos persuade a aceitar ajuda e conselho; das mortificações, que aplainam o coração, para que nele reine Cristo; do estudo da Doutrina segura de sempre, que nos leva a conservar em nós a fé e a propagá-la.

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