62

Sabemos que pertencem ao Opus Dei homens e mulheres de todas as condições sociais, solteiros ou casados. Qual é, então, o elemento comum que caracteriza a vocação para a Obra? Que compromissos assume cada sócio para realizar os fins do Opus Dei?

Vou dizê-lo em poucas palavras: é procurar chegar à santidade em meio do mundo, no meio da rua. Quem recebe de Deus a vocação específica para o Opus Dei sabe — e vive — que deve alcançar a santidade em seu próprio estado, no exercício de seu trabalho, manual ou intelectual. Disse sabe e vive, porque não se trata de aceitar um simples postulado teórico, mas de realizá-lo dia a dia, na vida ordinária.

Querer atingir a santidade — apesar dos erros e das misérias pessoais, que hão de durar enquanto vivermos — significa esforçar-se, com a graça de Deus, por viver a caridade, plenitude da lei e vínculo da perfeição. A caridade não é algo abstrato; significa entrega real e total ao serviço de Deus e de todos os homens: desse Deus que nos fala no silêncio da oração e no rumor do mundo; desses homens cuja existência se entrecruza com a nossa.

Vivendo a caridade — o Amor —, vivem-se todas as virtudes humanas e sobrenaturais do cristão, que formam uma unidade e que não se podem reduzir a enumerações exaustivas. A caridade exige que se viva a justiça, a solidariedade, a responsabilidade familiar, a alegria, a castidade, a amizade…

Logo se vê que a prática destas virtudes leva ao apostolado. Mais ainda: já é apostolado. Com efeito, quando se procura viver assim em meio do trabalho diário, a conduta cristã se transforma em bom exemplo, em testemunho, em ajuda concreta e eficaz; aprende-se a seguir as pegadas de Cristo, que coepit facere et docere (At 1, 1), que começou a fazer e a ensinar, unindo ao exemplo a palavra. Por isso chamei a este trabalho, faz quarenta anos, apostolado de amizade e de confidência.

Todos os sócios do Opus Dei têm este mesmo anseio de santidade e de apostolado. Por isso, na Obra não há graus ou categorias de sócios. O que existe é uma multiplicidade de situações pessoais — a situação que cada um tem no mundo — a que se acomoda a mesma e única vocação específica e divina: o chamado para que se entreguem, para que se empenhem pessoalmente , no cumprimento da vontade de Deus que lhe é manifestada.

Como se vê, o fenômeno pastoral do Opus Dei é algo que nasce de baixo para cima, isto é, a partir da vida corrente do cristão que vive e trabalha junto dos outros homens. Não está na linha da mundanização — dessacralização — da vida monástica ou religiosa; não é a última fase do movimento de aproximação dos religiosos ao mundo.

Quem recebe a vocação para o Opus Dei adquire uma nova visão das coisas que o rodeiam: luzes novas em suas relações sociais, em sua profissão, em suas preocupações, em suas tristezas e suas alegrias; mas nem por um instante deixa de viver em meio de tudo isso. E não é cabível, de maneira nenhuma, falar de adaptação ao mundo ou à sociedade moderna: ninguém se adapta ao que tem como próprio; no que se tem como próprio, se está. A vocação recebida é igual à que surgia na alma daqueles pescadores, camponeses comerciantes ou soldados que, sentados ao pé de Jesus Cristo na Galiléia, Lhe ouviam dizer: sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito (Mt 5, 48).

Esta perfeição, repito — a perfeição procurada pelo sócio do Opus Dei —, é a perfeição própria do cristão, sem mais: quer dizer, aquela a que todo cristão é chamado e que implica viver integralmente as exigências da fé. Não nos interessa a perfeição evangélica, que se considera própria dos religiosos e de algumas instituições assemelhadas aos religiosos; e menos ainda nos interessa a chamada vida de perfeição evangélica, que se refere canonicamente ao estado religioso.

O caminho da vocação religiosa me parece abençoado e necessário na Igreja; e não teria o espírito da Obra quem o não estimasse. Mas esse caminho não é o meu, nem o dos sócios do Opus Dei. Pode-se dizer que ao virem para o Opus Dei, todos e cada um de seus sócios o fizeram com a condição explícita de não mudar de estado. Nossa característica específica é santificar o estado que temos no mundo, santificando-se cada um dos sócios no lugar de seu encontro com Cristo: este é o compromisso assumido por cada sócio para realizar os fins do Opus Dei.

Este ponto em outro idioma