Frivolidade

Quando se pensa com a mente clara nas misérias da terra, e se contrasta esse panorama com as riquezas da vida com Cristo, a meu ver não se encontra senão uma palavra que qualifique - com expressão rotunda - o caminho que muitos escolhem: estupidez, estupidez, estupidez. Não é que a maioria dos homens nos enganemos; sucede-nos coisa bastante pior: somos tolos da cabeça aos pés.

É triste que não queiras esconder-te como um silhar, para alicerçar o edifício. Mas que te convertas em pedra onde os outros tropecem…, isso parece-me de malvados!

Não te escandalizes por haver maus cristãos, que fazem barulho e não praticam. O Senhor - escreve o Apóstolo - “há de pagar a cada um segundo as suas obras”: a ti, pelas tuas; e a mim, pelas minhas. - Se tu e eu nos decidirmos a portar-nos bem, para começar já haverá dois pilantras a menos no mundo.

Enquanto não lutares contra a frivolidade, a tua cabeça será semelhante a uma loja de bricabraque: não conterá senão utopias, sonhos e… trastes velhos.

Tens uma dose de “malandragem” que, se a empregasses com sentido sobrenatural, te serviria para ser um cristão formidável… - Mas, tal como a usas, não passas de um formidável “malandro”.

Quando te vejo tomar tudo à ligeira, lembras-me aquela velha piada: “Vem aí um leão!”, disseram-lhe. E respondeu o cândido naturalista: “E eu que tenho com isso? Eu caço borboletas!”

Uma pessoa terrível: o ignorante que é, ao mesmo tempo, trabalhador, infatigável. Não afrouxes, ainda que estejas morrendo de velho, no empenho por formar-te mais.

Desculpa própria do homem frívolo e egoísta: “Não gosto de comprometer-me com nada”.

Não queres nem uma coisa - o mal - nem outra - o bem -… E assim, mancando dos dois pés, além de errares de caminho, a tua vida fica cheia de vazio.

"In medio virtus…" - A virtude está no meio, diz a sábia sentença, para nos afastar dos extremismos. - Mas não vás cair no logro de converter esse conselho em eufemismo para encobrires a tua comodidade, matreirice, tibieza, “malandragem”, falta de ideais, aburguesamento. Medita aquelas palavras da Escritura Santa: “Oxalá fosses frio ou quente! Mas porque és tíbio, e não frio nem quente, estou para te vomitar da minha boca”.

Nunca chegas ao miolo. Ficas sempre no acidental! - Permite-me que te repita com a Escritura Santa: não fazes mais do que “falar ao vento”!

Não te comportes tu como esses que, ouvindo um sermão, em vez de aplicarem a doutrina a si mesmos, julgam: como isto se aplica bem a Fulano!

Às vezes, alguns pensam que na calúnia não há má intenção: é a hipótese - dizem - com que a ignorância explica o que desconhece ou não compreende, para se dar ares de bem informada. Mas é duplamente má: por ser ignorante e por ser mentirosa.

Não fales com tanta irresponsabilidade… Não compreendes que, mal tu lanças a primeira pedra, outros - no anonimato - organizam um apedrejamento?

És tu mesmo quem cria essa atmosfera de descontentamento entre os que te rodeiam? - Perdoa então que te diga que, além de malvado, és… estúpido.

Perante a desgraça ou o erro, constitui uma triste satisfação poder dizer: “Eu já o tinha previsto”. Isso significaria que não te importavas com a desventura alheia: porque deverias tê-la remediado, se estava ao teu alcance.

Há muitos modos de semear desorientação… - basta, por exemplo, apontar a exceção como regra geral.

Dizes que és católico… - Por isso, quanta pena me dás, quando verifico que as tuas convicções não são suficientemente sólidas para te levarem a viver um catolicismo de ação, sem soluções de continuidade e sem ressalvas.

Faria rir, se não fosse tão dolorosa, essa ingenuidade com que aceitas - por ligeireza, ignorância, complexo de inferioridade… - as balelas mais grosseiras.

Imaginam os tolos, os inescrupulosos, os hipócritas, que os outros são também da sua condição… E os tratam - isso é que é penoso - como se o fossem.

Já seria ruim que perdesses o tempo, que não é teu, mas de Deus, e para a sua glória. Mas se, além disso, fazes que outros o percam, diminuis por um lado o teu prestígio e, por outro, aumentas o esbulho da glória que deves a Deus.

Faltam-te a maturidade e o recolhimento próprios de quem caminha pela vida com a certeza de um ideal, de uma meta. - Reza à Virgem Santa, para que aprendas a exaltar a Deus com toda a tua alma, sem dispersões de nenhum gênero.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura
Este capítulo em outro idioma