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Há 2 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Naturalidade.

Talvez penses que os teus pecados são muitos, que o Senhor não poderá ouvir-te. Não é assim, porque Ele tem entranhas de misericórdia. Se, apesar desta maravilhosa verdade, te apercebes da tua miséria, mostra-te como o publicano: Senhor, aqui estou, Tu é que sabes! E observemos o que nos conta São Mateus, quando colocam um paralítico diante de Jesus. Aquele doente não faz nenhum comentário: fica ali simplesmente, na presença de Deus. E Cristo, comovido por essa contrição, por essa dor de quem sabe nada merecer, não demora a reagir com a sua misericórdia habitual: Tem confiança, que te são perdoados os teus pecados.

Meu conselho é que, na oração, cada um intervenha nas passagens do Evangelho, como mais um personagem. Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério, que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, empregamos o entendimento para considerar este ou aquele traço da vida do Mestre: seu Coração enternecido, sua humildade, sua pureza, seu cumprimento da Vontade do Pai. Depois, contamos-lhe o que nos costuma ocorrer nessas matérias, o que sentimos, o que nos está acontecendo. É preciso permanecermos atentos, porque talvez Ele nos queira indicar alguma coisa: e surgirão essas moções interiores, o cair em si, essas reconvenções.

Para dar rumo à oração - e talvez isto possa servir-nos de ajuda -, costumo materializar até as coisas mais espirituais. Nosso Senhor usava esse processo. Gostava de ensinar por meio de parábolas, extraídas do ambiente que o rodeava: do pastor e das ovelhas, da videira e dos sarmentos, de barcas e de redes, da semente que o semeador lança a mãos cheias…

Na nossa alma caiu a Palavra de Deus. Que espécie de terra lhe preparamos? Há muitas pedras? Está inçada de espinhos? Não será um lugar demasiado batido por andanças meramente humanas, pequenas, sem brio? Senhor, que a minha parcela seja terra boa, fértil, generosamente exposta à chuva e ao sol; que a tua sementeira crie raízes; que produza espigas graúdas, trigo bom.

Eu sou a videira e vós os sarmentos. Setembro chegou, e as cepas estão carregadas de rebentos grandes, delgados, flexíveis e nodosos, pejados de frutos, prontos já para a vindima. Olhemos para esses sarmentos, repletos por participarem da seiva do tronco: só assim aqueles minúsculos rebentos de alguns meses atrás puderam converter-se em polpa doce e madura que cumula de alegria a vista e o coração. No chão talvez tenham ficado alguns gravetos soltos, meio enterrados. Eram sarmentos também, mas secos, crestados. São o símbolo expressivo da esterilidade. Porquesem Mim nada podeis fazer.

O tesouro. Imaginemos o júbilo imenso do felizardo que o encontra. Acabaram-se os apertos e as angústias. Vende tudo o que possui e compra aquele campo. É lá que todo o seu coração está pulsando; é lá que esconde a sua riqueza. O nosso tesouro é Cristo; pouco nos deve importar jogar fora tudo o que seja estorvo, para o podermos seguir. E a barca, sem esse lastro inútil, navegará em linha reta para o porto seguro do Amor de Deus.

Referências da Sagrada Escritura