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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Preguiça.

Lembremo-nos da parábola dos talentos. O servo que recebeu um talento podia - como os seus companheiros - empregá-lo bem, tratar de fazê-lo render, pondo em jogo as qualidades que possuía. E o que é que decide? Preocupa-o o medo de perdê-lo. Muito bem. Mas depois? Enterra-o! E aquilo não dá fruto.

Não esqueçamos esse caso de temor doentio de aproveitar honradamente a capacidade de trabalho, a inteligência, a vontade, o homem todo. Eu o enterro - parece afirmar esse infeliz -, mas a minha liberdade fica a salvo! Não. A liberdade inclinou-se para algo de muito concreto, para a secura mais pobre e árida. Tomou partido, porque não tinha outro remédio senão escolher. Mas escolheu mal.

Nada mais falso do que opor a liberdade à entrega de si, porque essa entrega surge como conseqüência da liberdade. Reparemos: quando uma mãe se sacrifica por amor aos seus filhos, fez uma opção; e, conforme for a medida desse amor, assim se manifestará a sua liberdade. Se esse amor for grande, a liberdade se mostrará fecunda, e o bem dos filhos procederá dessa bendita liberdade, que implica entrega, e procederá dessa bendita entrega, que é precisamente liberdade.

O reino dos céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a contratar operários para a sua vinha. Conhecemos já a narrativa; aquele homem volta à praça em diferentes ocasiões para contratar trabalhadores; uns são chamados ao romper da aurora, outros muito perto da noite.

Todos recebem um denário: o salário que te havia prometido, isto é, a minha imagem e semelhança. No denário está gravada a imagem do Rei. Esta é a misericórdia de Deus, que chama cada um de acordo com as suas circunstâncias pessoais, porque quer que todos os homens se salvem. Mas nós nascemos cristãos, fomos educados na fé, fomos escolhidos claramente pelo Senhor. Esta é a realidade. Então, quando nos sentimos chamados a corresponder, mesmo que seja à última hora, será que podemos continuar na praça pública tomando sol, como muitos daqueles operários, porque lhes sobrava tempo?

Não nos deve sobrar tempo; nem um segundo. E não exagero. Trabalho há. O mundo é grande e são milhões as almas que ainda não escutaram claramente a doutrina de Cristo. Dirijo-me a cada um de vós. Se te sobra tempo, reconsidera um pouco: é muito possível que vivas mergulhado na tibieza, ou que, sobrenaturalmente, sejas um paralítico. Não te mexes, estás parado, estéril, sem realizar todo o bem que deverias comunicar aos que se encontram ao teu lado, no teu ambiente, no teu trabalho, na tua família.

Consideremos agora a parábola daquele homem que, estando para empreender uma viagema terras longínquas, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. Confia a cada um uma quantia diferente, para ser administrada na sua ausência. Parece-me muito conveniente repararmos na conduta daquele que recebeu um talento: comporta-se de uma forma que se poderia qualificar como “esperteza de matuto”. Pensa, raciocina com aquele cérebro pequenino, e decide: cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.

Que ocupação escolherá depois esse homem, se abandonou o seu instrumento de trabalho? Decide optar irresponsavelmente pelo comodismo de devolver apenas o que lhe entregaram. Dedicar-se-á a matar os minutos, as horas, os dias, os meses, os anos, a vida! Os outros afadigam-se, negociam, empenham-se nobremente em restituir mais do que receberam; aliás, o legítimo fruto, porque a recomendação foi muito concreta: Negotiamini dum venio, negociai até que eu volte: encarregai-vos deste trabalho para conseguirdes algum lucro, até que o dono regresse. Mas ele não; ele inutiliza a sua existência.

Que pena viver, praticando como ocupação a de matar o tempo, que é um tesouro de Deus! Não há desculpas para justificar essa conduta. Que ninguém diga: só tenho um talento, não posso ganhar nada. Também com um só talento podes trabalhar de modo meritório. Que tristeza não tirar proveito, autêntico rendimento, de todas as faculdades, poucas ou muitas, que Deus concede ao homem para que se dedique a servir as almas e a sociedade!

Quando o cristão mata o seu tempo na terra, coloca-se em perigo de matar o seu Céu: quando por egoísmo se retrai, se esconde, se desinteressa. Quem ama a Deus não se limita a entregar o que tem, o que é, ao serviço de Cristo: dá-se ele mesmo. Não vê - em perspectiva rasteira - o seu eu na saúde, no nome, na carreira.

Meu, meu, meu…, pensam, dizem e fazem muitos. Que coisa tão aborrecida! Comenta São Jerônimo que verdadeiramente o que está escrito: “para procurar desculpas para os seus pecados” (Ps CXL, 4) acontece com essa gente que, ao pecado da soberba, acrescenta a preguiça e a negligência.

É a soberba que conjuga continuamente esse meu, meu, meu… Um vício que converte o homem numa criatura estéril, que lhe anula as ânsias de trabalhar por Deus e que o leva a desaproveitar o tempo. Não percas a tua eficácia, aniquila antes o teu egoísmo. A tua vida para ti? A tua vida para Deus, para o bem de todos os homens, por amor ao Senhor. Desenterra esse talento! Torna-o produtivo, e saborearás a alegria de saber que, neste negócio sobrenatural, não interessa que o resultado não seja, na terra, uma maravilha que os homens possam admirar. O essencial é entregar tudo o que somos e possuímos, procurar que o talento renda e empenhar-nos continuamente em produzir bom fruto.

Deus concede-nos talvez um ano mais para o servirmos. Não penses em cinco nem em dois. Pensa só neste: em um, no que começamos. E entrega-o, não o enterres! Esta há de ser a nossa determinação.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura