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Há 3 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Redenção.

Neste umbral da Semana Santa, já tão próximos do momento em que se consumou sobre o Calvário a Redenção da humanidade inteira, parece-me particularmente apropriado que tu e eu consideremos os caminhos pelos quais Jesus Senhor Nosso nos salvou; que contemplemos o seu amor, verdadeiramente inefável, por umas pobres criaturas formadas com barro da terra.

Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris, lembra-te, ó homem, de que és pó e em pó te tornarás, admoestava-nos a nossa Mãe a Igreja, quando se iniciava a Quaresma, para que jamais esquecêssemos que somos muito pouca coisa, que um dia qualquer o nosso corpo - agora tão cheio de vida - se desfará como a ligeira nuvem de poeira que os nossos pés levantam ao andar: dissipar-se-á como névoa acossada pelos raios do sol.

Mas depois de vos recordar tão cruamente a nossa insignificância pessoal, gostaria de enaltecer diante dos vossos olhos outra maravilhosa realidade: a magnificência divina, que nos sustenta e nos endeusa. Escutemos as palavras do Apóstolo: É bem conhecida de vós a liberalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza. Reparemos com calma no exemplo do Mestre, e compreenderemos imediatamente que dispomos de tema abundante para meditar durante toda a vida, para concretizar propósitos sinceros de mais generosidade. Porque - e não percais de vista esta meta que temos de alcançar - cada um de nós deve identificar-se com Jesus Cristo, o qual - acabais de ouvi-lo - se fez pobre por ti, por mim, e padeceu, dando-nos exemplo, para que seguíssemos as suas pisadas.

Cresçamos em esperança, que deste modo fortaleceremos a nossa fé, verdadeiro fundamento das coisasque se esperam e garantia das que não se possuem. Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós, porque só se confia deveras no que se ama com todas as forças. E vale a pena amar o Senhor. Todos sabem por experiência, tanto como eu, que uma pessoa enamorada se entrega com toda a segurança, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações pulsam num mesmo querer. E o que será o Amor de Deus? Não sabemos que por cada um de nós morreu Cristo? Sim, por este nosso coração, pobre, pequeno, consumou-se o sacrifício redentor de Jesus.

O Senhor fala-nos freqüentemente do prêmio que nos conquistou com a sua Morte e com a sua Ressurreição. Vou preparar-vos um lugar. E quando eu me houver ido e vos tiver preparado o lugar, de novo voltarei e vos levarei comigo, para que onde eu estiver estejais vós também. O Céu é a meta da nossa senda terrena. Jesus Cristo precedeu-nos, e é lá que, em companhia de Nossa Senhora e de São José - a quem tanto venero -, dos Anjos e dos Santos, espera a nossa chegada.

Nunca faltaram os hereges - mesmo na época apostólica - que tentaram arrancar aos cristãos a esperança. Se de Cristo se prega que ressuscitou dos mortos, como é que entre vós alguns dizem que não há ressurreição dos mortos?Se, porém, não existe ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, vã a vossa fé… A divindade do nosso caminho - Jesus, caminho, verdade e vida - é penhor seguro de que esse caminho acaba na felicidade eterna, se dEle não nos afastarmos.

São tantas as cenas em que Cristo fala com seu Pai, que se torna impossível determo-nos em todas. Mas penso que não podemos deixar de considerar as horas, tão intensas, que precedem a sua Paixão e Morte, quando se prepara para consumar o Sacrifício que nos devolverá ao Amor divino. Na intimidade do Cenáculo, seu coração transborda: dirige-se suplicante ao Pai, anuncia a vinda do Espírito Santo, anima os seus íntimos a manterem um contínuo fervor de caridade e de fé.

Esse inflamado recolhimento do Redentor continua em Getsêmani, ao perceber a iminência da Paixão, com as humilhações e as dores que se aproximam, essa Cruz dura em que se suspendem os malfeitores, e que Ele desejou ardentemente. Pai, se é possível, afasta de mim este cálice. E logo a seguir: Não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua. Mais tarde, pregado no madeiro, só, com os braços estendidos em gesto de sacerdote eterno, continua a manter o mesmo diálogo com seu Pai: Nas tuas mãos entrego o meu espírito.