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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Vocação profissional .

Temos que evitar o erro de pensar que o apostolado se reduz ao simples testemunho de umas práticas piedosas. Tu e eu somos cristãos, mas ao mesmo tempo, e sem solução de continuidade, cidadãos e trabalhadores, com umas obrigações claras que temos de cumprir de um modo exemplar, se nos queremos santificar de verdade. É Jesus Cristo quem nos incita: Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem acendem uma lucerna e a põem debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

O trabalho profissional - seja qual for - converte-se no candeeiro que ilumina os vossos colegas e amigos. Por isso, costumo repetir aos que se incorporam ao Opus Dei, e a minha afirmação é válida para todos os que me escutam: pouco me importa que me digam que fulano é um bom filho meu - um bom cristão -, mas um mau sapateiro! Se não se esforça por aprender bem o seu ofício ou por executá-lo com esmero, não poderá santificá-lo nem oferecê-lo ao Senhor. E a santificação do trabalho ordinário é como que o eixo da verdadeira espiritualidade para os que - imersos nas realidades temporais - estão decididos a ter uma vida de intimidade com Deus.

Lutai contra essa excessiva compreensão que cada um tem para consigo mesmo. Sede exigentes convosco! Às vezes, pensamos demasiado na saúde. Ou no descanso, que não deve faltar, precisamente porque é necessário para voltarmos ao trabalho com forças renovadas; mas esse descanso - assim o escrevi há tantos anos! - não é não fazer nada; é distrair-se em atividades que exigem menos esforço.

Noutras ocasiões, com falsas desculpas, somos demasiado comodistas, esquecemo-nos da bendita responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros, conformamo-nos com o que basta para dar um jeito, deixamo-nos arrastar por razões sem razão para ficar com os braços cruzados, enquanto Satanás e os seus aliados não tiram férias. Escuta com atenção e medita o que São Paulo escrevia aos cristãos que eram servos por ofício: insistia com eles em que obedecessem aos seus amos, não os servindo só quando sob as suas vistas, como se só pensásseis em agradar aos homens, mas como servos de Jesus Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus, servindo-os com amor, tendo consciência de que servis ao Senhor e não aos homens. Que bom conselho para que tu e eu o sigamos!

Vamos pedir luz a Jesus Cristo Senhor Nosso e suplicar-lhe que nos ajude a descobrir em cada instante esse sentido divino que transforma a nossa vocação profissional no eixo sobre o qual assenta e gira a nossa chamada à santidade. Veremos no Evangelho que Jesus era conhecido como faber, filius Mariae, o operário, o filho de Maria. Pois bem, também nós, com um orgulho santo, temos que demonstrar com as nossas obras que somos trabalhadores!, homens e mulheres de trabalho!

Já que temos de comportar-nos sempre como enviados de Deus, devemos ter muito presente que não servimos o Senhor com lealdade quando abandonamos a nossa tarefa; quando não partilhamos com os outros do seu empenho e abnegação no cumprimento dos compromissos profissionais; quando nos podem apontar como ociosos, impontuais, frívolos, desordenados, preguiçosos, inúteis… Porque quem descura essas obrigações, aparentemente menos importantes, é difícil que vença nas outras da vida interior, que certamente são mais custosas. Quem é fiel no pouco, também o é no muito, e quem é injusto no pouco, também o é no muito.

Não estou falando de ideais imaginários. Atenho-me a uma realidade muito concreta, de importância capital, capaz de mudar o ambiente mais pagão e mais hostil às exigências divinas, como aconteceu nos primeiros tempos da era da nossa salvação. Saboreai estas palavras de um autor anônimo desses tempos, que resume assim a grandeza da nossa vocação: Os cristãos são para o mundo o que a alma é para o corpo. Vivem no mundo, mas não são mundanos, como a alma está no corpo, mas não é corpórea. Habitam em todos os povos, assim como a alma está em todas as partes do corpo. Atuam pela sua vida interior sem se fazerem notar, como a alma pela sua essência . Vivem como peregrinos entre coisas perecíveis, na esperança da incorruptibilidade dos céus, assim como a alma imortal vive agora numa tenda mortal. Multiplicam-se de dia para dia no meio das perseguições, assim como a alma se embeleza mortificando-se… E não é lícito aos cristãos abandonarem a sua missão no mundo, como não é permitido à alma separar-se voluntariamente do corpo.

Portanto, enganar-nos-íamos de caminho se fizéssemos pouco caso das ocupações temporais: também aí nos espera o Senhor. Estai certos de que nós, os homens, temos que aproximar-nos de Deus através das circunstâncias da vida ordinária, ordenadas ou permitidas pela Providência na sua sabedoria infinita. Não atingiremos esse fim se não tendermos a terminar bem as nossas tarefas; se não perseverarmos no ímpeto do trabalho começado com entusiasmo humano e sobrenatural; se não desempenharmos o nosso ofício como o melhor de todos os colegas e, se for possível - penso que, se queres verdadeiramente, assim será -, melhor que o melhor, porque usaremos de todos os meios terrenos honrados e dos espirituais necessários, para oferecer a Nosso Senhor um trabalho primoroso, rematado como uma filigrana, cabal.

Por amor a Deus, por amor às almas, e para correspondermos à nossa vocação de cristãos, temos que dar exemplo. Para não escandalizarmos, para não causarmos nem a sombra da suspeita de que os filhos de Deus são frouxos ou não prestam, para não sermos causa de desedificação…, temos que esforçar-nos por oferecer com a nossa conduta a medida certa, a boa índole de um homem responsável. Tanto o lavrador que ara a terra, enquanto levanta continuamente o coração a Deus, como o carpinteiro, o ferreiro, o empregado de escritório, o intelectual - todos os cristãos - hão de ser modelo para os seus colegas, sem orgulho, já que fica bem patente em nossas almas a convicção de que só contando com Ele é que conseguiremos alcançar a vitória; nós, sozinhos, não podemos levantar nem uma palha do chão. Portanto, cada um na sua tarefa, no lugar que ocupa na sociedade, tem que sentir a obrigação de realizar um trabalho de Deus, que semeie por toda a parte a paz e a alegria do Senhor. O cristão perfeito traz sempre consigo a serenidade e a alegria. Serenidade, porque se sente na presença de Deus; alegria, porque se vê rodeado dos dons divinos. Um cristão assim é verdadeiramente um personagem régio, um sacerdote santo de Deus.

Ascética? Mística? Não me preocupo com isso. Seja o que for, ascética ou mística, que importa? É mercê de Deus. Se tu procuras meditar, o Senhor não te negará a sua assistência. Fé e obras de fé: obras, porque - já o verificaste desde o início e já o frisei a seu tempo - o Senhor é cada dia mais exigente. Isto é já contemplação e é união; é assim que deve ser a vida de muitos cristãos, avançando cada um pela sua própria via espiritual - são infinitas -, no meio dos afãs do mundo, ainda que nem sequer se aperceba disso.

Uma oração e uma conduta que não nos afastam das nossas atividades habituais e que, no meio dessas aspirações nobremente terrenas, nos conduzem ao Senhor. Elevando todos os afazeres a Deus, a criatura diviniza o mundo. Quantas vezes não tenho falado do mito do rei Midas, que convertia em ouro tudo o que tocava! Podemos converter tudo o que tocamos em ouro de méritos sobrenaturais, apesar dos nossos erros pessoais.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura