Lista de pontos

Há 4 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja abandono em Deus → aceitação da Vontade de Deus.

Penso que nos ajudará a terminar melhor estas reflexões uma passagem do Evangelho de São Lucas, no capítulo segundo. Cristo é uma criança. Que dor a de sua Mãe e a de São José, porque - no regresso de Jerusalém - não vinha entre os parentes e amigos! E que alegria quando o enxergam, já de longe, doutrinando os mestres de Israel! Mas reparemos nas palavras, aparentemente duras, que saem da boca do Filho ao responder à sua Mãe: Por que me buscáveis?

Não era razoável que o procurassem? As almas que sabem o que é perder Cristo e encontrá-lo podem compreender isto… Por que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? Porventura não sabíeis que devo dedicar totalmente o meu tempo ao meu Pai celestial?

Iubilate Deo. Exsultate Deo adiutori nostro, louvai a Deus, saltai de alegria no Senhor, que é a nossa única ajuda. Jesus, quem não o compreende não sabe nada de amores, nem de pecados, nem de misérias! Eu sou um pobre homem, e entendo de pecados, de amores e de misérias. Sabeis o que é estar erguido até o coração de Deus? Compreendeis que uma alma possa encarar o Senhor, abrir-lhe o coração e contar-lhe as suas queixas? Eu me queixo, por exemplo, quando Ele leva para junto de si gente de pouca idade, que ainda poderia servi-lo e amá-lo por muitos anos na terra; porque não o compreendo. Mas são gemidos de confiança, pois sei que, se me afastasse dos braços de Deus, daria um tropeção imediatamente. Por isso, logo a seguir, devagar, enquanto aceito os desígnios do Céu, acrescento: Faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus, sobre todas as coisas. Amém. Amém.

Este é o modo de proceder que o Evangelho nos ensina, o ardil mais santo e a fonte de eficácia para o trabalho apostólico; e este é o manancial do nosso amor e da nossa paz de filhos de Deus, e a senda pela qual podemos transmitir carinho e serenidade aos homens. E só por isto conseguiremos acabar os nossos dias no Amor, tendo santificado o nosso trabalho, procurando nele a felicidade escondida das coisas de Deus. Comportar-nos-emos com a santa desvergonha das crianças e repeliremos a vergonha - a hipocrisia - dos mais velhos, que têm medo de voltar para seu Pai quando passam pelo fracasso de uma queda.

Termino com a saudação do Senhor, que o Santo Evangelho nos refere hoje: Pax vobis! A paz esteja convosco… E os discípulos encheram-se de alegria ao verem o Senhor, esse Senhor que nos acompanha até o Pai.

Gravemo-lo bem na nossa alma, para que se note na conduta: primeiro, justiça para com Deus. Esta é a pedra de toque da verdadeira fome e sede de justiça, que a distingue da gritaria dos invejosos, dos ressentidos, dos egoístas e cobiçosos… Porque a mais terrível e ingrata das injustiças é a de quem nega ao nosso Criador e Redentor o reconhecimento dos bens abundantes e inefáveis que Ele nos concede. Vós, se de verdade vos esforçais por ser justos, tereis de considerar freqüentemente a vossa dependência de Deus - porque, que tens tu que não hajas recebido? -, para vos encherdes de agradecimento e de desejos de corresponder a um Pai que nos ama até a loucura.

Então avivar-se-á em vós o espírito bom de piedade filial, que vos fará tratar a Deus com ternura de coração. Não vos deixeis enganar quando os hipócritas levantarem em torno de vós a dúvida sobre o direito que Deus tem de vos pedir tanto. Pelo contrário, colocai-vos na presença do Senhor sem condições, dóceis, como o barro nas mãos do oleiro, e confessai-lhe rendidamente: Deus meus et omnia!, Tu és o meu Deus e o meu tudo. E se alguma vez chega o golpe inesperado, a tribulação imerecida por parte dos homens, sabereis cantar com alegria nova: Faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente e glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas. Amém. Amém.

Com esta entrega, o zelo apostólico inflama-se, aumenta de dia para dia e contagia esta ânsia aos outros, porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em fomes de semear pelo mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do Lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.

Falava há pouco de dores, de sofrimento, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo agora que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem, mal se aceita deveras a Vontade de Deus, logo que cumprimos com gosto os seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam desfazer-se e o suplício se nos afigure insuportável.

Referências da Sagrada Escritura
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