Lista de pontos

Há 6 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Autenticidade → coerência e sinceridade de vida.

Na intimidade pessoal, na conduta externa, na vida de relação, no trabalho, cada um há de procurar manter-se em contínua presença de Deus, com uma conversação - um diálogo - que não se manifesta por fora; ou melhor, não se expressa geralmente com ruído de palavras, mas terá que notar-se pelo empenho e pela amorosa diligência com que procuraremos acabar bem as tarefas, tanto as importantes como as mais comuns. Se não nos comportarmos com essa firmeza, seremos pouco conseqüentes com a nossa condição de filhos de Deus, porque teremos desperdiçado os recursos que o Senhor colocou providencialmente ao nosso alcance, para que arribemos ao estado do varão perfeito, à medida da idade perfeita segundo Cristo.

Durante a última guerra espanhola, viajava eu com freqüência, para atender sacerdotalmente muitos rapazes que se encontravam nas frentes de batalha. E certa vez escutei numa trincheira um diálogo que me ficou muito gravado. Perto de Teruel, um soldado moço dizia de outro, pelos vistos um pouco indeciso, pusilânime: Esse não é homem de uma só peça! Causar-me-ia uma enorme tristeza que de qualquer um de nós se pudesse afirmar, com fundamento, que é inconseqüente, homem que assegura querer ser autenticamente cristão, santo, mas que despreza os meios adequados, já que no cumprimento das suas obrigações não manifesta continuamente a Deus o seu carinho e o seu amor filial. Se a nossa atuação se desenhasse nesses termos, também nem tu nem eu seríamos cristãos de uma só peça.

Volta de novo a contemplar a tua vida e pede perdão por esse detalhe e por aquele outro que saltam imediatamente aos olhos da tua consciência; pelo mau uso que fazes da língua; por esses pensamentos que giram continuamente em redor de ti mesmo; por esse juízo crítico consentido que te preocupa tolamente, causando-te uma perene inquietação e desassossego… Podemos ser muito felizes! O Senhor nos quer contentes, bêbados de alegria, avançando pelos mesmos caminhos de ventura que Ele percorreu! Só nos sentimos infelizes quando nos empenhamos em desencaminhar-nos e enveredamos pela senda do egoísmo e da sensualidade; e muito pior ainda se nos enfiamos pela dos hipócritas.

O cristão há de manifestar-se autêntico, veraz, sincero em todas as obras. A sua conduta deve deixar transparecer um espírito: o de Cristo. Se alguém neste mundo tem obrigação de se mostrar conseqüente, é o cristão, porque recebeu em depósito - para fazer frutificar esse dom - a verdade que liberta, que salva. Padre, perguntar-me-eis, e como conseguirei essa sinceridade de vida? Jesus Cristo entregou à sua Igreja todos os meios necessários: ensinou-nos a rezar, a ganhar intimidade com seu Pai celestial; enviou-nos o seu Espírito, o Grande Desconhecido, que atua na nossa alma; e deixou-nos esses sinais visíveis da graça que são os Sacramentos. Usa-os. Intensifica a tua vida de piedade. Faz oração todos os dias. E não afastes nunca os teus ombros da carga prazerosa da Cruz do Senhor.

Foi Jesus quem te convidou a segui-lo como bom discípulo, a fim de que realizes a tua travessia pela terra semeando a paz e o gáudio que o mundo não pode dar. Para isso - insisto -, temos que andar sem medo à vida e sem medo à morte, sem nos esquivarmos a qualquer custo à dor, que para um cristão é sempre meio de purificação e ocasião de amar deveras os seus irmãos, aproveitando as mil circunstâncias da vida corrente.

Esgotou-se o tempo. Tenho que pôr ponto final a estas considerações com que tentei remexer a tua alma para que correspondesses concretizando alguns propósitos, poucos, mas bem determinados. Pensa que Deus te quer contente e que, se tu fazes da tua parte o que podes, serás feliz, muito feliz, felicíssimo, ainda que em momento nenhum te falte a Cruz. Porém, essa Cruz já não será um patíbulo, mas o trono do qual reina Cristo.

E a seu lado encontrarás Maria, sua Mãe, Mãe nossa também. A Virgem Santa te alcançará a fortaleza de que necessitas para caminhar com decisão, seguindo os passos do seu Filho.

Et viam Dei in veritate doces, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Ensinar, ensinar, ensinar: mostrar os caminhos de Deus segundo a pura verdade. Não deves assustar-te de que vejam os teus defeitos pessoais, os teus e os meus. Eu tenho o prurido de publicá-los, contando a minha luta pessoal, a minha ânsia de retificar o meu comportamento neste ou naquele ponto da minha luta por ser leal ao Senhor. O esforço por desterrar e vencer essas misérias será já um modo de indicar as sendas divinas: primeiro, e apesar dos nossos erros visíveis, com o testemunho da nossa vida; depois, com a doutrina, como Nosso Senhor, que coepit facere et docere, que começou a fazer e a ensinar; começou pelas obras, e só mais tarde é que se pôs a pregar.

Depois de vos confirmar que este sacerdote vos ama muito e que o Pai do Céu vos ama mais, porque é infinitamente bom, infinitamente Pai; depois de vos manifestar que nada vos posso lançar em rosto, considero, sim, que devo ajudar-vos a amar Cristo e a Igreja, o seu rebanho, porque penso que nisto nenhum de vós me vence; rivalizais comigo, mas não me venceis. Quando, na minha pregação ou nas conversas pessoais com cada um, aponto algum erro, não é para fazer sofrer; move-me exclusivamente a preocupação de que amemos mais o Senhor. E, quando vos insisto na necessidade de praticar as virtudes, não perco de vista que também para mim é uma necessidade urgente.

Certa vez, ouvi comentar a um leviano que a experiência dos tropeços serve para voltar a cair cem vezes no mesmo erro. Eu vos digo, no entanto, que uma pessoa prudente aproveita esses reveses para ficar escarmentada, para aprender a praticar o bem, para se renovar na decisão de ser mais santa.

Da experiência dos vossos fracassos e triunfos no serviço de Deus, tirai sempre, com o crescimento no amor, um gosto mais firme por prosseguir no cumprimento dos vossos deveres e direitos de cidadãos cristãos, custe o que custar: sem covardias, sem nos esquivarmos nem à honra nem à responsabilidade, sem nos assustarmos com as reações que se formem ao nosso redor - provenientes talvez de falsos irmãos -, quando nobre e lealmente lutamos por promover a glória de Deus e o bem dos outros.

Portanto, temos que ser prudentes. Para quê? Para sermos justos, para vivermos a caridade, para servirmos eficazmente a Deus e a todas as almas. Com muita razão se chamou à prudência genitrix virtutum, mãe das virtudes, e também auriga virtutum, condutora de todos os hábitos bons.

Onde quer que nos encontremos, o Senhor nos exorta: Vigiai! Perante esse pedido de Deus, alimentemos na consciência os desejos esperançados de santidade, com obras. Meu filho, dá-me o teu coração, sugere-nos Ele ao ouvido. Deixa de construir castelos com a fantasia, decide-te a abrir a tua alma a Deus, pois só no Senhor acharás fundamento real para a tua esperança e para fazeres o bem aos outros. Quando uma pessoa não luta consigo mesma, quando não se rechaçam terminantemente os inimigos que estão dentro da cidadela interior - o orgulho, a inveja, a concupiscência da carne e dos olhos, a auto-suficiência, a tresloucada avidez de libertinagem -, quando não existe peleja interior, crestam-se os mais nobres ideais como a flor dos campos, porque, em despontando o sol ardente, seca-se a erva,cai a flor e acaba-lhe a vistosa formosura. Depois brotarão pela menor fenda o desalento e a tristeza, como planta daninha e invasora.

Jesus não se conforma com um assentimento titubeante. Pretende, tem direito a que caminhemos com inteireza, sem concessões perante as dificuldades. Exige passos firmes, concretos, pois, ordinariamente, os propósitos gerais de pouco servem. Esses propósitos tão pouco delineados parecem-me ilusões falazes que tentam silenciar os chamados divinos percebidos pelo coração; fogos fátuos, que não queimam nem dão calor, e que desaparecem com a mesma fugacidade com que surgiram.

Por isso, ficarei convencido de que as tuas intenções de atingir a meta são sinceras, se te vir caminhar com determinação. Pratica o bem, revendo as tuas atitudes habituais nas ocupações de cada instante; pratica a justiça, precisamente nos meios que freqüentas, ainda que te sintas vergado pela fadiga; fomenta a felicidade dos que te rodeiam, servindo os outros com alegria no lugar do teu trabalho, com esforço para terminá-lo com a maior perfeição possível, com a tua compreensão, com o teu sorriso, com a tua conduta cristã. E tudo por Deus, com o pensamento na sua glória, com o olhar alto, anelando pela Pátria definitiva, que somente essa finalidade vale a pena.

E como realizaremos esse apostolado? Antes de mais nada, com o exemplo, vivendo de acordo com a Vontade do Pai, tal como Jesus Cristo no-lo revelou com a sua vida e os seus ensinamentos. Fé verdadeira é aquela que não permite que as ações contradigam o que se afirma com as palavras. Devemos medir a autenticidade da nossa fé examinando a nossa conduta pessoal. Se não nos esforçamos por realizar com as nossas ações o que confessamos com os lábios, não cremos com sinceridade.

Referências da Sagrada Escritura
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