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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Dificuldades → confiança e esperança.

Pode-se dizer que Nosso Senhor, em face da missão recebida do Pai, vive o dia de hoje, tal e como aconselhava num dos ensinamentos mais sugestivos que saíram da sua boca divina: Não andeis inquietos com o que comereis para alimentar a vossa vida, nem com o que usareis para vestir o vosso corpo.A vida vale mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido. Considerai os corvos, que não semeiam, nem ceifam, nem têm despensa, nem celeiro; e no entanto, Deus os sustenta. Quanto mais valeis vós do que eles! Considerai como crescem os lírios: não trabalham nem fiam; e, contudo, digo-vos que nem Salomão, com toda a sua magnificência, se vestia como um deles. Se, pois, a erva, que hoje cresce no campo e amanhã se lança ao fogo, Deus a veste assim, quanto mais não fará convosco, homens de pouquíssima fé?

Se vivêssemos mais confiantes na Providência divina, seguros - com fé enérgica! - desta proteção diária que nunca nos falta, quantas preocupações ou inquietações não pouparíamos! Desapareceriam tantos desassossegos que, na frase de Jesus, são próprios dos pagãos, dos homens mundanos, das pessoas desprovidas de sentido sobrenatural! Quereria, em confidência de amigo, de sacerdote, de pai, trazer-vos à memória em cada circunstância que nós, pela misericórdia de Deus, somos filhos desse Pai Nosso, todo-poderoso, que está nos céus e ao mesmo tempo na intimidade do nosso coração. Quereria gravar a fogo na vossa mente que temos todos os motivos para caminhar com otimismo por esta terra, com a alma bem desprendida dessas coisas que parecem imprescindíveis, já que o vosso Pai sabe muito bem de que coisas necessitais!, e Ele proverá. Acreditai que só assim nos conduziremos como senhores da Criação e evitaremos a triste escravidão em que caem tantos e tantos, por esquecerem a sua condição de filhos de Deus, inquietos com um amanhã ou com um depois que talvez nem sequer cheguem a ver.

Não te estou levando ao desleixo no cumprimento dos teus deveres ou na exigência dos teus direitos. Pelo contrário, para cada um de nós, normalmente, uma retirada nessa frente equivaleria a desertar covardemente da luta pela santidade a que Deus nos chamou. Por isso, com segura consciência, deves empenhar-te - especialmente no teu trabalho - para que nem a ti nem aos teus falte o conveniente para viverdes com dignidade cristã. Se nalgum momento experimentas na tua carne o peso da indigência, não te entristeças nem te revoltes; mas, insisto, procura mobilizar todos os recursos nobres para vencer essa situação, porque agir de outra maneira seria tentar a Deus.

E, enquanto lutas, lembra-te, além disso, de que omnia in bonum!, tudo - a própria escassez, a pobreza - coopera para o bem dos que amam o Senhor. Acostuma-te, desde já, a enfrentar com alegria as pequenas limitações, o desconforto, o frio, o calor, a privação de alguma coisa que consideras imprescindível, o não poderes descansar como e quando quererias, a fome, a solidão, a ingratidão, a incompreensão, a desonra…

Se não lutas, não me digas que estás tentando identificar-te mais com Cristo, conhecê-lo, amá-lo. Quando empreendemos o caminho real do seguimento de Cristo, da conduta de filhos de Deus, não nos passa despercebido o que nos espera: a Santa Cruz, que devemos contemplar como o ponto central onde se apóia a nossa esperança de nos unirmos ao Senhor.

Posso antecipar-te que este programa não é empreendimento cômodo; que viver da maneira que o Senhor nos indica pressupõe esforço. Leio-vos a enumeração do Apóstolo, ao referir-se às peripécias e sofrimentos que passou para cumprir a vontade de Jesus: Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas; uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei; uma noite e um dia passei mergulhado no mar alto. Em viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos dos da minha nação, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Em trabalhos e fadigas, em repetidas vigílias, na fome e na sede, no frio e na nudez! E além destas coisas exteriores, pesam sobre mim os cuidados de cada dia e a solicitude por todas as igrejas.

Nestas conversas com o Senhor, gosto de me cingir à realidade em que nos movemos, sem inventar teorias nem sonhar com grandes renúncias, com heroicidades, que habitualmente não se dão. O que importa é aproveitarmos o tempo, que nos foge das mãos e que, com critério cristão, é mais do que ouro, porque representa uma antecipação da glória que nos será concedida mais tarde.

Como é lógico, na nossa jornada não toparemos com tais nem com tantas contradições como as que se entrecruzaram na vida de Saulo. Nós descobriremos a baixeza do nosso egoísmo, as garras da sensualidade, as chicotadas de um orgulho inútil e ridículo, e muitas outras claudicações: tantas, tantas fraquezas. Descoroçoar-se? Não. Repitamos ao Senhor com São Paulo: Alegro-me nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque, quando me vejo fraco, então é que sou forte.

Às vezes, quando tudo nos sai ao contrário do que imaginávamos, vem-nos espontaneamente aos lábios: Senhor, tudo me vai para o fundo, tudo, tudo!… Chegou a hora de retificar: Eu, contigo, avançarei seguro, porque Tu és a própria fortaleza: quia tu es, Deus, fortitudo mea.

Eu te pedi que, no meio das ocupações, procurasses levantar os olhos ao Céu, perseverantemente, porque a esperança nos impele a agarrar-nos a essa mão forte que Deus nos estende sem cessar, a fim de não perdermos o “ponto de mira” sobrenatural, mesmo quando as paixões se levantam e nos acometem, para nos aferrolharem no reduto mesquinho do nosso eu, ou quando - com vaidade pueril - nos sentimos o centro do universo. Eu vivo persuadido de que, sem olhar para cima, sem Jesus, nunca conseguirei nada; e sei que a minha fortaleza, para me vencer e para vencer, nasce de repetir aquele grito: Tudo posso nAquele que me conforta, que encerra a promessa segura que Deus nos faz de não abandonar os seus filhos, se os seus filhos não o abandonam.

A virtude da esperança - a certeza de que Deus nos governa com a sua providente onipotência, de que nos dá os meios necessários - fala-nos dessa contínua bondade do Senhor para com os homens, para contigo, para comigo, sempre disposto a ouvir-nos, porque jamais se cansa de escutar. Interessam-lhe as tuas alegrias, os teus êxitos, o teu amor e também os teus apertos, a tua dor, os teus fracassos.

Por isso, não esperes nEle apenas quando tropeçares com a tua fraqueza; dirige-te ao teu Pai do Céu nas circunstâncias favoráveis e nas adversas, acolhendo-te à sua proteção misericordiosa. E a certeza da nossa nulidade pessoal - não se requer grande humildade para reconhecer esta realidade: somos uma autêntica multidão de zeros - converter-se-á numa fortaleza irresistível, porque à esquerda do nosso eu estará Cristo, e que cifra incomensurável não resulta!: O Senhor é a minha fortaleza e o meu refúgio; a quem temerei?

Acostumai-vos a ver Deus por trás de todas as coisas, a saber que Ele nos espera sempre, que nos contempla e reclama precisamente que o sigamos com lealdade, sem abandonar o lugar que nos cabe neste mundo. Devemos caminhar com vigilância afetuosa, com uma preocupação sincera de lutar, para não perdermos a sua divina companhia.