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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Fé → fé viva e operativa.

Que exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Uma fé viva, operativa. É assim que te comportas com as indicações que Deus te faz, quando muitas vezes estás cego, quando a luz se oculta por entre as preocupações da tua alma? Que poder continha a água, para que os olhos ficassem curados ao serem umedecidos? Teria sido mais adequado um colírio misterioso, um medicamento precioso preparado no laboratório de um sábio alquimista. Mas aquele homem crê; põe em prática o que Deus lhe ordena, e volta com os olhos cheios de luz.

Foi útil - escreveu Santo Agostinho ao comentar esta passagem - que o Evangelista explicasse o sentido do nome da piscina, fazendo notar que significava Enviado. Agora entendemos quem é este Enviado. Se o Senhor não nos tivesse sido enviado, nenhum de nós teria sido libertado do pecado. Temos de crer com fé firme nAquele que nos salva, neste Médico divino que foi enviado precisamente para nos curar. E crer com tanto mais força quanto mais grave ou desesperada for a doença que tivermos.

Rezai comigo ao Senhor: Doce me facere voluntatem tuam, quia Deus meus es tu, ensina-me a cumprir a tua Vontade, porque Tu és o meu Deus. Numa palavra: que brote dos nossos lábios o anseio sincero de corresponder com um desejo eficaz aos convites do nosso Criador, procurando seguir os seus desígnios com uma fé inquebrantável, persuadidos de que Ele não pode falhar.

Amando deste modo a Vontade divina, perceberemos que o valor da fé não reside apenas na clareza com que a expomos, mas também no ânimo resoluto com que a defendemos com obras. E assim saberemos ser conseqüentes na nossa atuação.

Mas voltemos à cena que se desenrola à saída de Jericó. Agora é contigo que Cristo fala. Ele te diz: Que queres de Mim? Que eu veja, Senhor, que eu veja! E Jesus: Vai, a tua fé te salvou. Nesse mesmo instante, começou a ver e seguia-o pelo caminho. Segui-lo pelo caminho. Tu tiveste notícia daquilo que o Senhor te propunha e decidiste acompanhá-lo pelo caminho. Tu procuras pisar onde Ele pisou, vestir-te com as vestes de Cristo, ser o próprio Cristo. Pois então a tua fé - fé nessa luz que o Senhor te vai dando - deverá ser operativa e sacrificada. Não te iludas, não penses em descobrir formas novas. É assim a fé que Ele nos reclama: temos de andar ao seu ritmo, com obras cheias de generosidade, arrancando e soltando tudo o que é estorvo.

Aproxima-se da figueira: aproxima-se de ti e aproxima-se de mim. Jesus, com fome e com sede de almas. Do alto da Cruz clamou: Sitio!, tenho sede. Sede de nós, do nosso amor, das nossas almas e de todas as almas que lhe devemos levar, pelo caminho da Cruz, que é o caminho da imortalidade e da glória do Céu.

Abeirou-se da figueira, mas não encontrou nela senão folhas. É lamentável. Mas não acontecerá o mesmo na nossa vida? Não acontecerá, tristemente, que falta fé, falta vibração de humildade, e não aparecem os sacrifícios nem as obras? Não será que só está de pé a fachada cristã, mas falta o proveito? É terrível, porque Jesus ordena: Nunca mais nasça fruto de ti. E imediatamente a figueira secou. Dói-nos esta passagem da Escritura Santa, mas, ao mesmo tempo, anima-nos a reacender a fé, a viver segundo a fé, para que Cristo receba sempre lucro da nossa parte.

Não nos enganemos. Nosso Senhor não depende nunca das nossas construções humanas. Para Ele, os projetos mais ambiciosos não passam de brincadeiras de crianças. Ele quer almas, quer amor. Quer que todos corram a usufruir do seu Reino, por toda a eternidade. Temos que trabalhar muito na terra, e temos que trabalhar bem, porque essas ocupações habituais são a matéria que devemos santificar. Mas nunca nos esqueçamos de as realizar por Deus. Se as fizéssemos por nós mesmos, isto é, por orgulho, só produziríamos folharada; e nem Deus nem os homens conseguiriam saborear um pouco de doçura em árvore tão frondosa.

Ascética? Mística? Não me preocupo com isso. Seja o que for, ascética ou mística, que importa? É mercê de Deus. Se tu procuras meditar, o Senhor não te negará a sua assistência. Fé e obras de fé: obras, porque - já o verificaste desde o início e já o frisei a seu tempo - o Senhor é cada dia mais exigente. Isto é já contemplação e é união; é assim que deve ser a vida de muitos cristãos, avançando cada um pela sua própria via espiritual - são infinitas -, no meio dos afãs do mundo, ainda que nem sequer se aperceba disso.

Uma oração e uma conduta que não nos afastam das nossas atividades habituais e que, no meio dessas aspirações nobremente terrenas, nos conduzem ao Senhor. Elevando todos os afazeres a Deus, a criatura diviniza o mundo. Quantas vezes não tenho falado do mito do rei Midas, que convertia em ouro tudo o que tocava! Podemos converter tudo o que tocamos em ouro de méritos sobrenaturais, apesar dos nossos erros pessoais.

Levantar-me-ei e rodearei a cidade; pelas ruas e praças buscarei aquele a quem amo… E não só a cidade; correrei todo o mundo de lés a lés - por todas as nações, por todos os povos, por picadas e atalhos - para alcançar a paz da minha alma. E a descubro nas ocupações diárias, que para mim não são estorvo; que são - pelo contrário - vereda e motivo para amar mais e mais, e mais e mais me unir a Deus.

E quando nos espreita - violenta - a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite na alma, o salmista nos põe nos lábios e na inteligência estas palavras: Com Ele estou no tempo da adversidade. O que vale, Jesus, diante da tua Cruz, a minha; diante das tuas feridas, os meus arranhões? O que vale, diante do teu Amor imenso, puro e infinito, este pesadume de nada que me puseste às costas? E os vossos corações - como o meu - se cumulam de uma santa avidez, confessando-lhe - com obras - que morremos de amor.

Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as suas lágrimas; de ver o seu sorriso, o seu rosto… Julgo que o melhor modo de exprimi-lo é voltar a repetir com a Escritura: Como o cervo que anseia pelas fontes das águas, assim por Vós anela a minha alma, ó meu Deus! E a alma avança metida em Deus, endeusada: fez-se o cristão viajante sequioso, que abre a boca às águas da fonte.