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Há 2 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Caridade → serviço aos outros.

A infecundidade matrimonial — pelo que pode implicar de frustração — é fonte, por vezes, de desavenças e incompreensões. Qual é, em sua opinião, o sentido que devem dar ao matrimônio os esposos cristãos que não têm descendência?

Em primeiro lugar, eu lhes direi que não devem dar-se por vencidos com demasiada facilidade. É preciso pedir a Deus que lhes conceda descendência, que os abençoe — se for essa a sua vontade — como abençoou os patriarcas do Antigo Testamento. Depois, é conveniente que recorram a um bom médico, elas e eles. Se apesar de tudo, o Senhor não lhes der filhos, não devem ver nisso nenhuma frustração; devem ficar satisfeitos — descobrindo nesse fato precisamente a Vontade de Deus em relação a eles. Muitas vezes o Senhor não dá filhos porque pede mais. Pede que se tenha o mesmo esforço e a mesma entrega delicada ajudando o próximo, sem o júbilo bem humano de ter filhos. Não há, pois, motivo para se sentirem fracassados nem para darem lugar à tristeza.

Se os esposos têm vida interior, compreenderão que Deus os insta, impelindo-os a fazer de sua vida um generoso serviço cristão, um apostolado diferente do que realizariam com seus filhos, mas igualmente maravilhoso.

Se olham à sua volta, descobrirão imediatamente pessoas que necessitam de ajuda, de caridade e de carinho. Há, além disso, ocupações apostólicas em que podem trabalhar. E, se souberem pôr o coração nessa tarefa, se souberem dar-se generosamente aos outros, esquecendo-se de si próprios, terão uma fecundidade esplêndida, uma paternidade espiritual que encherá a sua alma de verdadeira paz.

As soluções concretas podem ser diferentes em cada caso; mas, no fundo, todos se reduzem a ocupar-se dos outros com afãs de servir, com amor. Deus recompensa sempre aqueles que têm a generosa humildade de não pensarem em si mesmos, dando às suas almas uma profunda alegria.

Passando a um tema concreto: acaba de ser anunciada a abertura de uma Escola-Residência dirigida pela Seção Feminina do Opus Dei em Madrid, que se propõe criar um ambiente de família e proporcionar uma formação completa às empregadas domésticas, qualificando-as em sua profissão. Que influência acha o senhor que possa ter na sociedade esse tipo de atividades do Opus Dei?

Essa obra apostólica — há muitas semelhantes , orientadas por associadas do Opus Dei que trabalham juntamente com outras pessoas não pertencentes à nossa Associação — tem como fim principal dignificar a profissão das empregadas domésticas, de modo a poderem realizar seu trabalho com sentido científico. Digo com sentido científico porque é preciso que o trabalho do lar se desenvolva como o que realmente é: como uma verdadeira profissão.

Não se pode esquecer que se pretendeu apresentar esse trabalho como algo de humilhante. Não está certo. Humilhantes, sem dúvida, eram as condições em que muitas vezes se desenvolvia essa tarefa. E humilhantes continuam sendo agora, algumas vezes, porque trabalham segundo o capricho de patrões arbitrários, que não dão garantias de direitos àqueles que os servem, e também com escassa retribuição e sem afeto. É necessário exigir o respeito por um contrato de trabalho adequado, com garantias claras e precisas, e definir nitidamente os direitos e os deveres de cada parte.

É necessário — afora as garantias jurídicas — que a pessoa que presta esse serviço esteja habilitada, profissionalmente preparada. Serviço, disse — ainda que hoje a palavra não agrade — porque toda a tarefa social bem feita é isso; um serviço magnífico, tanto o trabalho da empregada doméstica como o do professor ou do juiz. Só não é serviço o trabalho de quem condiciona tudo ao seu próprio bem-estar.

O trabalho do lar é de primeira importância. Aliás, todos os trabalhos podem ter a mesma qualidade sobrenatural. não há tarefas grandes e pequenas: todas são grandes, se se fazem por amor. As que são tidas como tarefas de grande importância ficam diminuídas quando se perde o sentido cristão da vida. Pelo contrário, há coisas aparentemente pequenas que podem ser muito grandes pelas consequências reais que tenham.

Para mim, é tão importante o trabalho de uma minha filha associada do Opus Dei, que é empregada doméstica, como o trabalho de uma minha filha que tem um título nobiliárquico.

Nos dois casos, só me interessa que o trabalho realizado seja meio e ocasião de santificação pessoal e alheia. E será mais importante o trabalho da pessoa que, em sua própria ocupação e em seu próprio estado, for se tornando mais santa e cumprindo com mais amor a missão recebida de Deus.

Diante de Deus, tem tanta categoria a que é catedrática de uma Universidade quanto a que trabalha como comerciária, ou como secretária, ou como operária, ou como camponesa. Todas as almas são iguais; mas, às vezes, são mais formosas as almas das pessoas mais simples; e sempre são mais agradáveis ao Senhor as que tratam com mais intimidade a Deus Pai, a Deus Filho e a Deus Espírito Santo.

Com essa Escola que se abriu em Madrid, pode-se fazer muito: uma autêntica e eficaz ajuda à sociedade numa tarefa importante; e um trabalho cristão no seio do lar, levando às casas alegria, paz, compreensão. Poderia ficar falando horas sobre este tema, mas é suficiente o que disse para ver que considero o trabalho no lar como uma profissão de particular transcendência; porque com ele se pode fazer muito mal ou muito bem no próprio âmago das famílias. Esperemos que seja muito bem. Não faltarão pessoas que, com categoria humana, com competência e com impulso apostólico, façam dessa profissão uma ocupação alegre, de imensa eficácia em muitos lares do mundo.