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Há 3 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Vocação → entrega.

Ao longo desta entrevista, tem havido ocasião de comentar aspectos importantes da vida humana e especificamente da vida da mulher, e de reconhecer como o espírito do Opus Dei os valoriza. Para terminar, poderia dizer-nos como considera que se deve promover o papel da mulher na vida da Igreja?

Não posso ocultar que, ao responder a uma pergunta deste tipo, sinto a tentação — contrária ao meu proceder normal — de fazê-lo de um modo polêmico: porque há pessoas que empregam essa linguagem de um modo clerical, usando a palavra Igreja como sinônimo de algo que pertence ao clero, à Hierarquia eclesiástica. E assim, por participação na vida da Igreja entendem, só ou principalmente, ajuda prestada à vida paroquial, a colaboração em associações "com mandato" da Hierarquia, a assistência ativa às funções litúrgicas e coisas semelhantes.

Quem pensa assim esquece na prática — embora talvez o proclame na teoria — que a Igreja é a totalidade do Povo de Deus, o conjunto de todos os cristãos: que, portanto, onde estiver um cristão que se esforce por viver em nome de Jesus Cristo, aí está presente a Igreja.

Com isto não pretendo desvalorizar a importância da colaboração que a mulher pode prestar à vida da estrutura eclesiástica. Pelo contrário, considero-a imprescindível. Tenho dedicado a minha vida a defender a plenitude da vocação cristã do laicato, dos homens e das mulheres que vivem em meio do mundo, e, por conseguinte, a procurar o pleno reconhecimento teológico e jurídico de sua missão na Igreja e no mundo.

Só quero fazer notar que há quem promova uma redução injustificada dessa colaboração; e afirmar que o simples cristão, homem ou mulher, só pode cumprir sua missão específica, também a que lhe compete dentro da estrutura eclesial, desde que não se clericalize; e continue sendo secular, corrente, pessoa que vive no mundo e que participa dos anseios do mundo.

Compete aos milhões de mulheres e de homens cristãos que enchem a terra, levar Cristo a todas as atividades humanas, anunciando com suas vidas que Cristo ama a todos e quer salvar a todos. Por isso, a melhor maneira de participarem na vida da Igreja, a mais importante e a que, pelo menos, tem de estar pressuposta em todas as outras, é a de serem integralmente cristãos no lugar onde estão na vida, onde sua vocação humana os colocou.

Como me emociona pensar em tantos cristãos, homens e mulheres, que, talvez sem se proporem fazê-lo de maneira específica, vivem com simplicidade a sua vida ordinária, procurando encarnar nela a Vontade de Deus! Fazer com que eles tomem consciência da sublimidade de sua vida, revelar-lhes que isso, aparentemente sem importância, tem um valor de eternidade, ensinar-lhes a escutar mais atentamente a voz de Deus, que lhes fala através de acontecimentos e situações — é disso que a Igreja tem hoje premente necessidade, porque é nesse sentido que Deus a está ungindo.

Cristianizar o mundo inteiro a partir de dentro, mostrando que Jesus Cristo redimiu toda a humanidade — essa é a missão do cristão. e a mulher participará nela de maneira que lhe é própria, tanto no lar quanto nas tarefas que desempenha, realizando as virtualidades peculiares que lhe cabem.

O principal é, pois, que, como Santa Maria — mulher, Virgem e Mãe — vivam voltadas para Deus, pronunciando esse fiat mihi secundum verbum tuum (Lc 1, 38), faça-se em mim segundo a tua palavra — do qual depende a fidelidade à vocação pessoal, única e intransferível em cada caso, e que nos fará cooperadores da obra de salvação realizada por Deus em nós e no mundo inteiro.

Continuo mantendo a esperança — porque corresponde a um critério justo e à realidade vigente em muitos países — de que um dia o Estado Espanhol contribua, por sua parte, para aliviar os ônus de uma tarefa que não tem em vista proveito privado algum, pois — muito pelo contrário — , por estar totalmente votada ao serviço da sociedade, procura trabalhar com eficácia em prol da prosperidade presente e futura da nação.

E agora, filhos e filhas, permitam que me detenha em outro aspecto — particularmente entranhável — da vida ordinária. Refiro-me ao amor humano, ao amor limpo entre um homem e uma mulher, ao noivado, ao matrimônio. Devo dizer uma vez mais que esse santo amor humano não é algo permitido, tolerado, ao lado das verdadeiras atividades do espírito, como poderiam insinuar os falsos espiritualismos a que antes aludia. Faz quarenta anos que venho pregando, de palavra e por escrito, exatamente o contrário; e já o vão entendendo os que não o compreendiam.

O amor que conduz ao matrimônio e à família pode ser também um caminho divino, vocacional, maravilhoso, por onde corra, como um rio em seu leito, uma completa dedicação ao nosso Deus. Já o lembrei: realizem as coisas com perfeição, ponham amor nas pequenas atividades da jornada; Descubram — insisto — esse algo divino que nos detalhes se encerra: toda esta doutrina encontra lugar especial no espaço vital em que se enquadra o amor humano.

Já o sabem os professores, os alunos e todos os que dedicam seu trabalho à Universidade de Navarra: eu encomendei os amores de todos a Santa Maria, Mãe do Amor Formoso. E ai está a ermida que construímos com devoção, no campus universitário, para receber de todos as orações e a oblação desse maravilhoso e limpo amor, que Ela abençoa.

Não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo, recebido de Deus e que não vos pertenceis? Quantas vezes responderão, diante da imagem da Virgem Maria, da mãe do Amor Formoso, com uma afirmação cheia de júbilo à pergunta do Apóstolo: sim, nós o sabemos e queremos vivê-lo com tua ajuda poderosa, ó Virgem Mãe de Deus!

A oração contemplativa surgirá em todos sempre que meditarem nesta realidade impressionante: algo tão material como meu corpo foi escolhido pelo Espírito Santo para estabelecer sua morada…, não pertenço mais a mim…, meu corpo e minha alma — todo o meu ser — são de Deus… E essa oração será rica em resultados práticos, derivados da grande conseqüência que o próprio Apóstolo propõe: glorificai a Deus em vosso corpo.

Por outro lado, como não podem deixar de reconhecer, só entre os que compreendem e avaliam em toda a sua profundidade o que acabamos de considerar acerca do amor humano, pode surgir essa outra compreensão inefável de que falou Jesus, que é puro dom de Deus e que impele a entregar o corpo e a alma ao Senhor, a oferecer-Lhe o coração indiviso, sem a mediação do amor terreno.