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Há 3 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Caridade → caridade no lar.

Não vos esqueçais de que, entre os esposos, há ocasiões em que não é possível evitar as rusgas. Não alterqueis nunca diante dos filhos: fá-los-íeis sofrer e pôr-se-iam de um dos lados, contribuindo talvez para aumentar inconscientemente a vossa desunião. Mas brigar, sempre que não seja muito freqüente, também é uma manifestação de amor, quase uma necessidade. A ocasião, não o motivo, costuma ser o cansaço do marido, esgotado pelo trabalho profissional; a fadiga - oxalá não seja o aborrecimento - da esposa, que teve de lutar com as crianças, com as empregadas ou com o seu próprio caráter, às vezes pouco rijo, ainda que vós, mulheres, sejais mais enérgicas que os homens, se vos propondes sê-lo.

Evitai a soberba, que é o maior inimigo da vossa vida conjugal: em vossas pequenas brigas, nenhum dos dois tem razão. Aquele que estiver mais sereno deve dizer uma palavra que contenha o mau humor até mais tarde. E mais tarde - a sós - discuti, que logo fareis as pazes.

Vós, mulheres, pensai se porventura não descuidais um pouco o arranjo pessoal; recordai, com o provérbio, que “a mulher bem-posta tira o homem de outra porta”: é sempre atual o dever de vos apresentardes amáveis como quando éreis noivas, dever de justiça, porque pertenceis ao vosso marido; e ele não deve esquecer, igualmente, que é vosso e que conserva a obrigação de ser, durante toda a vida, afetuoso como um noivo. Mau sinal se sorrísseis com ironia ao lerdes este parágrafo: seria sinal evidente de que o afeto familiar se havia convertido em gélida indiferença.

Não se pode falar do matrimônio sem pensar ao mesmo tempo na família, que é o fruto e a continuação da realidade que se inicia com o matrimônio. Uma família compõe-se, não só do marido e da mulher, mas também dos filhos e, em um ou outro grau, dos avós, dos demais parentes e das empregadas domésticas. O calor íntimo de que depende o ambiente familiar deve chegar a todos eles.

É certo que há casais a quem o Senhor não concede filhos: é sinal, então, de que lhes pede que continuem a querer-se com igual carinho e que dediquem as suas energias - se puderem - a serviços e tarefas em benefício de outras almas. Mas o normal é que um casal tenha descendência. Para estes esposos, a primeira preocupação devem ser os seus próprios filhos. A paternidade e a maternidade não terminam com o nascimento: essa participação no poder de Deus, que é a faculdade de gerar, deve prolongar-se mediante a cooperação com o Espírito Santo, para que culmine com a formação de autênticos homens cristãos e autênticas mulheres cristãs.

Os pais são os principais educadores de seus filhos, tanto no aspecto humano como no sobrenatural, e devem sentir a responsabilidade dessa missão, que exige deles compreensão, prudência, saber ensinar e sobretudo saber amar; e que se empenhem em dar bom exemplo. Não é caminho acertado para a educação a imposição autoritária e violenta. O ideal dos pais concretiza-se antes em chegarem a ser amigos dos filhos: amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consultam os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável.

É necessário que os pais consigam tempo para estar com os filhos e falar com eles. Os filhos são o que há de mais importante: são mais importantes que os negócios, que o trabalho, que o descanso. Nessas conversas, convém escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, saber reconhecer a parte de verdade - ou a verdade inteira - que possa haver em algumas de suas rebeldias. E, ao mesmo tempo, ajudá-los a canalizar retamente seus interesses e entusiasmos, ensiná-los a considerar as coisas e a raciocinar, não lhes impor determinada conduta, mas mostrar-lhes os motivos sobrenaturais e humanos que a aconselham. Em uma palavra, respeitar-lhes a liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade.

Escutai os vossos filhos, dedicai-lhes também o vosso tempo, mostrai-lhes confiança, acreditai no que vos disserem, ainda que uma vez ou outra vos enganem; não vos assusteis com as suas rebeldias, posto que também vós, na mesma idade, fostes mais ou menos rebeldes; saí-lhes ao encontro, até meio do caminho, e rezai por eles. E vereis como recorrerão a seus pais com simplicidade - podeis estar certos, se agis assim cristãmente -, em vez de recorrerem, com suas legítimas curiosidades, a um amigalhaço desavergonhado e brutal. A vossa confiança, a vossa relação amigável com os filhos, receberá em resposta a sinceridade deles para convosco. E isto é a paz familiar, a vida cristã, embora não faltem contendas e incompreensões de pouca monta.

Como descreverei - pergunta um escritor dos primeiros séculos - a felicidade desse matrimônio que a Igreja une, que a entrega confirma, que a bênção sela, que os anjos proclamam, e que Deus Pai tem por celebrado?… Ambos os esposos são como irmãos, servos um do outro, sem que se dê entre eles separação alguma, nem na carne nem no espírito. Porque verdadeiramente são dois numa só carne, e onde há uma só carne deve haver um só espírito… Ao contemplar esses lares, Cristo se alegra e envia-lhes a sua paz; onde estão dois, ali está Ele também, e onde Ele está, não pode haver nada de mau.