Lista de pontos

Há 2 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Obediência → senhorio da obediência.

Não me afasto da mais rigorosa verdade se digo que Jesus continua ainda hoje a buscar pousada no nosso coração. Temos que lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos que lhe pedir a graça de nunca mais lhe fecharmos a porta de nossas almas.

O Senhor não nos oculta que a obediência rendida à Vontade de Deus exige renúncia e entrega, porque o amor não reclama direitos; quer servir. Ele percorreu primeiro o caminho. Jesus: como foi que obedeceste? Usque ad mortem, mortem autem crucis, até à morte, e morte de Cruz. Temos que sair de nós mesmos, complicar a vida, perdê-la por amor de Deus e das almas… Tu querias viver, e que nada te acontecesse; mas Deus quis outra coisa… Existem duas vontades: a tua vontade deve ser corrigida para se identificar com a Vontade de Deus, e não a de Deus torcida para se acomodar à tua.

Tenho visto, com alegria, muitas almas jogarem a vida - como Tu, Senhor, usque ad mortem! - para cumprir o que a vontade de Deus lhes pedia, dedicando seus esforços e seu trabalho profissional ao serviço da Igreja, pelo bem de todos os homens.

Aprendamos a obedecer, aprendamos a servir. Não há maior fidalguia do que entregar-se voluntariamente a servir os outros. Quando sentimos o orgulho que referve dentro de nós, a soberba que nos leva a pensar que somos super-homens, é o momento de dizer não, de dizer que o nosso único triunfo há de ser o da humildade. Assim nos identificaremos com Cristo na Cruz, sem nos sentirmos aborrecidos ou inquietos, nem com mau humor, mas alegres, porque essa alegria, o esquecimento de nós mesmos, é a melhor prova de amor.

Nossa Mãe é modelo de correspondência à graça, e, ao contemplarmos a sua vida, o Senhor nos dará luz para que saibamos divinizar a nossa existência de todos os dias. Ao longo do ano, quando celebramos as festas marianas, e em bastantes momentos de cada dia, nós, cristãos, pensamos muitas vezes na Virgem. Se aproveitarmos esses instantes, imaginando como a nossa Mãe se comportaria nas tarefas que temos que realizar, iremos aprendendo pouco a pouco, e acabaremos por parecer-nos com Ela, como os filhos se parecem com sua Mãe.

Imitar, em primeiro lugar, o seu amor. A caridade não se limita aos sentimentos: deve estar presente nas palavras, mas sobretudo nas obras. A Virgem não se limitou a dizer fiat, mas cumpriu em todos os momentos essa decisão firme e irrevogável. Assim também nós: quando o amor de Deus nos aguilhoar e soubermos o que Ele quer, deveremos comprometer-nos a ser fiéis, leais, mas a sê-lo efetivamente. Porque nem todo o que diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas o que faz a vontade do meu Pai celestial, esse entrará no reino dos céus.

Temos que imitar a sua natural e sobrenatural elegância. Maria é uma criatura privilegiada na história da salvação: nEla o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Foi testemunha delicada, que passa despercebida; não foi amiga de receber louvores, porque não ambicionou a sua própria glória. Maria assiste aos mistérios da infância de seu Filho, mistérios, se assim se pode dizer, cheios de normalidade; mas à hora dos grandes milagres e das aclamações populares, desaparece. Em Jerusalém, quando Cristo - montado sobre um jumentinho - é vitoriado como Rei, Maria não se encontra presente. Mas reaparece junto da Cruz, quando todos fogem. Este modo de se comportar tem o sabor - não procurado - da grandeza, da profundidade, da santidade da sua alma.

Procuremos aprender também seu exemplo de obediência a Deus, nessa delicada combinação de escravidão e fidalguia. Em Maria não há nada que lembre a atitude das virgens néscias, que obedecem, mas estouvadamente. Nossa Senhora ouve com atenção o que Deus quer, pondera o que não entende, pergunta o que não sabe. Depois, entrega-se por completo ao cumprimento da vontade divina: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Vemos a maravilha? Santa Maria, mestra de toda a nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é servilismo, não subjuga a consciência; pelo contrário, move-nos interiormente a descobrir a liberdade dos filhos de Deus.