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Há 2 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Amizade.

Dentro dessa panorâmica, qual a tarefa que o Opus Dei tem realizado e realiza? Que relações de colaboração mantêm seus sócios com outras organizações que trabalham nesse campo?

Não compete a mim emitir um juízo histórico sobre o que o Opus Dei tem feito por graça de Deus. Apenas devo afirmar que a finalidade a que o Opus Dei aspira é favorecer a procura da santidade e o exercício do apostolado por parte dos cristãos que vivem em meio do mundo, seja qual for seu estado ou condição.

A Obra nasceu a fim de contribuir para que esses cristãos, inseridos no tecido da sociedade civil — com sua família, suas amizades, seu trabalho profissional, suas aspirações nobres — compreendam que a sua vida, tal como é, pode vir a ser ocasião de um encontro com Cristo: quer dizer, que é um caminho de santidade e de apostolado. Cristo está presente em qualquer tarefa humana honesta: a vida de um simples cristão — que talvez a alguns pareça vulgar e acanhada — pode e deve ser uma vida santa e santificante.

Por outras palavras: Para seguir a Cristo, para servir a Igreja, para ajudar os outros homens as reconhecerem seu destino eterno, não é indispensável abandonar o mundo ou afastar-se dele, nem mesmo é preciso dedicar-se a uma atividade eclesiástica; a condição necessária e suficiente é esta: que cada um cumpra a missão que lhe foi confiada por Deus, no lugar e no ambiente queridos por sua Providência.

A maior parte dos cristãos recebe de Deus a missão de santificar o mundo de dentro para fora, permanecendo em meio das estruturas temporais; tendo isto em conta, o Opus Dei dedica-se a fazê-los descobrir essa missão divina, mostrando-lhes que a vocação humana — a vocação profissional, familiar e social — não se opõe à vocação sobrenatural: pelo contrário, é parte integrante dela.

O Opus Dei tem como missão única e exclusiva a difusão desta mensagem — que é uma mensagem evangélica — entre todas as pessoas que vivem e trabalham no mundo, em qualquer ambiente ou profissão. E, àqueles que entendem este ideal de santidade, a Obra proporciona os meios espirituais e a formação doutrinal, ascética e apostólica necessária para realizá-lo na própria vida.

Os sócios do Opus Dei não atuam em grupo, mas sim individualmente, com liberdade e responsabilidade pessoais. Por isso, o Opus Dei não é uma organização fechada ou que de algum modo reúna seus sócios para os isolar dos outros homens. As atividades corporativas, que são as únicas que a Obra dirige, estão abertas a todo tipo de pessoas, sem discriminação de espécie alguma: nem social, nem cultural, nem religiosa. E os sócios, precisamente porque devem santificar-se no mundo, colaboram sempre com todas as pessoas com quem se relacionam pelo seu trabalho e pela sua participação na vida cívica.

É parte essencial do espírito cristão não só viver em união com a Hierarquia ordinária — O Romano Pontífice e o Episcopado — mas também sentir a unidade com os demais irmãos na fé. Há muito tempo que penso que um dos maiores males da Igreja nesta época é o fato de muitos católicos desconhecerem o que fazem e pensam os católicos de outros países ou de outros ambientes sociais. É necessário atualizar essa fraternidade, que os primeiros cristãos viviam tão profundamente. Assim nos sentiremos unidos, amando ao mesmo tempo a variedade das vocações pessoais; assim também se evitarão não poucos juízos injustos e ofensivos, propalados por determinados pequenos grupos — em nome do catolicismo — contra seus irmãos na fé, que na realidade agem retamente e com sacrifício, consideradas as circunstâncias particulares do seu país.

Um dos bens fundamentais da família está em gozar de uma paz estável. Contudo, infelizmente, não é raro que, por motivos de caráter político ou social, uma família se encontre dividida. Em sua opinião, como podem ser superados esses conflitos?

Minha resposta não pode ser senão uma: conviver, compreender, desculpar. O fato de alguém não pensar como eu — especialmente quando se trata de coisas que são objeto da liberdade de opinião — não justifica de modo algum uma atitude de inimizade pessoal, nem sequer de frieza ou indiferença. Minha fé cristã me diz que é necessário viver a caridade com todos, inclusive com aqueles que não têm a graça de crer em Jesus Cristo. Imaginem então se não é para viver a caridade quando, unidos pelo mesmo sangue e a mesma fé, há divergências em coisas opináveis! Mais ainda; como nesses terrenos ninguém pode pretender estar na posse da verdade absoluta, o convívio, cheio de afeto, é um meio concreto para aprender dos outros o que eles nos podem ensinar; e também para que os outros aprendam, se quiserem, o que cada um dos que com eles convivem lhes pode ensinar, que sempre será alguma coisa.

Não é cristão, nem sequer humano, dividir-se uma família por estas questões. Quando se compreende a fundo o valor da liberdade, quando se ama apaixonadamente esse dom divino da alma, ama-se o pluralismo que a liberdade traz consigo.

Vou dar o exemplo do que se vive no Opus Dei, que é uma grande família de pessoas unidas pelo mesmo fim espiritual. No que não é de fé, cada um pensa e atua como quer, com a liberdade e a responsabilidade pessoal mais completa. E o pluralismo que, lógica e sociologicamente, deriva deste fato, não constitui nenhum problema para a Obra. Mais ainda: esse pluralismo é uma manifestação de bom espírito. Precisamente porque o pluralismo não é temido, mas amado como legítima conseqüência da liberdade pessoal, as diversas opiniões dos sócios não impedem no Opus Dei a máxima caridade no convívio, a compreensão mútua. Liberdade e caridade: estamos falando sempre do mesmo. E São, de fato, condições essenciais; viver com a liberdade que Jesus Cristo nos ganhou; viver a caridade que Ele nos deu como mandamento novo.

Referências da Sagrada Escritura