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Há 6 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Perdão.

As circunstâncias do servo da parábola que devia dez mil talentos refletem bem a nossa situação diante de Deus: nós também não contamos com nada para pagar a dívida imensa que contraímos por tantas bondades divinas, e que aumentamos ao ritmo dos nossos pecados pessoais. Ainda que lutemos denodadamente, não conseguiremos devolver com eqüidade o muito que o Senhor nos perdoou. Mas a misericórdia divina supre folgadamente a impotência da justiça humana. Ele, sim, pode dar-se por satisfeito e perdoar-nos a dívida, simplesmente porque é bom e infinita a sua misericórdia.

Como nos lembramos muito bem, a parábola termina com uma segunda parte, que é contraponto da anterior. Aquele servo, a quem acabam de perdoar um cabedal enorme, não se compadece de um companheiro que lhe devia apenas cem denários. É aqui que se põe de manifesto a mesquinhez do seu coração. Falando estritamente, ninguém lhe negaria o direito de exigir o que é seu. No entanto, alguma coisa se revolta dentro de nós e nos sugere que essa atitude intolerante se afasta da verdadeira justiça: não é justo que quem, apenas poucos minutos antes, recebeu um tratamento misericordioso de favor e de compreensão, não demonstre ao menos um pouco de paciência para com o seu devedor. Reparai que a justiça não se manifesta exclusivamente no respeito exato dos direitos e deveres, à semelhança dos problemas aritméticos, que se resolvem fazendo somas e subtrações.

Tanto se aproximou Deus das criaturas, que todos guardamos no coração fomes de altura, ânsias de subir muito alto, de fazer o bem. Se agora revolvo em ti estas aspirações, é porque quero que te convenças da segurança que Ele pôs na tua alma: se o deixas atuar, servirás - no lugar em que estás - como instrumento útil, com uma eficácia inimaginável. Para que não te afastes por covardia dessa confiança que Deus deposita em ti, evita a presunção de menosprezar ingenuamente as dificuldades que hão de aparecer no teu caminho de cristão.

Não nos podemos surpreender. Arrastamos dentro de nós - conseqüência da natureza decaída - um princípio de oposição, de resistência à graça: são as feridas do pecado de origem, exacerbadas pelos nossos pecados pessoais. Portanto, devemos empreender essas ascensões, essas tarefas divinas e humanas - as de cada dia, que sempre desembocam no Amor de Deus -, com humildade, de coração contrito, fiados na assistência divina e dedicando-lhes os nossos melhores esforços, como se tudo dependesse de nós.

Enquanto combatemos - um combate que há de durar até a morte -, não excluas a possibilidade de que se ergam, violentos, os inimigos de fora e de dentro. E, como se não bastasse esse lastro, hão de amontoar-se na tua mente, de quando em quando, os erros cometidos, talvez abundantes. Digo-te em nome de Deus: não desesperes. Quando isso suceder - aliás, não é forçoso que suceda, nem será o habitual -, converte essa ocasião em motivo para te unires mais ao Senhor; porque Ele, que te escolheu como filho, não te há de abandonar: permite a prova, sim, mas para que ames mais e descubras com mais clareza a sua contínua proteção, o seu Amor.

Insisto, tem coragem, porque Cristo, que nos perdoou na Cruz, continua a oferecer o seu perdão no sacramento da Penitência e sempre temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele mesmo é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo, para que alcancemos a Vitória.

Para a frente, aconteça o que acontecer! Bem agarrado ao braço do Senhor, considera que Deus não perde batalhas. Se te afastas dEle por qualquer motivo, reage com a humildade de começar e recomeçar; de fazer de filho pródigo todos os dias, até mesmo repetidas vezes nas vinte e quatro horas do dia; de acertar o coração contrito na Confissão, verdadeiro milagre do Amor de Deus. Neste sacramento maravilhoso, o Senhor limpa a tua alma e te inunda de alegria e de força, para não desfaleceres no combate e para retornares sem cansaço a Deus, mesmo quando te pareça que tudo está às escuras. Além disso, a Mãe de Deus, que é também Mãe nossa, te protege com a sua solicitude maternal e te firma nos teus passos.

Previne a Escritura Santa que até o justo cai sete vezes. Sempre que li estas palavras, a minha alma estremeceu com uma forte sacudidela de amor e de dor. Com essa advertência divina, o Senhor vem uma vez mais ao nosso encontro, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca terminam. Estejamos certos de que Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece; e conta precisamente com essas fraquezas para que nos tornemos santos.

Uma sacudidela de Amor, dizia-vos. Olho para a minha vida e vejo sinceramente que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais ainda: que sou o nada! Mas Ele é tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou dEle, porque não me rejeita, porque se entregou por mim. Onde contemplastes um amor tão grande?

E uma sacudidela de dor, pois revejo a minha conduta e me assombro com o cúmulo das minhas negligências. Basta-me examinar as poucas horas do dia de hoje, desde que me levantei, para descobrir tantas faltas de amor, de correspondência fiel. Tenho verdadeira pena deste meu comportamento, mas não me tira a paz. Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação. Logo a seguir, recebo a certeza da sua assistência e, no fundo do meu coração, ouço que Ele me repete devagar: Meus es tu!, tu és meu; Eu já sabia - e sei - como és: para a frente!

Não pode ser de outra maneira. Se nos pusermos continuamente na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, pois verificaremos que o seu Amor e o seu chamado permanecem atuais; Deus não se cansa de nos amar. A esperança mostra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem sequer o menor dos nossos deveres; e, com Ele, com a sua graça, as nossas feridas cicatrizam; revestimo-nos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo, e melhoramos. Em resumo: a consciência de estarmos feitos de barro de moringa deve servir-nos sobretudo para robustecermos a nossa esperança em Cristo Jesus.

A virtude da esperança - a certeza de que Deus nos governa com a sua providente onipotência, de que nos dá os meios necessários - fala-nos dessa contínua bondade do Senhor para com os homens, para contigo, para comigo, sempre disposto a ouvir-nos, porque jamais se cansa de escutar. Interessam-lhe as tuas alegrias, os teus êxitos, o teu amor e também os teus apertos, a tua dor, os teus fracassos.

Por isso, não esperes nEle apenas quando tropeçares com a tua fraqueza; dirige-te ao teu Pai do Céu nas circunstâncias favoráveis e nas adversas, acolhendo-te à sua proteção misericordiosa. E a certeza da nossa nulidade pessoal - não se requer grande humildade para reconhecer esta realidade: somos uma autêntica multidão de zeros - converter-se-á numa fortaleza irresistível, porque à esquerda do nosso eu estará Cristo, e que cifra incomensurável não resulta!: O Senhor é a minha fortaleza e o meu refúgio; a quem temerei?

Acostumai-vos a ver Deus por trás de todas as coisas, a saber que Ele nos espera sempre, que nos contempla e reclama precisamente que o sigamos com lealdade, sem abandonar o lugar que nos cabe neste mundo. Devemos caminhar com vigilância afetuosa, com uma preocupação sincera de lutar, para não perdermos a sua divina companhia.

Esta luta do filho de Deus não anda de mãos dadas com renúncias tristes, com resignações sombrias, com privações de alegria: é a reação do apaixonado que, enquanto trabalha e enquanto descansa, enquanto se rejubila e enquanto padece, põe o seu pensamento na pessoa amada e por ela enfrenta com todo o gosto os problemas mais diversos. Além disso, no nosso caso, como Deus - insisto - não perde batalhas, nós, com Ele, nos chamaremos vencedores. Tenho a experiência de que, se me ajusto fielmente às suas instâncias, Ele me conduz a verdes prados e me leva às águas refrescantes. Recreia a minha alma, pelos caminhos retos me conduz, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse um vale tenebroso, nada temerei, pois estás comigo. Teu bordão e teu cajado são o meu consolo.

Nas batalhas da alma, a estratégia é muitas vezes questão de tempo, de aplicar o remédio conveniente com paciência, com teimosia. Aumentai os atos de esperança. Quero lembrar-vos que, na vida interior, sofrereis derrotas, ou passareis por altos e baixos - Deus permita que sejam imperceptíveis -, porque ninguém está livre desses percalços. Mas o Senhor, que é onipotente e misericordioso, concedeu-nos os meios idôneos para vencer. Basta que os utilizemos, como dizia antes, com a resolução de começar e recomeçar a cada instante, se for preciso.

Recorrei semanalmente - e sempre que precisardes, sem dar lugar aos escrúpulos - ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino. Revestidos da graça, passaremos através das montanhas e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando esses recursos, com boa vontade, suplicando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada vez maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está conosco, quem nos poderá derrotar?

Otimismo, portanto. Impelidos pela força da esperança, lutaremos por apagar a mancha viscosa que espalham os semeadores do ódio, e redescobriremos o mundo numa perspectiva feliz, porque o mundo saiu belo e limpo das mãos de Deus, e é assim, com essa beleza, que o havemos de restituir a Ele, se aprendermos a arrepender-nos.

Cresçamos em esperança, que deste modo fortaleceremos a nossa fé, verdadeiro fundamento das coisasque se esperam e garantia das que não se possuem. Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós, porque só se confia deveras no que se ama com todas as forças. E vale a pena amar o Senhor. Todos sabem por experiência, tanto como eu, que uma pessoa enamorada se entrega com toda a segurança, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações pulsam num mesmo querer. E o que será o Amor de Deus? Não sabemos que por cada um de nós morreu Cristo? Sim, por este nosso coração, pobre, pequeno, consumou-se o sacrifício redentor de Jesus.

O Senhor fala-nos freqüentemente do prêmio que nos conquistou com a sua Morte e com a sua Ressurreição. Vou preparar-vos um lugar. E quando eu me houver ido e vos tiver preparado o lugar, de novo voltarei e vos levarei comigo, para que onde eu estiver estejais vós também. O Céu é a meta da nossa senda terrena. Jesus Cristo precedeu-nos, e é lá que, em companhia de Nossa Senhora e de São José - a quem tanto venero -, dos Anjos e dos Santos, espera a nossa chegada.

Nunca faltaram os hereges - mesmo na época apostólica - que tentaram arrancar aos cristãos a esperança. Se de Cristo se prega que ressuscitou dos mortos, como é que entre vós alguns dizem que não há ressurreição dos mortos?Se, porém, não existe ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, vã a vossa fé… A divindade do nosso caminho - Jesus, caminho, verdade e vida - é penhor seguro de que esse caminho acaba na felicidade eterna, se dEle não nos afastarmos.

Referências da Sagrada Escritura
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