Lista de pontos
Não tenhas espírito de “caipira”. - Dilata o teu coração, até que seja universal, “católico”.
Não voes como ave de capoeira, quando podes subir como as águias.
Egoísta! - Tu, sempre atrás das “tuas coisas”. - Pareces incapaz de sentir a fraternidade de Cristo: nos outros, não vês irmãos; vês “degraus”.
Pressinto o teu fracasso rotundo. - E, quando estiveres afundado, quererás que vivam contigo a caridade que agora não queres viver.
Tu não serás líder se na massa só vires o escabelo para empoleirar-te. - Tu serás líder se tiveres a ambição de salvar todas as almas.
Não podes viver de costas para a multidão. É preciso que tenhas ânsias de torná-la feliz.
Não pressentes que te espera mais paz e mais união quando tiveres correspondido a essa graça extraordinária que te exige um desprendimento total?
- Luta por Ele, para Lhe dar gosto; mas fortalece a tua esperança.
Tens medo de tornar-te frio e duro para todos. Tanto te queres desapegar!
Afasta essa preocupação. Se és de Cristo - todo de Cristo! -, para todos terás - também de Cristo - fogo, luz e calor.
Essa frase feliz, a piada que não te escapou da boca, o sorriso amável para quem te incomoda, aquele silêncio ante a acusação injusta, a tua conversa afável com os maçantes e os inoportunos, o não dar importância cada dia a um pormenor ou outro, aborrecido e impertinente, das pessoas que convivem contigo… Isto, com perseverança, é que é sólida mortificação interior.
Bebamos até a última gota o cálice da dor na pobre vida presente. - Que importa padecer dez, vinte, cinqüenta anos…, se depois vem o Céu para sempre, para sempre…, para sempre?
E sobretudo - melhor do que a razão apontada - "propter retributionem"* -, que importa padecer, se se padece para consolar, para dar gosto a Deus Nosso Senhor, com espírito de reparação, unido a Ele na sua Cruz…, numa palavra: se se padece por Amor?
(*) Pela recompensa (N. do T.)
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Estes são os saborosos frutos da alma mortificada: compreensão e transigência para as misérias alheias; intransigência para as próprias.
Se perdes o sentido sobrenatural da tua vida, a tua caridade será filantropia; a tua pureza, decência; a tua mortificação, bobice; as tuas disciplinas, látego; e todas as tuas obras, estéreis.
Distrair-te. - Precisas distrair-te…, abrindo muito os olhos, para que entrem bem as imagens das coisas, ou fechando-os quase, por exigências da tua miopia…
Fecha-os de todo! Tem vida interior, e verás, com cor e relevo inesperados, as maravilhas de um mundo melhor, de um mundo novo: e terás intimidade com Deus…, e conhecerás a tua miséria…, e te endeusarás…, com um endeusamento que, aproximando-te de teu Pai, te fará mais irmão dos teus irmãos, os homens.
Pureza de intenção. - Tê-la-ás sempre se, sempre e em tudo, só procurares agradar a Deus.
Missionário. - Sonhas em ser missionário. Tens vibrações como as de Xavier, e queres conquistar para Cristo um império. - O Japão, a China, a Índia, a Rússia…, os povos frios do norte da Europa, ou a América, ou a África, ou a Austrália…
- Fomenta esses incêndios em teu coração, essa fome de almas. Mas não esqueças que és mais missionário “obedecendo”. Geograficamente longe desses campos de apostolado, trabalhas “aqui” e “ali”. Não sentes - como Xavier! - o braço cansado, depois de administrares a tantos o batismo?
A caridade de Jesus Cristo há de levar-te a muitas concessões… nobilíssimas. - E a caridade de Jesus Cristo há de levar-te a muitas intransigências…, nobilíssimas também.
Diz o Senhor: “Um mandamento novo vos dou: que vos ameis uns aos outros… Nisto se conhecerá que sois meus discípulos”.
- E São Paulo: “Carregai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”.
- Eu não te digo nada.
Sê intransigente na doutrina e na conduta. - Mas suave na forma. - Maça poderosa de aço, almofadada.
- Sê intransigente, mas não sejas cabeçudo.
Não peças perdão a Jesus apenas de tuas culpas; não O ames com teu coração somente…
Desagrava-O por todas as ofensas que Lhe têm feito, que Lhe fazem e Lhe hão de fazer…; ama-O com toda a força de todos os corações de todos os homens que mais O tenham amado.
Sê audaz: diz-Lhe que estás mais louco por Ele que Maria Madalena, mais que Teresa e Teresinha…, mais apaixonado que Agostinho e Domingos e Francisco, mais que Inácio e Xavier.
O segredo para dar relevo às coisas mais humildes, mesmo às mais humilhantes, é amar.
Que pouco é uma vida para oferecê-la a Deus!…
Castigar por Amor: este é o segredo para elevar a um plano sobrenatural a pena imposta aos que a merecem.
Por amor a Deus, a quem se ofende, sirva a pena de expiação; por amor ao próximo por Deus, jamais sirva a pena de vingança, mas de remédio salutar.
Saber que me amas tanto, meu Deus, e… não enlouqueci?!
Senhor: que eu tenha peso e medida em tudo… menos no Amor.
Vive de Amor e vencerás sempre - ainda que sejas vencido - nas Navas e Lepantos* da tua luta interior.
(*) Navas de Tolosa: famosa batalha travada em 1212 no sul da Espanha, ganha pelos exércitos dos reinos cristãos da Península Ibérica contra os muçulmanos da Andaluzia e do norte da África. Lepanto: batalha naval travada no Mediterrâneo em 1571, entre as esquadras turca e cristã, em que venceu a frota cristã (N. do T.).
Louco! - Bem te vi (julgavas-te só na capela episcopal) depor um beijo em cada cálice e em cada patena recém-consagrados: para que Ele os encontre, quando pela primeira vez “descer” a esses vasos eucarísticos.
Não admitas um mau pensamento acerca de ninguém, mesmo que as palavras ou obras do interessado dêem motivo para assim julgares razoavelmente.
Esforça-te, se é preciso, por perdoar sempre aos que te ofendem, desde o primeiro instante, já que, por maior que seja o prejuízo ou a ofensa que te façam, mais te tem perdoado Deus a ti.
Uma característica muito importante do homem apostólico é amar a Missa.
A Missa é comprida, dizes, e eu acrescento: porque o teu amor é curto.
Não é estranho que muitos cristãos - pausados e até solenes na vida social (não têm pressa), nas suas pouco ativas atuações profissionais, à mesa e no descanso (também não têm pressa) - se sintam apressados e apressem o Sacerdote na sua ânsia de encurtar, de abreviar o tempo dedicado ao Santíssimo Sacrifício do Altar?
“Tratai-mO bem, tratai-mO bem!”, dizia, entre lágrimas, um velho Prelado aos novos Sacerdotes que acabava de ordenar.
- Senhor! Quem me dera ter voz e autoridade para clamar desta maneira ao ouvido e ao coração de muitos cristãos, de muitos!
Quantos anos comungando diariamente! - Qualquer outro seria santo - disseste-me -, e eu, sempre na mesma!
- Meu filho - respondi-te -, continua com a Comunhão diária e pensa: Que seria de mim se não tivesse comungado?
Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor.
Comunga. - Não é falta de respeito. - Comunga, hoje precisamente, que acabas de sair daquele laço.
- Esqueces que Jesus disse: “Não é necessário o médico para os sãos, mas para os enfermos”?
Faz tudo desinteressadamente, por puro Amor, como se não houvesse prêmio nem castigo. - Mas fomenta em teu coração a gloriosa esperança do Céu.
Outra vez!… Falaram, escreveram…, a favor, contra…; com boa e com menos boa vontade…; reticências e calúnias, panegíricos e exaltações…, sandices e verdades…
- Bobo! Grandessíssimo bobo! Se vais direito ao teu fim, com a cabeça e o coração bêbados de Deus, que te importa a ti o clamor do vento ou o cantar da cigarra, ou o mugido, ou o grunhido, ou o relincho?…
Além disso…, é inevitável; não pretendas tapar o sol com a peneira.
Soltaram-se as línguas e sofreste desfeitas que te feriram mais porque não as esperavas.
A tua reação sobrenatural deve ser a de perdoar - e mesmo pedir perdão - e aproveitar a experiência para desapegar-te das criaturas.
Estás ouvindo? - Em outro estado, em outro lugar, em outro grau e ofício farias um bem muito maior. - Para fazer o que estás fazendo, não é preciso talento!
Pois eu te digo: - Onde te puseram agradas a Deus…, e isso que andavas pensando é claramente uma sugestão infernal.
Será que não brilha na tua alma o desejo de que teu Pai-Deus fique contente quando tiver que julgar-te?
Pureza de intenção. - As sugestões da soberba e os ímpetos da carne, logo os conheces…, e lutas, e, com a graça, vences.
Mas os motivos que te levam a agir, mesmo nas ações mais santas, não te parecem claros… e sentes uma voz lá dentro que te faz ver intuitos humanos…, com tal sutileza que se infiltra na tua alma a intranqüilidade de pensar que não estás trabalhando como deves - por puro Amor, única e exclusivamente para dar a Deus toda a sua glória.
Reage logo, de cada vez, e diz: “Senhor, para mim nada quero. - Tudo para a tua glória e por Amor”.
Pequeno amor é o teu se não sentes zelo pela salvação de todas as almas. - Pobre amor é o teu se não tens ânsias de pegar a tua loucura a outros apóstolos.
Fazei tudo por Amor. - Assim não há coisas pequenas: tudo é grande. - A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo.
Não tenhas inimigos. - Tem apenas amigos… da direita - se te fizeram ou quiseram fazer-te bem - e… da esquerda - se te prejudicaram ou tentaram prejudicar-te.
Reconheço a minha rudeza, meu Amor, que é tanta…, tanta, que até quando quero acariciar, machuco.
- Suaviza as maneiras da minha alma; dá-me, quero que me dês, dentro da firme virilidade da vida de infância, aquela delicadeza e meiguice que as crianças têm para tratar, com íntima efusão de amor, os seus pais.
Uma picadela. - E outra. E outra. - Agüenta-as, faz favor! Não vês que és tão pequeno que só podes oferecer na tua vida - no teu pequeno caminho - essas pequenas cruzes?
Além disso, repara: uma cruz sobre outra - uma picadela… e outra…, que grande montão!
No fim, menino, soubeste fazer uma coisa muito grande: Amar.
Senhor, torna-nos loucos, com uma loucura contagiosa que atraia muitos ao teu apostolado.
Leva ao extremo o respeito pelo superior quando te consultar e tiveres de contradizer as suas opiniões. - E nunca o contradigas diante dos que lhe estão sujeitos, mesmo que não tenha razão.
Alegra-te quando vires que outros trabalham em bons campos de apostolado. - E pede, para eles, graça de Deus abundante e correspondência a essa graça.
Depois, tu… segue o teu caminho; convence-te de que não tens outro.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/book-subject/camino/28986/ (02/05/2024)