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Há 5 pontos em "Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá ", cuja matéria seja Apostolado → serviço.

Acredita-se geralmente que, como organização, o Opus Dei maneja uma considerável força econômica. uma vez que o Opus Dei desenvolve de fato atividades de tipo educativo, beneficente, etc., poderia explicar-nos como é que o Opus Dei administra essas atividades, quer dizer, como obtém os recursos financeiros, como os coordena e os distribui?

Efetivamente, em todos os países onde trabalha, o Opus Dei leva a cabo atividades sociais, educativas e beneficentes. Não é esse, no entanto, o principal trabalho da Obra; o que o Opus Dei pretende é que haja muitos homens e mulheres que procurem ser bons cristãos e, portanto, testemunhas de Cristo no meio de suas ocupações diárias. Os centros a que se refere têm em vista precisamente essa finalidade. Por isso, a eficácia de todo o nosso trabalho fundamenta-se na graça de Deus e numa vida de oração, de trabalho e de sacrifício. Mas não resta dúvida de que qualquer atividade educativa, beneficente ou social tem que lançar mão de meios econômicos.

Cada centro se financia do mesmo modo que qualquer outro do seu tipo. As residências de estudantes, por exemplo, contam com as pensões pagas pelos residentes; os colégios, com as cotas pagas pelos alunos; as escolas agrícolas, com a venda de seus produtos, etc. É evidente, no entanto, que essas verbas nunca são suficientes para fazer face a todos os gastos de um centro, sobretudo se se tem em conta que todos os trabalhos do Opus Dei se subordinam a um critério apostólico e a maioria deles se dirige a pessoas de escassos recursos econômicos que — em muitas ocasiões — pagam quantias simbólicas pela educação que lhes é oferecida.

Para tornar possíveis esses trabalhos, contam-se também com a contribuição dos sócios da Obra, que a ela destinam parte do dinheiro que ganham com o seu trabalho profissional, mas principalmente com a ajuda de muitas pessoas que, sem pertencerem ao Opus Dei, querem colaborar em tarefas de transcendência social e educativa. Os que trabalham em cada centro procuram fomentar nas pessoas o impulso apostólico, a preocupação social, o sentido comunitário, que as levam a colaborar ativamente na realização dessas iniciativas. Como se trata de trabalhos feitos com seriedade profissional, que vão ao encontro de necessidades reais da sociedade, na maioria dos casos a resposta tem sido generosa. A Universidade de Navarra, por exemplo, conta com uma Associação de Amigos de cerca de 12.OOO membros.

O financiamento de cada centro é autônomo. Cada um funciona com independência e procura obter os fundos necessários entre pessoas interessadas naquele trabalho concreto.

Monsenhor, desejávamos que nos dissesse quais são, em seu entender, os fins essenciais da Universidade e como deve situar-se o ensino da religião dentro dos estudos universitários.

A Universidade — bem o sabem, porque o estão vivendo ou desejam viver — deve prestar uma contribuição de primeira importância ao progresso humano. Como os problemas que se apresentam na vida dos povos são múltiplos e complexos — espirituais, culturais, sociais, econômicos, etc. —, a formação que a Universidade deve proporcionar há de abranger todos esses aspectos.

O desejo de trabalhar pelo bem comum não basta; o caminho para que este desejo se torne realidade é preparar homens e mulheres capazes de adquirirem um bom preparo e capazes de darem aos outros o fruto da plenitude adquirida.

A religião é a maior rebelião do homem que não quer viver como um animal, que não se conforma — que não sossega — sem conhecer o Criador e privar com Ele; o estudo da religião torna-se portanto uma necessidade fundamental.

Um homem que careça de formação religiosa não está completamente formado. Por isso a religião deve estar presente na Universidade e deve ensinar-se em nível superior, científico, de boa teologia. Uma Universidade da qual a religião esteja ausente, é uma Universidade incompleta, porque ignora uma dimensão fundamental da pessoa humana, que não exclui — antes exige — as demais dimensões.

Por outro lado, ninguém pode violar a liberdade das consciências: o ensino da religião deve ser livre, ainda que o cristão saiba que, se quiser ser coerente com a sua fé, tem obrigação grave de se formar bem nesse terreno, de possuir portanto, uma cultura religiosa, isto é, de adquirir doutrina, para poder viver dela e para poder dar testemunho de Cristo com o exemplo e com a palavra.

O senhor aludiu à presença da mulher na vida pública, na política. Atualmente estão se dando passos importantes neste sentido. Qual é, a seu ver, a tarefa específica que a mulher deve realizar neste terreno?

A presença da mulher no conjunto da vida social é um fenômeno lógico e totalmente positivo, parte desse outro fenômeno mais amplo a que antes me referi. Uma sociedade moderna, democrática, tem que reconhecer à mulher o direito de participar ativamente da vida política, cumprindo-lhe criar as condições favoráveis para que exerçam esse direito todas as que o desejarem.

A mulher que queira dedicar-se ativamente à direção dos assuntos públicos está obrigada a preparar-se convenientemente, a fim de que sua atuação na vida da comunidade seja responsável e positiva. Todo o trabalho profissional exige uma formação prévia e depois um esforço constante para melhorar essa preparação e acomodá-la às novas circunstâncias que apareçam. Esta exigência constitui um dever particularíssimo para os que aspiram a ocupar postos de direção na sociedade, pois são chamados também a um serviço muito importante, de que depende o bem estar de todos.

Se a mulher dispõe da preparação adequada, deve ter a possibilidade de encontrar aberto o caminho da vida pública, em todos os níveis. Neste sentido, não se podem apontar umas tarefas específicas que sejam da competência exclusiva da mulher. Conforme disse antes, neste terreno o específico não é dado tanto pela tarefa ou pelo posto, como pelo modo de realizar essa função, pelos matizes que a condição de mulher encontrará para a solução dos problemas a enfrentar, e inclusive pela própria descoberta e equacionamento desses problemas.

Em virtude dos dons naturais que lhe são próprios, a mulher pode enriquecer muito a vida civil. Isto salta à vista, se nos detivermos no vasto campo da legislação familiar ou social. As qualidades femininas proporcionam a melhor garantia de que serão respeitados os autênticos valores humanos e cristãos no momento de se tomarem medidas que de algum modo afetem a vida da família, o ambiente educativo, o futuro dos jovens.

Acabo de mencionar a importância dos valores cristãos para a solução dos problemas sociais e familiares, e quero sublinhar aqui sua transcendência em toda a vida pública. Tal como no caso do homem, a fé cristã confere à mulher que tiver de se ocupar numa atividade política a responsabilidade de realizar um autêntico apostolado, quer dizer, um serviço cristão a toda a sociedade. Não se trata de representar oficial ou oficiosamente a Igreja na vida pública e menos ainda de servir-se da Igreja para a carreira pessoal ou para interesses de partido. Pelo contrário, trata-se de formar livremente as opiniões pessoais, em todos estes assuntos temporais em que os cristãos são livres, e de assumir a responsabilidade pessoal do seu pensamento e atuação, preservando sempre a coerência com a fé que se professa.

Os que seguiram a Jesus Cristo comigo, pobre pecador, são: uma pequena percentagem de sacerdotes, que anteriormente exerciam uma profissão ou um ofício laical; um grande número de sacerdotes seculares de muitas dioceses do mundo — que assim confirmaram sua obediência aos respectivos Bispos e seu amor à diocese e a eficácia de seu trabalho diocesano — , sempre com os braços abertos em cruz para todas as almas lhes caberem no coração, e que estão como eu no meio da rua, no mundo, e o amam; e a grande multidão formada por homens e por mulheres — de diversas nações, de diversas línguas, de diversas raças — que vivem de seu trabalho profissional, casados a maior parte deles, solteiros muitos outros, e que, ao lado de seus concidadãos , tomam parte na grave tarefa de tornar mais humana e mais justa a sociedade temporal: na nobre lide dos afãs diários, com responsabilidade pessoal — repito — , experimentando com os outros homens, lado a lado, êxitos e malogros, tratando de cumprir seus deveres e de exercer seus direitos sociais e cívicos. E tudo com naturalidade, como qualquer cristão consciente , sem mentalidade de gente seleta, fundidos na massa de seus colegas, enquanto procuram descobrir os fulgores divinos que reverberam nas realidades mais vulgares.

Também as obras promovidas pelo Opus Dei, como associação, têm essas características eminentemente seculares: não são obras eclesiásticas. Não gozam de nenhuma representação oficial da Sagrada Hierarquia da Igreja. São obras de promoção humana, cultural, social, realizadas por cidadãos, que procuram iluminá-las com as luzes do Evangelho e caldeá-las com o amor de Cristo. Um dado que pode exprimir isto com mais clareza: O Opus Dei, por exemplo, não tem nem terá jamais como missão dirigir Seminários diocesanos, onde os Bispos, instituídos pelo Espírito Santo, preparam seus futuros sacerdotes.

Em contrapartida, o Opus Dei fomenta centros de formação operária, de habilitação agrícola, de educação primária, secundária e universitária, e tantas e tão variadas atividades mais, no mundo inteiro, porque seus anseios apostólicos — como escrevi faz muitos anos — são um mar sem fundo.

Mas, para que me hei de alongar nesta matéria, se a presença dos que me escutam é de per si mais eloqüente do que um longo discurso? Os Amigos da Universidade de Navarra que me escutam, são parte de um povo que sabe estar comprometido no progresso da sociedade a que pertence. Seu alento cordial, sua oração, seu sacrifício e suas contribuições não se inserem nos quadros de um confessionalismo católico: prestando a sua colaboração, eles são claro testemunho de uma reta consciência de cidadãos, preocupada com o bem-comum temporal; testemunham que uma Universidade pode nascer das energias do povo e ser sustentada pelo povo.

Quero aproveitar a ocasião para agradecer uma vez mais a colaboração prestada à nossa Universidade por esta minha nobilíssima cidade de Pamplona, a grande e forte região navarra; e pelos Amigos procedentes de toda a geografia espanhola e — digo-o com especial emoção — pelos não espanhóis, e ainda pelos não católicos e os não cristãos, que compreenderam, mostrando-o com fatos, aliás, a intenção e o espírito deste empreendimento.

A todos se deve que a Universidade seja um foco, cada vez mais vivo, de liberdade cívica, de preparação intelectual, de emulação profissional, e um estimulo para o

ensino universitário. O sacrifício generoso de todos está na base do labor universal que visa o incremento das ciências humanas, a promoção social, a pedagogia da fé.

O que acabo de enunciar foi visto com clareza pelo povo navarro, que reconhece também em sua Universidade um fator de promoção econômica da região, e especialmente de promoção social, havendo possibilitado a tantos de seus filhos um acesso às profissões intelectuais que — de outro modo — seria árduo e, em certos casos, impossível conseguir. O discernimento do papel que a Universidade haveria de desempenhar em sua vida, decerto motivou o apoio a ela dispensado por Navarra desde o início: apoio que, sem dúvida, terá de ser de dia para dia mais amplo e entusiasta.

Referências da Sagrada Escritura