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Há 4 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Humildade → instrumentos nas mãos de Deus.

O Senhor suspira por levar-nos a um passo maravilhoso, divino e humano, que se traduz em abnegação feliz, de alegria com dor, de esquecimento próprio. Se alguém quiser vir apósmim, negue-se a si mesmo. Eis um conselho que todos nós já escutamos. Temos que decidir-nos a segui-lo de verdade: que o Senhor possa servir-se de nós para que, situados em todas as encruzilhadas do mundo - estando nós mesmos situados em Deus -, sejamos sal, fermento, luz. Assim, tu em Deus, para iluminar, para dar sabor, para dilatar, para fermentar.

Mas não esqueçamos que não somos nós que criamos essa luz; apenas a refletimos. Não somos nós que salvamos as almas, estimulando-as a praticar o bem: somos apenas um instrumento, mais ou menos digno, dos desígnios salvíficos de Deus. Se chegássemos a pensar que o bem que fazemos é obra nossa, a soberba voltaria, mais retorcida ainda; o sal perderia o sabor, o fermento apodreceria, a luz se converteria em trevas.

Replicou-lhe Simão: Mestre, estivemos trabalhando durante toda a noite e não apanhamos nada. A resposta de Simão parece razoável. Costumavam pescar a essas horas e, precisamente naquela ocasião, a noite tinha sido infrutífera. Para que haviam de pescar de dia? Mas Pedro tem fé: Porém, sobre a tua palavra, lançarei a rede. Resolve proceder como Cristo lhe sugeriu; compromete-se a trabalhar, fiado na Palavra do Senhor. E que acontece? Tendo feito isso, apanharam tão grande quantidade de peixes, que a rede se rompia. Então fizeram sinal aos companheiros que estavam na outra barca para que os viessem ajudar. Vieram e encheram tanto as duas barcas, que pouco faltou para que se afundassem.

Ao sair para o mar com os seus discípulos, Jesus não pensava só nessa pesca, porque, quando Pedro se lança aos seus pés e confessa com humildade: Afasta-te de mim, Senhor, que sou um pecador, Nosso Senhor responde-lhe: Não temas; de hoje em diante, serás pescador de homens. E também nesta nova pesca não há de falhar a plena eficácia divina, pois todo o apóstolo é instrumento de grandes prodígios, apesar das suas misérias pessoais.

Atrevo-me a assegurar que o Senhor também fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres, e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos diariamente por alcançar a santidade, cada um no seu próprio estado, dentro do mundo e no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente.

Daremos luz aos cegos. Quem não poderia contar mil casos de cegos, quase de nascença, que recobraram a vista, recebendo todo o esplendor da luz de Cristo? E de outros que eram surdos, e mudos, que não podiam ouvir ou articular uma palavra como filhos de Deus?… E purificaram-se os seus sentidos, e já ouvem e se exprimem como homens; não como animais!

In nomine Iesu!, em nome de Jesus, os seus Apóstolos dão a faculdade de andar àquele aleijado que era incapaz de uma ação útil… E àquele outro, um poltrão, que conhecia as suas obrigações, mas não as cumpria… Em nome do Senhor surge et ambula!, levanta-te e anda. E um outro, já morto, apodrecido, que cheirava a cadáver, também ouviu a voz de Deus, como no milagre do filho da viúva de Naim: Rapaz, eu te ordeno: levanta-te! Faremos milagres como Cristo, milagres como os primeiros Apóstolos.

Talvez esses prodígios se tenham operado em ti mesmo, em mim. Talvez fôssemos cegos, ou surdos, ou paralíticos, ou tresandássemos a cadáver, e a palavra do Senhor nos levantou da nossa prostração. Se amamos a Cristo, se o seguimos sinceramente, se não nos procuramos a nós mesmos, mas unicamente a Ele, em seu nome poderemos transmitir aos outros, de graça, o que de graça nos foi concedido.

Os outros discípulos foram com a barca porque não estavam distantes de terra senão duzentos côvados, e tiraram a rede cheia de peixes. Põem imediatamente a pesca aos pés do Senhor, porque a pesca é dEle. Para que aprendamos que as almas são de Deus, que ninguém nesta terra pode avocar a si essa propriedade; que o apostolado da Igreja - a notícia e a realidade da salvação - não se baseia no prestígio desta ou daquela pessoa, mas na graça divina.

Jesus Cristo interroga Pedro três vezes, como se lhe quisesse dar a repetida oportunidade de reparar a sua tripla negação. Pedro já aprendeu, escarmentado à custa da sua própria miséria: consciente da sua debilidade, está profundamente convencido de que sobejam os seus alardes temerários. Por isso coloca tudo nas mãos de Cristo: Senhor, tu sabes que eu te amo… Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo. E que responde Cristo? Apascenta os meus cordeiros; apascenta as minhas ovelhas. Não as tuas, não as vossas; as minhas! Porque foi Ele que criou o homem, Ele que o redimiu, Ele que comprou cada alma, uma a uma, ao preço - repito - do seu Sangue.

Quando os donatistas, no século V, lançavam os seus ataques contra os católicos, sustentavam a impossibilidade de que o bispo de Hipona, Agostinho, professasse a verdade, porque tinha sido um grande pecador. E Santo Agostinho sugeria aos seus irmãos na fé como haviam de replicar: Agostinho é bispo na Igreja Católica. Ele leva a sua carga, de que há de prestar contas a Deus. Conheci-o entre os bons. Se é mau, ele o sabe; se é bom, nem por isso deposito nele a minha esperança. Porque a primeira coisa que aprendi na Igreja Católica foi a não pôr a minha esperança num homem.

Não fazemos o nosso apostolado. Então, como havemos de dizer? Fazemos - porque Deus o quer, porque assim no-lo mandou: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho - o apostolado de Cristo. Os erros são nossos; os frutos, do Senhor.