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Há 5 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Vida sobrenatural  → vida de oração.

É necessário, pois, que a nossa fé seja viva, que nos leve realmente a crer em Deus e a manter um diálogo constante com Ele. A vida cristã deve ser vida de oração contínua, que procura estar na presença do Senhor da manhã até à noite e da noite até à manhã. O cristão não é nunca um homem solitário, porque vive num contínuo colóquio com Deus, que está junto de nós e nos céus.

Sine intermissione orate, prescreve o Apóstolo, orai sem interrupção. E Clemente Alexandrino escreve, recordando esse preceito apostólico: Manda-se que louvemos e honremos o Verbo, a quem conhecemos como salvador e rei; e por Ele ao Pai, não em dias escolhidos, como fazem os outros, mas constantemente, ao longo de toda a vida e de todas as formas possíveis.

No meio das ocupações de cada dia, no momento de vencer a tendência para o egoísmo, ao sentir a alegria da amizade com os outros homens, em todos esses instantes o cristão deve reencontrar Deus. Por Cristo e no Espírito Santo, o cristão tem acesso à intimidade de Deus Pai, e percorre o seu caminho em busca desse reino que não é deste mundo, mas que neste mundo se incoa e se prepara.

É preciso procurar Cristo na Palavra e no Pão, na Eucaristia e na Oração. E tratá-lo como se trata um amigo, um ser real e vivo como é Cristo, porque ressuscitou. Cristo, lemos na Epístola aos Hebreus, como permanece sempre, possui eternamente o sacerdócio. Daí que pode perpetuamente salvar aqueles que por seu intermédio se apresentam a Deus, posto que está sempre vivo para interceder por nós.

Cristo, Cristo ressuscitado, é o companheiro, o Amigo. Um companheiro que se deixa ver apenas entre sombras, mas cuja realidade inunda toda a nossa vida e nos faz desejar a sua companhia definitiva. O Espírito e a Esposa dizem: vem. Diga também quem escuta: vem. Por isso quem tem sede, venha; e o que quiser tome a água da vida, a felicidade eterna… E o que dá testemunho destas coisas diz: Certamente venho em breve. Assim seja. Vem, Senhor Jesus.

Uma oração ao Deus da minha vida. Se Deus é vida para nós, nada tem de estranho que a nossa existência de cristãos deva estar entretecida de oração. Mas não pensemos que a oração é um ato que se realiza e depois se abandona. O justo compraz-se na lei de Iavé e tende a acomodar-se a essa lei durante o dia e durante a noite. Pela manhã penso em Ti ; e, de tarde, a Ti se eleva minha oração como o incenso. O dia inteiro pode ser tempo de oração: da noite até à manhã e da manhã até à noite. Mais ainda: como nos recorda a Escritura Santa, o próprio sono deve ser oração.

Lembremo-nos do que os Evangelhos nos contam de Jesus. Às vezes, passava a noite inteira ocupado num colóquio íntimo com seu Pai. Como cativou os primeiros discípulos a figura de Cristo em oração! Depois de contemplarem esta atitude constante do Mestre, pedem-lhe: Domine, doce nos orare , Senhor, ensina-nos a orar assim.

São Paulo - oratione instantes , contínuos na oração, escreve - difunde por toda a parte o exemplo vivo de Cristo. E São Lucas, numa pincelada, retrata a maneira de agir dos primeiros fiéis: Animados de um mesmo espírito, perseveravam juntos na oração.

A têmpera do bom cristão adquire-se, mediante a graça, na forja da oração. E, por ser vida, este alimento que é a oração não segue uma trilha única. O coração saberá desafogar-se habitualmente, por meio de palavras, nessas orações vocais ensinadas pelo próprio Deus - o Pai Nosso - ou por seus anjos - a Ave Maria. Outras vezes, utilizaremos orações acrisoladas pelo tempo, nas quais se verteu a piedade de milhões de irmãos na fé: as da liturgia - lex orandi -, ou as que nasceram do ardor de um coração enamorado, como tantas antífonas marianas: Sub tuum praesidium…, Memorare…, Salve Regina…

Em outras ocasiões, serão suficientes duas ou três expressões lançadas ao Senhor como setas, iaculata:jaculatórias, que aprendemos na leitura atenta da história de Cristo: Domine, si vis potes me mundare - Senhor, se quiseres, podes curar-me; Domine, tu omnia nosti, tu scis quia amo te - Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu te amo; Credo, Domine, sed adiuva incredulitatem meam - Creio, Senhor, mas ajuda a minha incredulidade, fortalece a minha fé; Domine, non sum dignus - Senhor, não sou digno!; Dominus meus et Deus meus - Meu Senhor e meu Deus!… Ou outras frases, breves e afetuosas, que brotam do fervor íntimo da alma e correspondem a circunstancias particulares.

A vida de oração deve apoiar-se, além disso, em alguns minutos diários dedicados exclusivamente ao trato com Deus. São momentos de colóquio sem ruído de palavras, junto do Sacrário sempre que possível, para agradecer ao Senhor por essa espera - como está só! - de vinte séculos. A oração mental é esse diálogo com Deus, de coração a coração, em que intervém a alma toda: a inteligência e a imaginação, a memória e a vontade. É uma meditação que contribui para dar valor sobrenatural à nossa pobre vida humana, à nossa vida diária e corrente.

Graças a esses momentos de meditação, às orações vocais, às jaculatórias, saberemos converter o nosso dia num contínuo louvor a Deus, sempre com naturalidade e sem espetáculo. Assim, à semelhança dos enamorados, que não tiram nunca os sentidos da pessoa que amam, manter-nos-emos sempre na sua presença; e todas as nossas ações - mesmo as mais pequenas e insignificantes - transbordarão de eficácia espiritual.

Por isso, quando um cristão envereda por este caminho de intimidade ininterrupta com o Senhor - e é um caminho para todos, não uma senda para privilegiados -, a vida interior cresce, segura e firme; e o homem consolida-se nessa luta, simultaneamente amável e exigente, por realizar até o fundo a vontade de Deus.

A partir da vida de oração, podemos entender esse outro tema que a festa de hoje nos propõe: o apostolado, a realização dos ensinamentos de Jesus transmitidos aos Apóstolos pouco antes de subir aos céus: Vós me servireis de testemunhas em Jerusalém e em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo.

Em segundo lugar, vida de oração, porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão nascem do amor e para o amor se orientam. E o amor leva à vida de relação, à conversa assídua, à amizade. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz. Quem sabe das coisas do homem, senão o espírito do homem, que está dentro dele? Assim, as coisas de Deus, ninguém as conheceu a não ser o Espírito de Deus.Se mantivermos uma relação assídua com o Espírito Santo, também nós nos faremos espirituais, nos sentiremos irmãos de Cristo e filhos de Deus, e saberemos invocá-lo sem hesitação, como Pai que é de cada um de nós.

Acostumemo-nos a procurar o convívio com o Espírito Santo, que é quem nos há de santificar; a confiar nEle, a pedir sua ajuda, a senti-lo perto de nós. Assim se irá dilatando o nosso pobre coração, teremos mais ânsias de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas. E reproduzir-se-á em nossas vidas aquela visão final do Apocalipse: o Espírito e a Esposa, o Espírito Santo e a Igreja - e cada cristão -, que se dirigem a Jesus, a Cristo, e lhe pedem que venha, que fique conosco para sempre.

Se procurarmos Maria, encontraremos Jesus. E aprenderemos a entender um pouco do que há no coração de um Deus que se aniquila, que renuncia a manifestar o seu poder e a sua majestade para se apresentar sob a forma de escravo. Falando em termos humanos, poderíamos dizer que Deus se excede, pois não se limita ao que seria essencial ou imprescindível para nos salvar, mas vai mais longe. A única norma ou medida que nos permite compreender de algum modo a maneira como Deus age é perceber que não tem medida, ver que nasce de uma loucura de amor que o leva a tomar a nossa carne e a carregar com o peso dos nossos pecados.

Como é possível perceber tudo isso, reparar que Deus nos ama, e não enlouquecer também de amor? É necessário deixar que essas verdades da nossa fé calem na alma, até mudarem toda a nossa vida. Deus nos ama: o Onipotente, o Todo-Poderoso, o que fez os céus e a terra!

Deus interessa-se até pelas mais pequenas coisas das suas criaturas: e chama-nos, um a um, pelo nosso próprio nome. Essa certeza, que procede da fé, faz-nos olhar o que nos cerca sob uma nova luz, e leva-nos a perceber que, permanecendo tudo como antes, tudo se torna diferente, porque tudo é expressão do amor de Deus.

A nossa vida converte-se assim numa contínua oração, num bom humor e numa paz que nunca se acabam, num ato de ação de graças desfiado ao longo das horas. Minha alma glorifica o Senhor - cantou a Virgem Maria - e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador: porque olhou para a baixeza de sua serva. Por isso, desde agora me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque fez em mim grandes coisas o Todo-Poderoso, cujo nome é santo.

A nossa oração pode acompanhar e imitar essa oração de Maria. Como Ela, sentiremos o desejo de cantar, de pro clamar as maravilhas de Deus, para que a humanidade inteira e todos os seres participem da nossa felicidade.

Viver no Coração de Jesus, unir-se a Ele estreitamente é, portanto, converter-se em morada de Deus. Aquele que me ama será amado por meu Pai , anunciou-nos o Senhor. E Cristo e o Pai, no Espírito Santo, vêm à alma e fazem nela a sua morada.

Quando compreendemos estes fundamentos - mesmo em parte -, a nossa maneira de ser transforma-se. Temos fome de Deus e fazemos nossas as palavras do Salmo: Meu Deus, eu Te busco solícito; sedenta de Ti está minha alma; minha carne Te deseja como terra árida, sem água. E Jesus, que fomentou as nossas ânsias, sai ao nosso encontro e diz-nos: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Oferece-nos o seu Coração, para que encontremos nele o nosso descanso e a nossa fortaleza. Se aceitarmos o seu chamado, perceberemos como as suas palavras são verdadeiras, e aumentará a nossa fome e a nossa sede, até desejarmos que Deus estabeleça em nosso coração o lugar do seu repouso e não afaste de nós o seu calor e a sua luz.

Ignem veni mittere in terram, et quid volo nisi ut accendatur? Vim trazer fogo à terra, e que quero senão que arda? Agora que nos abeiramos um pouco do fogo do Amor de Deus, deixemos que seu impulso mova as nossas vidas, sonhemos com a possibilidade de levar o fogo divino de um extremo ao outro do mundo, de o dar a conhecer aos que nos rodeiam, para que também eles conheçam a paz de Cristo e, com ela, encontrem a felicidade. Um cristão que viva unido ao Coração de Jesus não pode ter outras metas: a paz na sociedade, a paz na Igreja, a paz na sua própria alma, a paz de Deus, que se consumará quando vier a nós o seu reino.

Maria, Regina Pacis, Rainha da Paz, porque tiveste fé e acreditaste que se cumpriria o anúncio do Anjo, ajuda-nos a crescer na fé, a ser firmes na esperança, a aprofundar no Amor. Porque isso é o que hoje quer de nós o teu Filho, ao mostrar-nos o seu Sacratíssimo Coração.