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Há 3 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Filiação divina  → agradar a Deus.

Interessa-me que descubramos em toda a sua profundidade esta simplicidade do Mestre, que não faz alarde da sua vida penitente, pois é isso mesmo que Ele te pede a ti: Quando jejuardes, não queirais fazer-vos tristes como os hipócritas, que desfiguram o rosto para mostrar aos homens que jejuam. Na verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto, para que os homens não saibam que jejuas, mas unicamente teu Pai, que presencia o que há de mais secreto, e teu Pai, que vê o que se passa em segredo, te dará a recompensa.

Assim deves tu praticar o espírito de penitência: de olhos postos em Deus e como um filho, como o garotinho que demonstra a seu pai quanto o ama, renunciando aos seus poucos tesouros de escasso valor: um carretel, um soldado descabeçado, uma tampinha de garrafa… Custa-lhe dar esse passo, mas por fim vence o carinho e, já contente, estende a mão.

Não vos escondo que, ao longo destes anos, alguns se aproximaram de mim e, compungidos de dor, me disseram: “Padre, não sei o que tenho, sinto-me cansado e frio; a minha piedade, antes tão segura e chã, parece-me uma comédia…” Pois bem, aos que passam por essa situação, e a todos vós, respondo: Uma comédia? Grande coisa! O Senhor está brincando conosco como um pai com seus filhos.

Lê-se na Escritura: ludens in orbeterrarum; Ele brinca em toda a redondeza da terra. Mas Deus não nos abandona, porque acrescenta imediatamente: Deliciae meae esse cum filiis hominum, as minhas delícias são estar com os filhos dos homens. O Senhor brinca conosco! E quando nos passar pela cabeça que estamos interpretando uma comédia, porque nos sentimos gelados, apáticos; quando estivermos aborrecidos e sem vontade; quando se nos tornar árduo cumprir o dever e alcançar as metas espirituais que nos propusemos, terá soado a hora de pensar que Deus brinca conosco e espera que saibamos representar a nossa comédia com galhardia.

Não me importo de vos contar que, em algumas ocasiões, o Senhor me concedeu muitas graças; mas habitualmente ando a contragosto. Sigo o meu plano não porque me agrade, mas porque devo cumpri-lo, por Amor. Mas, Padre, pode-se interpretar uma comédia com Deus? Isso não é uma hipocrisia? Fica tranqüilo: chegou para ti o instante de participar numa comédia humana com um espectador divino. Persevera, que o Pai, e o Filho, e o Espírito Santo contemplam a tua comédia; realiza tudo por amor a Deus, para agradar-lhe, ainda que te custe.

Que bonito é ser jogral de Deus! Que belo recitar essa comédia por Amor, com sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para agradar ao nosso Pai-Deus, que brinca conosco! Encara o Senhor e confia-lhe: Não tenho vontade nenhuma de me ocupar nisto, mas vou oferecê-lo por ti. E ocupa-te de verdade nesse trabalho, ainda que penses que é uma comédia. Bendita comédia! Eu te garanto: não se trata de hipocrisia, porque os hipócritas precisam de público para as suas pantomimas. Pelo contrário, os espectadores dessa nossa comédia - deixa-me que to repita - são o Pai, o Filho e o Espírito Santo; a Virgem Santíssima e todos os Anjos e Santos do Céu. A nossa vida interior não encerra outro espetáculo a não ser esse: é Cristo que passa quasi in occulto, como em segredo.

Iubilate Deo. Exsultate Deo adiutori nostro, louvai a Deus, saltai de alegria no Senhor, que é a nossa única ajuda. Jesus, quem não o compreende não sabe nada de amores, nem de pecados, nem de misérias! Eu sou um pobre homem, e entendo de pecados, de amores e de misérias. Sabeis o que é estar erguido até o coração de Deus? Compreendeis que uma alma possa encarar o Senhor, abrir-lhe o coração e contar-lhe as suas queixas? Eu me queixo, por exemplo, quando Ele leva para junto de si gente de pouca idade, que ainda poderia servi-lo e amá-lo por muitos anos na terra; porque não o compreendo. Mas são gemidos de confiança, pois sei que, se me afastasse dos braços de Deus, daria um tropeção imediatamente. Por isso, logo a seguir, devagar, enquanto aceito os desígnios do Céu, acrescento: Faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus, sobre todas as coisas. Amém. Amém.

Este é o modo de proceder que o Evangelho nos ensina, o ardil mais santo e a fonte de eficácia para o trabalho apostólico; e este é o manancial do nosso amor e da nossa paz de filhos de Deus, e a senda pela qual podemos transmitir carinho e serenidade aos homens. E só por isto conseguiremos acabar os nossos dias no Amor, tendo santificado o nosso trabalho, procurando nele a felicidade escondida das coisas de Deus. Comportar-nos-emos com a santa desvergonha das crianças e repeliremos a vergonha - a hipocrisia - dos mais velhos, que têm medo de voltar para seu Pai quando passam pelo fracasso de uma queda.

Termino com a saudação do Senhor, que o Santo Evangelho nos refere hoje: Pax vobis! A paz esteja convosco… E os discípulos encheram-se de alegria ao verem o Senhor, esse Senhor que nos acompanha até o Pai.

Referências da Sagrada Escritura
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