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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Fim do homem → Céu.

Gosto de lembrar com muita freqüência que, quando me dirijo a vós, quando conversamos todos juntos com Deus Nosso Senhor, estou fazendo a minha oração pessoal em voz alta. Pela vossa parte, deveis esforçar-vos também por alimentar a vossa oração dentro das vossas almas, mesmo quando por qualquer circunstância, como, por exemplo, a de hoje, tenhamos necessidade de tratar de um tema que, à primeira vista, não parece muito adequado para um diálogo de amor - que isso é o nosso colóquio com o Senhor. Digo à primeira vista, porque tudo o que nos acontece, tudo o que se passa ao nosso lado, pode e deve ser tema da nossa meditação.

Tenho que falar-vos do tempo, deste tempo que se vai. Não vou repetir a afirmação de que um ano a mais é um ano a menos… Também não vos sugiro que pergunteis por aí fora o que pensam da passagem dos dias, pois provavelmente - se o fizésseis - ouviríeis alguma resposta deste estilo: Juventude, divino tesouro, que vais para não voltar… Embora admita que talvez ouvísseis também alguma outra consideração com mais sentido sobrenatural.

Também não quero deter-me a pensar, com laivos de nostalgia, na brevidade do tempo. Para nós, cristãos, a fugacidade do caminhar terreno deveria incitar-nos a aproveitar melhor o tempo; nunca a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um final desastroso. Um ano que termina - já foi dito de mil modos, mais ou menos poéticos - é, com a graça e a misericórdia de Deus, mais um passo que nos aproxima do Céu, da nossa Pátria definitiva.

Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente a exclamação que São Paulo dirige aos de Corinto: Tempus breve est!, como é breve a duração da nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam-lhe no mais íntimo do coração como uma censura pela sua falta de generosidade e como um convite constante para que seja leal. Verdadeiramente, é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos nem que atiremos irresponsavelmente esse tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós.

Para alcançarmos esta meta, temos que deixar-nos conduzir pelo Amor, nunca como quem suporta o peso de um castigo ou de uma maldição: Tudo o que fizerdes, em palavras ou em obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai. E assim terminaremos os nossos afazeres com perfeição, ocupando plenamente o tempo, porque seremos instrumentos enamorados de Deus, que se apercebem de toda a responsabilidade e de toda a confiança que o Senhor lhes deposita sobre os ombros, apesar da sua fraqueza. Em cada uma das tuas atividades - porque contas com a fortaleza de Deus -, hás de comportar-te como quem se move exclusivamente por Amor.

Mas não fechemos os olhos à realidade, conformando-nos com uma visão ingênua, superficial, que nos dê a idéia de que nos espera um caminho fácil e de que, para percorrê-lo, bastam uns propósitos sinceros e uns desejos ardentes de servir a Deus. Não duvidemos: ao longo dos anos, apresentar-se-ão - talvez antes do que pensamos - situações particularmente custosas, que exigirão muito espírito de sacrifício e um maior esquecimento de nós mesmos. Fomenta, nessa altura, a virtude da esperança e, com audácia, torna teu o grito do Apóstolo: Porque eu tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória vindoura, que se há de manifestar em nós. Medita com segurança e com paz: que será o Amor infinito de Deus derramado sobre esta pobre criatura!

Chegou a hora, no meio das tuas ocupações habituais, de praticar a fé, de despertar a esperança, de avivar o amor; ou seja, de ativar as três virtudes teologais que nos impelem a desterrar imediatamente, sem dissimulações, sem disfarces, sem rodeios, os equívocos que haja na nossa conduta profissional e na nossa vida interior.

Às vezes, quando tudo nos sai ao contrário do que imaginávamos, vem-nos espontaneamente aos lábios: Senhor, tudo me vai para o fundo, tudo, tudo!… Chegou a hora de retificar: Eu, contigo, avançarei seguro, porque Tu és a própria fortaleza: quia tu es, Deus, fortitudo mea.

Eu te pedi que, no meio das ocupações, procurasses levantar os olhos ao Céu, perseverantemente, porque a esperança nos impele a agarrar-nos a essa mão forte que Deus nos estende sem cessar, a fim de não perdermos o “ponto de mira” sobrenatural, mesmo quando as paixões se levantam e nos acometem, para nos aferrolharem no reduto mesquinho do nosso eu, ou quando - com vaidade pueril - nos sentimos o centro do universo. Eu vivo persuadido de que, sem olhar para cima, sem Jesus, nunca conseguirei nada; e sei que a minha fortaleza, para me vencer e para vencer, nasce de repetir aquele grito: Tudo posso nAquele que me conforta, que encerra a promessa segura que Deus nos faz de não abandonar os seus filhos, se os seus filhos não o abandonam.

Misturai-vos com freqüência entre as personagens do Novo Testamento. Saboreai as cenas comoventes em que o Mestre atua com gestos divinos e humanos ou relata com modos de dizer humanos e divinos a história sublime do perdão, do Amor ininterrupto que tem pelos seus filhos. Esses traslados do Céu renovam-se agora também, na perenidade atual do Evangelho: apalpa-se, nota-se, pode-se afirmar que se toca com as mãos a proteção divina; um amparo que ganha em vigor quando continuamos em frente apesar dos tropeços, quando começamos e recomeçamos, que isto é a vida interior, vivida com a esperança em Deus.

Sem este empenho por superar os obstáculos de dentro e de fora, não nos será concedido o prêmio. Nenhum atleta será coroado, se não lutar de verdade, e não seria autêntico o combate, se faltasse o adversário a quem combater. Portanto, se não há adversário, não haverá coroa; pois não pode haver vencedor onde não há vencido.

Longe de nos desalentarem, as contrariedades têm de ser acicate que nos faça crescer como cristãos: nessa luta, santificamo-nos, e a nossa atividade apostólica adquire maior eficácia. Ao meditarmos sobre os momentos em que Jesus Cristo - no Horto das Oliveiras e, mais tarde, no abandono e ludíbrio da Cruz - aceita e ama a Vontade do Pai, enquanto sente o peso gigantesco da Paixão, devemos persuadir-nos de que, para imitar Cristo, para sermos seus discípulos, precisamos abraçar o seu conselho: Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. É por isso que gosto de pedir a Jesus, para mim: Senhor, nenhum dia sem cruz! Assim, com a graça divina, reforçar-se-á o nosso caráter, e serviremos de apoio ao nosso Deus, a despeito das nossas misérias pessoais.

Tens de compreender: se, ao pregarmos um prego na parede, não encontramos resistência, o que é que poderemos pendurar ali? Se não nos robustecemos com o auxílio divino, por meio do sacrifício, não atingiremos a condição de instrumentos do Senhor. Pelo contrário, se nos decidimos a aproveitar com alegria as contrariedades, por amor de Deus, não nos custará exclamar, com os Apóstolos Tiago e João, diante das coisas difíceis e das desagradáveis, das duras e das incômodas: Podemos!

Esta luta do filho de Deus não anda de mãos dadas com renúncias tristes, com resignações sombrias, com privações de alegria: é a reação do apaixonado que, enquanto trabalha e enquanto descansa, enquanto se rejubila e enquanto padece, põe o seu pensamento na pessoa amada e por ela enfrenta com todo o gosto os problemas mais diversos. Além disso, no nosso caso, como Deus - insisto - não perde batalhas, nós, com Ele, nos chamaremos vencedores. Tenho a experiência de que, se me ajusto fielmente às suas instâncias, Ele me conduz a verdes prados e me leva às águas refrescantes. Recreia a minha alma, pelos caminhos retos me conduz, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse um vale tenebroso, nada temerei, pois estás comigo. Teu bordão e teu cajado são o meu consolo.

Nas batalhas da alma, a estratégia é muitas vezes questão de tempo, de aplicar o remédio conveniente com paciência, com teimosia. Aumentai os atos de esperança. Quero lembrar-vos que, na vida interior, sofrereis derrotas, ou passareis por altos e baixos - Deus permita que sejam imperceptíveis -, porque ninguém está livre desses percalços. Mas o Senhor, que é onipotente e misericordioso, concedeu-nos os meios idôneos para vencer. Basta que os utilizemos, como dizia antes, com a resolução de começar e recomeçar a cada instante, se for preciso.

Recorrei semanalmente - e sempre que precisardes, sem dar lugar aos escrúpulos - ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino. Revestidos da graça, passaremos através das montanhas e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando esses recursos, com boa vontade, suplicando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada vez maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está conosco, quem nos poderá derrotar?

Otimismo, portanto. Impelidos pela força da esperança, lutaremos por apagar a mancha viscosa que espalham os semeadores do ódio, e redescobriremos o mundo numa perspectiva feliz, porque o mundo saiu belo e limpo das mãos de Deus, e é assim, com essa beleza, que o havemos de restituir a Ele, se aprendermos a arrepender-nos.

Referências da Sagrada Escritura
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