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Há 2 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Fim do homem → liberdade das consciências.

Quando, ao longo dos meus anos de sacerdócio, não direi que prego, mas grito o meu amor à liberdade pessoal, noto em alguns um gesto de desconfiança, como se suspeitassem que a defesa da liberdade traz no seu bojo um perigo para a fé. Tranqüilizem-se esses pusilânimes. Só atenta contra a fé uma interpretação errônea da liberdade, uma liberdade sem qualquer fim, sem norma objetiva, sem lei, sem responsabilidade. Numa palavra: a libertinagem. Infelizmente, é isso o que alguns propugnam. Essa reivindicação, sim, constitui um atentado contra a fé.

Por isso, não é correto falar de liberdade de consciência, que equivale a considerar como de boa categoria moral a atitude do homem que rejeita a Deus. Recordamos atrás que podemos opor-nos aos desígnios salvíficos do Senhor; podemos, mas não devemos fazê-lo. E se alguém assumisse essa posição deliberadamente, pecaria, porque estaria transgredindo o primeiro e o mais fundamental dos mandamentos: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração.

Eu defendo com todas as minhas forças a liberdade das consciências, que denota não ser lícito a ninguém impedir que a criatura preste culto a Deus. É preciso respeitar as legítimas ânsias de verdade; o homem tem obrigação grave de procurar o Senhor, de conhecê-lo e adorá-lo, mas ninguém na terra deve permitir-se impor ao próximo a prática de uma fé que este não possui; assim como ninguém pode arrogar-se o direito de maltratar quem a recebeu de Deus.

Escravidão por escravidão - se de qualquer modo temos de servir, já que, quer o admitamos ou não, essa é a condição humana -, nada melhor do que sabermo-nos, por Amor, escravos de Deus. Porque nesse momento perdemos a situação de escravos para nos convertermos em amigos, em filhos. E aqui se manifesta a diferença: enfrentamos as honestas ocupações do mundo com a mesma paixão, com o mesmo empenho que os outros, mas com paz no fundo da alma; com alegria e serenidade, mesmo nas contrariedades. Porque não depositamos a nossa confiança no que passa, mas no que permanece para sempre. Não somos filhos da escrava, mas da livre.

De onde nos vem essa liberdade? De Cristo, Senhor Nosso. Essa é a liberdade com que Ele nos redimiu. Por isso nos ensina: Se o Filho vos obtiver a liberdade, sereis verdadeiramente livres. Nós, cristãos, não temos de pedir emprestado a ninguém o verdadeiro sentido deste dom, porque a única liberdade que salva o homem é cristã.

Gosto de falar da aventura da liberdade, porque é assim que se desenvolve a vossa vida e a minha: livremente - como filhos, insisto, não como escravos -, seguimos a senda que o Senhor marcou a cada um de nós. Saboreamos esta liberdade de movimentos como uma dádiva de Deus.

Livremente, sem coação alguma, porque me vem na gana, eu me decido por Deus. E comprometo-me a servir, a converter a minha existência numa doação aos outros, por amor ao meu Senhor Jesus. Esta liberdade anima-me a clamar que nada na terra me separará da caridade de Cristo.

Referências da Sagrada Escritura