Lista de pontos

Há 4 pontos em "É Cristo que passa", cuja matéria seja Vida sobrenatural  → ação do Espírito Santo.

Para determinarmos, mesmo de uma maneira muito geral, um estilo de vida que nos anime a procurar o convívio com o Espírito Santo - e, ao mesmo tempo, com o Pai e o Filho - e a ter familiaridade com o Paráclito, podemos atentar para três realidades fundamentais: docilidade - repito -, vida de oração e união com a Cruz.

Em primeiro lugar, docilidade, porque é o Espírito Santo quem, com suas inspirações, vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras. É Ele quem nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la com profundidade; quem nos dá luz para tomarmos consciência da nossa vocação pessoal e força para realizarmos tudo o que Deus espera de nós. Se formos dóceis ao Espírito Santo, a imagem de Cristo ir-se-á formando cada vez mais em nós e assim nos iremos aproximando cada dia mais de Deus Pai. Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.

Se nos deixarmos guiar por esse princípio de vida presente em nós, que é o Espírito Santo, a nossa vitalidade espiritual irá crescendo e abandonar-nos-emos nas mãos do nosso Pai-Deus com a mesma espontaneidade e confiança com que uma criança se lança nos braços de seu pai. Se não vos fizerdes semelhantes às crianças, não entrareis no reino dos céus, disse o Senhor. Velho caminho interior de infância, sempre atual, que não é mimalhice nem falta de maturidade humana: é maturidade sobrenatural, que nos leva a aprofundar nas maravilhas do amor divino, a reconhecer a nossa pequenez e a identificar plenamente a nossa vontade com a de Deus.

Em segundo lugar, vida de oração, porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão nascem do amor e para o amor se orientam. E o amor leva à vida de relação, à conversa assídua, à amizade. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz. Quem sabe das coisas do homem, senão o espírito do homem, que está dentro dele? Assim, as coisas de Deus, ninguém as conheceu a não ser o Espírito de Deus.Se mantivermos uma relação assídua com o Espírito Santo, também nós nos faremos espirituais, nos sentiremos irmãos de Cristo e filhos de Deus, e saberemos invocá-lo sem hesitação, como Pai que é de cada um de nós.

Acostumemo-nos a procurar o convívio com o Espírito Santo, que é quem nos há de santificar; a confiar nEle, a pedir sua ajuda, a senti-lo perto de nós. Assim se irá dilatando o nosso pobre coração, teremos mais ânsias de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas. E reproduzir-se-á em nossas vidas aquela visão final do Apocalipse: o Espírito e a Esposa, o Espírito Santo e a Igreja - e cada cristão -, que se dirigem a Jesus, a Cristo, e lhe pedem que venha, que fique conosco para sempre.

União com a Cruz, finalmente, porque, na vida de Cristo, o Calvário precedeu a Ressurreição e o Pentecostes, e esse mesmo processo se deve reproduzir na vida de cada cristão: Somos - diz São Paulo - co-herdeiros com Jesus Cristo, contanto que soframos com Ele, a fim de sermos com Ele glorificados. O Espírito Santo é fruto da Cruz, da entrega total a Deus, da procura exclusiva da sua glória e da completa renúncia a nós mesmos. Só quando o homem, fiel à graça, decide colocar no centro da sua alma a Cruz, negando-se a si mesmo por amor de Deus, desprendendo-se realmente do egoísmo e de toda a falsa segurança humana, quer dizer, só quando vive verdadeiramente de fé, só então é que recebe com plenitude o grande fogo, a grande consolação do Espírito Santo.

É então que chegam também à alma aquela paz e aquela liberdade que Cristo nos conquistou , e que nos são comunicadas com a graça do Espírito Santo. Os frutos do Espírito Santo são caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência, castidade ; e onde está o Espírito do Senhor, lá está a liberdade.

No meio das limitações inseparáveis da nossa situação presente - porque o pecado ainda habita de algum modo em nós -, o cristão percebe com nova claridade toda a riqueza da sua filiação divina, na medida em que se reconhece plenamente livre por trabalhar nas coisas do Pai, e se sente possuído de uma alegria que se torna constante, por nada ser capaz de destruir a sua esperança.

Além disso, é também nessa hora que se torna capaz de admirar todas as belezas e maravilhas da terra, de apreciar toda a riqueza e toda a bondade, de viver o amor com toda a inteireza e toda a pureza para que foi criado o coração humano. É nessa altura que a sua dor perante o pecado não degenera nunca em reação amarga, desesperada ou arrogante, porque a compunção e o reconhecimento da fraqueza humana o levam a identificar-se de novo com as ânsias redentoras de Cristo e a sentir mais profundamente a solidariedade com todos os homens. É então, enfim, que o cristão experimenta em si, com segurança, a força do Espírito Santo, de maneira que nem as suas próprias quedas o abatem: porque são um convite para que recomece e para que continue a ser testemunha fiel de Cristo em todas as encruzilhadas da terra, apesar das suas misérias pessoais; misérias que, nestes casos, costumam ser faltas leves e mal turvam a sua alma, ou, se são graves, encontram no Sacramento da Penitência, procurado com compunção, o meio de fazê-lo retomar à paz de Deus e de convertê-lo novamente em boa testemunha das misericórdias divinas.

Assim é, em breve resumo que mal consegue traduzir em pobres palavras humanas a riqueza da fé, a vida do cristão, quando se deixa guiar pelo Espírito Santo. Por isso, só posso concluir tomando minha a súplica contida num dos hinos litúrgicos da festa de Pentecostes, que é como um eco da oração incessante de toda a Igreja: Vem, Espírito Criador, visita as inteligências dos teus, enche de graça celeste os corações que criaste. Em tua escola, faz-nos conhecer o Pai, como também o Filho; faz, enfim, que acreditemos eternamente em Ti, Espírito que procedes de Um e Outro.