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Há 6 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Vida sobrenatural  → amizade e identificação com Jesus Cristo.

Agora é São Mateus quem nos relata uma situação comovente. Eis que uma mulher, que havia doze anos padecia de um fluxo de sangue, se chegoupor detrás dEle e tocou a fímbria do seu manto. Que humildade a desta mulher! Dizia dentro de si: Ainda que eu toque somente o seu manto, ficarei curada.

Nunca faltam doentes que imploram como Bartimeu, com uma fé grande, e que não têm pejo em confessá-la aos gritos. Mas reparemos como no caminho de Cristo não há duas almas iguais. Grande também é a fé desta mulher; e, no entanto, não grita: aproxima-se sem que ninguém a note. Basta-lhe tocar de leve o manto de Jesus, porque tem a certeza de que será curada. E ainda mal tinha acabado de fazê-lo, quando Nosso Senhor se volta e a olha. Já sabe o que se passa no interior daquele coração; apercebeu-se da sua firme convicção: Tem confiança, filha, a tua fé te salvou.

Tocou com delicadeza a orla do manto, aproximou-se com fé, acreditou e soube que tinha sido curada . Assim também nós, se quisermos ser salvos, devemos tocar com fé o manto de Cristo. Estás bem persuadido de como há de ser a nossa fé? Humilde. Quem és tu, quem sou eu, para merecermos este chamado de Cristo? Quem somos nós para estarmos tão perto dEle? Tal como àquela pobre mulher no meio da multidão, o Senhor ofereceu-nos uma oportunidade. E não só para tocar uma ponta da sua túnica, ou, num breve momento, o extremo do seu manto, a orla. Temo-lo inteiro. Entrega-se totalmente a cada um de nós, com o seu Corpo, com o seu Sangue, com a sua Alma, com a sua Divindade. Comemo-lo todos os dias, falamos intimamente com Ele, como se fala com o pai, como se fala com o Amor. E isto é verdade. Não são imaginações.

Voltemos ao Santo Evangelho, e detenhamo-nos no episódio que São Mateus nos relata no capítulo vinte e um. Conta-nos que Jesus, quando regressava à cidade, teve fome e, vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela. Que alegria, Senhor, ver-te com fome, ver-te também sedento, junto ao poço de Sicar! Contemplo-te perfectus Deus, perfectus homo: verdadeiro Deus, mas também verdadeiro homem, com carne como a minha. Aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, para que eu nunca mais duvidasse de que Ele me compreende, de que me ama.

Teve fome. Sempre que nos cansemos - no trabalho, no estudo, na tarefa apostólica -, sempre que haja cerração no horizonte, então, os olhos em Cristo: em Jesus bom, em Jesus cansado, em Jesus faminto e sedento. Como te fazes compreender, Senhor! Como te fazes amar! Tu te mostras como nós, em tudo menos no pecado, para que saibamos palpavelmente que contigo podemos vencer as nossas más inclinações, as nossas culpas. Que importância têm o cansaço, a fome, a sede, as lágrimas!… Cristo cansou-se, passou fome, teve sede, chorou. O que importa é a luta - uma luta amável, porque o Senhor permanece sempre ao nosso lado - para cumprir a vontade do Pai que está nos céus.

O que é que muda então? O que muda é que na alma - porque nela entrou Cristo, tal como entrou na barca de Pedro - se abrem horizontes mais amplos, maior ambição de servir, e um desejo irreprimível de anunciar a todas as criaturas as magnalia Dei, as coisas maravilhosas que o Senhor faz, se o deixamos agir.

A este propósito, não posso silenciar que o trabalho, digamos, profissional dos sacerdotes é um ministério divino e público, que lhes absorve de modo exigente toda a atividade: a tal ponto que, de maneira geral, se um sacerdote se encontra com tempo de sobra para outros trabalhos que não sejam propriamente sacerdotais, pode ter a certeza de que não cumpre os deveres do seu ministério.

Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, eNatanael, que era de Caná da Galiléia,e os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos.Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe: Também nós vamos contigo. Partiram e entraram numa barca; e naquela noite nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus apresentou-se na praia.

Passa ao lado dos seus Apóstolos, junto dessas almas que se lhe entregaram. E eles não se dão conta disso. Quantas vezes está Cristo, não perto de nós, mas dentro de nós, e temos uma vida tão humana! Cristo está ao nosso lado, e não recebe um olhar de carinho, uma palavra de amor, uma obra de zelo por parte de seus filhos.

Como poderemos superar esses inconvenientes? Como conseguiremos fortalecer-nos naquela decisão, que começa a parecer-nos muito pesada? Inspirando-nos no modelo que nos mostra a Virgem Santíssima, nossa Mãe: uma rota muito ampla, que necessariamente passa por Jesus.

Para nos aproximarmos de Deus, temos de enveredar pelo caminho certo, que é a Humanidade Santíssima de Cristo. Por isso aconselho sempre a leitura de livros que narrem a Paixão do Senhor: são escritos cheios de sincera piedade, que nos trazem à mente o Filho de Deus, Homem como nós e Deus verdadeiro, que ama e que sofre na sua carne pela Redenção do mundo.

Consideremos a recitação do Santo Rosário, uma das devoções mais arraigadas entre os cristãos. A Igreja anima-nos a contemplar os mistérios: para que se grave na nossa cabeça e na nossa imaginação - com o gozo, a dor e a glória de Santa Maria - o exemplo assombroso do Senhor nos seus trinta anos de obscuridade, nos seus três anos de pregação, na sua paixão ignominiosa e na sua gloriosa Ressurreição.

Seguir Cristo: este é o segredo. Acompanhá-lo tão de perto que vivamos com Ele, como aqueles primeiros Doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos. Não demoraremos a afirmar, desde que não tenhamos levantado obstáculos à graça, que nos revestimos de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Senhor reflete-se na nossa conduta como num espelho. Se o espelho for como deve ser, reproduzirá o semblante amabilíssimo do nosso Salvador sem o desfigurar, sem caricaturas: e os outros terão a possibilidade de admirá-lo, de segui-lo.

Neste esforço de identificação com Cristo, costumo distinguir como que quatro degraus: procurá-lo, encontrá-lo, tratá-lo, amá-lo. Talvez vos sintais como que na primeira etapa. Procurai o Senhor com fome, procurai-o em vós mesmos com todas as forças. Se atuardes com este empenho, atrevo-me a garantir que já o tereis encontrado, e que tereis começado a tratá-lo e a amá-lo, e a ter a vossa conversação nos céus.

Rogo ao Senhor que nos decidamos a alimentar na alma a única ambição nobre, a única que vale a pena: caminhar ao lado de Jesus Cristo, como fizeram sua Mãe bendita e o santo Patriarca, com ânsia, com abnegação, sem descuidar nada. Participaremos da ventura da divina amizade - num recolhimento interior compatível com os nossos deveres profissionais e com os de cidadãos - e lhe agradeceremos a delicadeza e a clareza com que nos ensina a cumprir a Vontade do nosso Pai que habita nos céus.

Ao admirarmos e amarmos deveras a Humanidade Santíssima de Jesus, descobriremos uma a uma as suas Chagas. E nesses tempos de purificação passiva, penosos, fortes, de lágrimas doces e amargas que procuramos esconder, precisaremos meter-nos dentro de cada uma das Feridas Santíssimas: para nos purificarmos, para nos deliciarmos com o Sangue redentor, para nos fortalecermos. Faremos como as pombas que, no dizer da Escritura, se abrigam nas fendas das rochas durante a tempestade. Ocultamo-nos nesse refúgio para achar a intimidade de Cristo: e vemos que o seu modo de conversar é afável e o seu rosto formoso, porque só sabem que a sua voz é suave e grata aqueles que receberam a graça do Evangelho, que os faz dizer: Tu tens palavras de vida eterna.

Referências da Sagrada Escritura
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